Monday, 28 May 2007

Ireland...a ilhota verdinha.

Dia 23 de Maio de 2007

Amanhã são os anos do Ivo, e, uma vez na vida, enviei o que tinha a enviar com a devida antecedência, de modo a que não me preciso preocupar...chega a horas sim.

Está feita a minha última viagem significante antes de voltar à pátria...Acabei de despedir a Catarina, que volta amanhã de manhã para Portugal. Ela foi a minha companheira de viagem nestes dois dias na Irlanda.

Saímos pelas 5:30 da manhã aqui de Clifton, e por volta das 9:00 horas já estávamos em Dublin airport. O voo é muito curto, mas há que ressaltar que os aviões da Ryanair ao aterrar fazem um barulho verdadeiramente assustador, VROOOOOOOOUUUUM, parece que vão rebentar a qualquer instante, depois de os pneus se pulverizarem por completo, alias, como diz a Catarina, é a EXPL, só fica a faltar o OSÃO final.

Como somos meninas minimamente inteligentes já tínhamos descoberto, via net, qual o autocarro a tomar, era o 41, para o city centre. Como a inteligência se fica pelo mínimo, no entanto, acabámos por tomar o 41 para cú de judas...mas a determinada altura, antes de chegar a Belfast, lá notámos. Mais uma vez nos valeu o mínimo. (de inteligência). Uma vez apanhado o veículo certo, adormeci de alivio, deixando a minha camarada com a árdua tarefa de manter os olhinhos dela abertos para não falharmos a paragem, enquanto eu cabeceava e babava toda consolada.

A primeira descoberta que fizemos no país dos Leprechauns e dos trevos, é que os marcos do correio são verdes, em oposição aos característicos marcos vermelhos da ilhota monárquica; e que é caro como tudo. Ainda consegue ser “mais pior mau” que a Inglaterra, parece-me. Ou então foi de ver euros de novo, e já não estar habituada. Uma garrafa de água não se arranjava a menos de 2.20€, e o cúmulo foi mesmo a usura que sofremos no posto de turismo, onde por um mapa da cidade, impresso numa folha A4, pediam 1 euro! Que descaramento! E nem tinha monumentos nenhuns assinalados! Em Cornwall foi tudo de graça e com muito mais simpatia. Acho mal. Acabámos por comprar um mapinha um pouco mais sofisticado, que custou 2€, mas só por embirrância roubei o de 1€. Que é para não serem assim. Ainda apanhei um cagaço quando a senhora da caixa veio a correr atrás de nós aos gritos (consciência de criminosa), mas tratava-se simplesmente da minha garrafa de água cara, da qual me tinha esquecido.

Depressa descobrimos que Dublin não é uma cidade que prima pelos seus ex-libris inconfundíveis, tirando talvez a cerveja Guiness, cuja publicidade omnipresente realmente chega a ser poluição visual, e invasão do espaço óptico. Quase ficámos ocularmente bêbedas.

Seguimos então o nosso mapa, tentámos ver o máximo possível de atracções turísticas, sendo que uma que me interessava realmente nos escapou: queria ter ido ver a múmia extremamente bem conservada do “Bog man”, encontrada nos pantanais de turfa. Se fôr a que eu estou a pensar, usa umas botas caneleiras em estado admirável, que de resto dariam para pedir emprestadas e calçar na rua sem que ninguém achasse estranho, de tão boas que estão. Infelizmente o respectivo museu encerra às segundas-feiras. Privaram-me de me aculturar, e por arrastamento, de vos aculturar a vós!

Vimos portanto Trinity College, que é a universidade; Dublin Castle, que foi a sede do poder inglês na Irlanda (pequena reflexão à parte, se eu quisesse escrever “sede” - de beber - , do poder inglês, como o faria??? A acentuação tuga deixa a desejar...) por sete séculos, até à independência em 1923; e St.Patrick’s Cathedral, uma catredral que muito contribuiu para a vida e cultura irlandesas. Reza a lenda que St.Patrick teria baptizado recém-conversos num poço que fica num parque ao lado da catedral, tendo por isso existido uma igreja no local, desde pelo menos o século V. Os normandos construíram a primeira igreja de pedra em 1191, que foi reconstruída no século XIII, mantendo-se muito semelhante ao que vemos hoje.

Jonathan Swift foi lá dean desde 1713-45, supostamente enquanto não estava ocupado a congeminar “As viagens de Gulliver”, e foi também nesta igreja que o “Messias” de Händel foi pela primeira vez cantado para o público, na Irlanda, uma performance que reuniu os coros de St.Patrick’s e também de Christchurch Cathedral. Esta última é dos edifícios mais antigos de Dublin, e tendo sido fundada em 1038 por Vikings é a única catedral no todo de Inglaterra e Irlanda que tem fundamentos nórdicos.

No interior da catedral pode-se ver, entre outras outras coisas o túmulo de Strongbow, o líder dos normandos que capturaram Dublin em 1170.

Prestadas as honras à cultura secular entrámos então em algumas das abundantes lojinhas verdejantes de trevos e leprechauns, que armadilham as ruas, nas quais comprámos alguns postais e outras porcarias que ninguém precisa na realidade, e que se transformam em quinquilharias embaraçosas assim que se chega a casa, mas que na altura parecem maravilhosamente típicas. Abestive-me de comprar um chapéu verde monstruoso, e também não tenho um porta chaves a dizer Kiss My Ass em Gaelico – sou uma heroína!

Seguimos caminho à procura de uma exposição sobre Vikings que era suposto existir num determinado ponto do mapa, o que se revelou uma mentira fedorenta, pois o maldito papelucho apesar de ter custado dois euros nem por isso tinha sido actualizado desde os tempos de vida de Gutenberg, mais ou menos, tendo a exposição em causa fechado há cerca de 7(!!!) anos...mas felizmente tinha aberto uma nova, num sitio diferente, à qual nos dirigimos e decidimos entrar, apesar de custar 5€. É que já nos escasseavam coisas para fazer e de qualquer modo eu tenho um certo fascínio pelos Vikings, que o Filipe desconfia provir somente do facto de serem grandes e loiros (na volta é verdade), que não perdia nada em ser colorido com algumas informações históricas.

A exposição começava com uma parte sobre o passado medieval de Dublinia, de onde deriva Dublin, nome inglês e internacional, que no entanto não é o mais antigo, uma vez que o aglomerado de habitações inicial, que remota a tempos pré-históricos tinha o fantástico nome de Áth Cliath, que em irlandês moderno é Baile Átha Cliath...não admira que seja Dublin para os amigos estrangeiros. Dubhlinn queria dizer “Poça escura”, e quando os Vikings tomaram a cidade e a baía corromperam a palavra para Dyflinn, sendo este o nome que aparece nas sagas islandesas.

Achei bastante interessante a parte da exposição dedicada aos barcos Viking: a própria palavra Viking, (que geralmente se usa para descrever os povos nórdicos da mesma época histórica, provenientes da actual escandinávia), inicialmente queria dizer pirata, alguém que navegava para conseguir espojos, saíndo de uma baía (Vik) para atacar: um Vikingr.

Os barcos foram a chave para o successo e a rápida expansão destes guerreiros guedelhudos, conseguindo cobrir cerca de 190Kms em 24 horas. Geralmente não levavam mais de 32 remadores, e uma réplica de um barco Viking encontrado em Gokstad fez a travessia entre a Noruéga e a Terra Nova em 4 semanas. Nada mau...

Levo também um grave corte no arquétipo dos capacetes cornudos, que nada mais são senão um engano histórico, sendo usados por povos pré-vikings em certas cerimónias místicas, mas nunca por Vikings...e eu que já tinha os chifres de vaca para o próximo carnaval...

Acabámos o dia passeando por O’Connel Street, e a fazer umas comprinhas muito económicas, para podermos fazer o esparguete com molho de frasco da praxe, e mais umas coisas para fazermos as sanduiches que nos sustentaram ao longo dos dois dias. Atum e paté, para mim, atum com atum e atum e um bocadinho de milho para a Catarina...que enjoo.

No Shining Hostel, que fica em Marlborough Street, os computadores estavam avariados, não havia lençóis (deram nos capas de edredão, como substituto) e não sabiam o que eram panos de cozinha. Ah, e estava invadido de brasileiros que pareciam ser pagos por olhar de olhos esbugalhados para quem chegava, enquanto ateimavam uns com os outros que “a quarter of an hour” eram 25 minutos, possivelmente partindo do pressuposto errado que uma hora teria 100 minutos...Lá os elucidei (não, não me contive: Dicionáááário).De resto tudo bem.

Na manhã seguinte tomámos o pequeno-almoço lá, torradinhas com geleia e chá inglês pois era incluído no preço, e à pala disso quase perdemos o highlight da nossa viagem. Que choques de adrenalina que sofremos quando achávamos que só tínhamos 10 minutos para pagar, arrumar as coisas, e chegar à paragem do autocarro...ufa...o que vale é que um idiota tinha nos dado uma hora errada. Pudemos relaxar os nossos dedos suados e frios, que ainda apertavam a última torrada, pois apesar de toda a pressa, nunca a largáramos. Há que ter prioridades.

O highlight da nossa viagem foi a Wild Wicklow Tour, um passeio de autocarro pelos arredores montanhosos de Dublin, que primeiro nos pareceu caro, pois custa 25€, mas que na realidade nos mostra um pouco daquela Irlanda que temos no imaginário, com montanhas verdes, lagos e nebelinas. Como a Escócia, mas um pouco mais suave. The Emerald Island...

Partímos então, num autocarro com mais 28 pessoas e o condutor, Dave, que era ao mesmo tempo o guia, (isto quanto a: por favor não distraia o condutor...), um bombeiro reformado e interessado em história.

Saímos da cidade por uma estrada ao longo da costa, por onde seguiam também os carris do DART, - um comboiozinho que é muito bom para turistas, pois fornece imensa paisagem costeira, e é económico. Aconselho vivamente, já que a mim ninguém mo aconselhou e não pude usufruir dele. Passámos pelas áreas suburbanas mais finas, onde se situa a embaixada dos EUA, que parece um bolo de noiva, sendo que é isso mesmo que os Irlandeses lhe chamam, e entre outras ruas posh também a mais cara rua de Dublin, Threwsbury Road, onde uma casa foi vendida há pouco pela módica quantia de 52 milhões de euros, e a média por habitação é de 400 mil. É um bom sitio para uma escola como Blackrock School, onde andou o Bob Geldorf e o Primeiro ministro da Irlanda, e que custa qualquer coisa como 15.000€ por ano, se bem me lembro. Queixamo-nos nós das propinas. E a pensar que morrereu aqui um milhão de pessoas à fome há tão pouco tempo, em 1845...

Daí a estrada serpenteava ao longo de costa rochosa até Dun Laohaire (lê-se Dan Leory), onde pudemos apreciar os moderníssimos Catamarans que fazem a travessia entre Wales e a Irlanda em 90 minutos, a uma velocidade de 60 nós, o que, deixem-me mencionar, para os menos náuticamente cultos entre vós, é rápido comó caraças, passe a expressão.

Chegámos a Sandycove, onde fica a famosa Torre de Martello, que tendo sido costruida em 1804, como parte de uma série de fortalezas eregidas pelo exército britânico como protecção contra as invasões napoleónicas, foi imortalizada por James Joyce, que passou lá umas férias conturbadas, uma vez que tinha escrito criticas venenosas sobre uma quantidade de escritores e poetas contemporâneos, entre outros, o seu anfitrião na torre, Oliver St John Gogarty, que lá residia desde 1904. Possivelmente o Sr.Gogarty só concordou em deixar Joyce ficar, com medo daquilo que o jovem rebelde aceso de 22 anos pudesse ainda acrescentar de corrosivo àquilo que já tinha escrito...

Embora curta, e finalizada com tiros de espingarda, a sua estadia, em 1912, neste local inspirante, definitivamente influenciou Joyce, que usou a torre como cenário para partes do seu (hum, ilegível) romance Ulysses, livro que confesso nunca ter lido, embora seja o livro preferido de 3 em cada 4 “intelectuais”, seja lá esse bicho o que fôr, pois eu nunca conheci nenhum. E acho que me escangalhava a rir se alguém se auto-intitulasse “intelectual”, mais ridiculo que isso só filósofo. Bom, eu, sendo tudo menos intelectual, e bem pouco filosófica, lá me arrastei artavés de “The portrait of the artist as a young man”, que por acaso introduz Stephen Dedalus, que os mais corajosos reencontram em Ulysses, a barbear-se na dita torre, que hoje em dia alberga um James Joyce Museum. Poderia dizer vos mais qualquer coisa acerca disto, se fosse intelectual, ou pelo menos um bocadinho mais acordada, mas assim o panfleto que trouxe como background-information lamentávelmente está escrito em dinamarquês, tendo sido tirado da caixa errada, e de pouco me adianta.

Seguimos até Dalkey, uma vila conhecida por ser o local de eleição de ricos e famosos, tendo o seu castelo, Killiney Castle, sido transformado em hotel, e terrívelmente pintado de bordeaux...até se me contorceu o bom gosto. Passámos a casa de Bono, dos U2, e o palacete da ninfa cantadoira Enya, que mais tarde nos ululou aos ouvidos via rádio, numa exposição de nacionalismo sonoro, para depois tomarmos café numa espécie de feira de artesanato permanente chamada Avoca Handweavers. Aí não pude gastar 50 euros em cobertores e xailes de pura lã irlandesa, mas em compensação pude tirar fotos no jardim, que para além de ser muito bonito tem como atracção herbológica ou arbológica um cipreste enorme cujos ramos crescem para baixo, como os de um salgueiro, o que o faz especial, e muito analisado.

Daí é sempre a subir, por uma propriedade enorme – 22.000 acres - que pertenceu outrora a um tal Powerscourt, que tinha tantas pessoas a trabalhar para ele que teve que construir uma vila onde elas pudessem viver, a vila de Enniskerry. A propriedade foi comprada pela famíla Slazenger (raquetes e outra parafernália desportiva!!) que entretanto a doou ao governo da Irlanda, recentemente.

A estrada que subimos chama-se Military Road, pois no topo dela costumava situar-se um quartel inglês que foi transformado num Reconcilliation Centre, ou seja, um lugar onde pessoas conflituosas, mas com vontade de resolver os problemas se podem encontrar para o fazer. Já lá se encontraram por exemplo jovens católicos e protestantes, da Irlanda do Norte, e aparentemente a calma e beleza do sítio leva, geralmente a resultados bastante positivos, pelo menos numa escala individual.

Este paíszinho, que era do mais miserável que há, e cujas principais formas de subsistência sempre foram a agricultura e o turismo, assistindo-se por isso a um verdadeiro “Brain-drain”, isto é, a emigração massiva das pessoas mais educadas e cultas, conseguiu, na última década, ou pouco mais, reverter este processo e assumir-se como a segunda mais forte economia na Europa. Ainda em 1974, uma embaixada de Bruxelas, a mandado da U.E., denominou o país como uma “Third World Western Society”, uma sociedade de terceiro mundo no meio da Europa Ocidental, sendo-lhe por isso atribuidos massivos subsídios e ajudas financeiras, que contribuiram para resolver o problema, e transformar o país naquilo que hoje vemos. No entanto este fenómeno, ao qual se ficou a dever o nome que é dado hoje à Republica da Irlanda: “Celtic Tiger”, tem as suas raízes em grande parte numa astuta acção de redução da “Corporative Tax”, as taxas e impostos que as empresas estrangeiras, que se quisessem fixar no país, tinham que pagar, e que atraiu muitos investidores, tais como por exemplo industrias de ponta como a Siemens, e industrias cinematográficas, para as quais fica muito mais barato fazer as filmagens na Irlanda, do que por exemplo na Escócia. Aliás grandes partes do filme Braveheart foram filamadas num vale ali mesmo, pelo qual passámos. Com isto tudo, entre 1995-8 pode-se verificar que pela primeira vez na história do país a emigração estagnou.

A ideia da Irlanda pobrezinha coitadinha, pode, portanto, ser alterada, pois hoje em dia estamos perante um país que tem dos melhores sistemas de educação (gratuita!) e de saude da Europa, e virtualmente nenhum desemprego. Dito isto, nem por isso tudo são rosas: o custo de vida é muito elevado, o que obriga as pessoas a terem dois e três empregos, a contraírem empréstimos quase vitalícios para comprarem casa, e um subsidio de desemprego nunca é mais extenso do que seis semanas.

Em Glennkrie, onde fica o centro de reconciliação, fica também um pequeno cemitério alemão, que aliás é o único bocadinho de terra irlandesa sobre jurisdição alemã, para além da embaixada, e onde estão sepultados cerca de 100 pilotos alemães cujos aviões foram abatidos sobre este território, na segunda guerra mundial, quando voltavam das missões de bombardeamento das docas de Liverpool, local estratégico na indústria da inimiga Inglaterra.

Uns cinquenta metros mais à frente a paisagem muda completamente: Se nos deslocávamos por terreno montanhoso, cheio de árvores e relva, com pequenos riachos límpidos, agora chegamos ao ponto mais alto das montanhas, e a paisagem de natureza morta, sem árvores, varrida de nevoeiro. O sua principal característica é a turfa, que ainda hoje é cortada, e os pântanos acastanhados com mais de 5000 anos de idade, que cobrem com certeza muitos segredos obscuros. É a atmosfera certa para imaginar seres fantásticos como luzes de fada, que atraem os viajantes mais menos cautelosos, com uma luz quente que parece uma lanterna, só para depois os levar até às partes traiçoeiras do pântano, onde desaparecem para sempre, engolidos pelo nevoeiro, os seus gritos de socorro levados pelo vento uivante...Também pequenos duendes da turfa, castanhos e encarquilhados, com cabelinhos ralos e emaranhados como as raízes da urze...bichinhos do pântano, espinhosos, que se adaptam miméticamente ao tojo e que nadam como peixes pelas poças castanhas...

Passámos o Lough Brie (sim, os irlandeses também chmam isso aos lagos, mas escrevem de maneira distinta dos scots), um lago deixado por um glaciar que comia o seu caminho por esta paisagem há muitos anos atrás, mas que agora desapareceu, e pela nascente do rio Livy, do qual provém toda a água usada na produção da famosa cerveja Guiness - parece impossível, quando se vê a miserável lágrimazinha de água que ele é, ali na nascente. Entrávamos agora noutra grande propriedade, esta de 4000 acres, pertencente à família Guiness., onde dizem que até os riachos não são de água, mas desta cerveja, devido à sua cor acastanhada mas transparente, que provém da turfa, e da espuma branca que se forma quando embatem nos rochedos. Não provei, logo nem posso dizer que seja mentira. Lá que parecia, parecia. Mas se fosse mesmo com certeza estaria lá a SOAEG, sede oficial da associação de estudantes global. E não estava.

Parámos para ver uma paisagem absolutamente linda um pouco mais à frente, mais uma vez uma transformação drástica, pois agora encontravamo-nos num caminho montanhoso com florestas de coníferas do lado esquerdo, e vales paradisíacos do lado direito. Especialmente o vale de Lough Tay é das coisas mais fotogénicas que já me passaram pela frente, não é em vão que é o local mais filamdo da Irlanda....foram ali feitas grandes partes do filme “Excalibur”, e pudemos ver a árvore onde William Wallace, alias, Mel Gibson prendeu o cavalo, e o relvado onde ficava a vilazinha escocesa, no filme. De momento estavam a gravar uma versão cinematográfica de “Curiosity Shop”, do Dickens, e a minha mãe que não estava! Fã incondicional do Sr.Dickens, perdeu a oportunidade de rolar encosta abaixo em reverência, ou quem sabe fazer de figurante...

Roundwood era o próximo ponto de interesse, a vila que fica a maior altitude, em toda a Irlanda, para além de residência do meu estimado Pierce Brosnam, com o qual me tenho dado mais, nos últimos tempos, do que alguma vez imaginei possível...Mas deixem-me garantir que ainda não cheguei ao ponto de lhe cair nos braços gemendo Jaaaaaames, oh, Jaaaames! Vamos lá a ver essas suposições e familiaridades!

A seguir de Roundwood vem Annamoe, uma aldeia minúscula que nem igreja tem, mas em compensação tem Mia Farrow e Daniel Day-Lewis, o qual revi no outro dia no filme “In the name of the Father”, e que surpreendentemente já foi jovem e relativamente bem-parecido. A personagem de “o Talhante” em Gangs of New York é que veio arruinar tudo, ninguém pode partir a cara do Leonardo DiCaprio daquela maneira e conservar simpatias...

Finalmente chegámos a Glendalough, sendo que Glenn=vale + da=dois + lough=lago, logo Vale dos dois lagos onde por volta do ano de 570 viveu um monge eremita, que foi santificado, transformando-se em Saint Kevin. Por acaso eu só há cerca de um ano é que descobri que Kevin é um nome gaélico muito antigo, pensava que era daqueles nomes modernos, à pop star, como Keisha ou Mike...( e refiro-me a “Mike”, a abreviatura, como nome, e não a Michael, mais sei eu que este é bíblico!). Enfim, o dito eremita santificado viveu durante anos numa gruta, e em honra dele foi fundado um mosteiro, ou melhor uma verdadeira cidade monástica, no início do século VII. Nesta cidade, a dada altura viveram mais de 7000 pessoas, e preciso destacar que o sítio é no meio do nada! Visitámos a antiquíssima Saint Peter and Paul’s Cathedral, um cemitério cheio de cruzes gaelicas, uma das quais é a de Saint Peter, sobre a qual há uma lenda no que diz respeito à fecundidade feminina...reza a lenda que se uma mulher abraçar a cruz e conseguir juntar os dedos, irá ter tantos filhos quantos dedos conseguir juntar...e vocês sabem que eu atiro para o comprido...juntei todos os dedos, ou pelo menos os oito que não são polegares, enquanto a maior parte das meninas juntavam dois ou três...ou nenhum! Filipe, vêm aí gaiatos até dizer chega!

No centro do cemitério fica uma Torre com cerca de 300 pés de altura, uns 100 metros, que servia de marco orientador a caminhantes, antes de o senhor Marconi inventar algo que a “supérfluizou”, e também para vigia. Para minha desilusão não tinha nenhuma lenda romântica associada, nem uma Rapunzelzinha pequenina, nada.

Daí (meu Deus, isto é o efeito que a Camila tem sobre o meu português, ela é que diz sempre: E daíííííi fizemos isto...e daííííí eu achei muito caro....e daíííí ele não gostou...) fizemos um passeio deveras idílico entre os dois lagos do vale, um que fica mesmo ao pé do mosteiro, e o outro que fica a uns vinte minutos. Mais senhor-dos-anéis não podia ser, com uma floresta de árvores enormes, e um caminho que ora estava salpicado de manchas de luz e sombra que cáiam pela folhagem, ora estava de “sol líquido”, pois é verdade que na Irlanda se pode apanhar quatro estações do ano num dia, tivemos chuva, sol, vento, nevoeiro...mas a chuva foi piedosa, considerando que se costuma dizer que se der para ver as montanhas é porque vai chover, se não der é porque está a chover...

Almoço tardio, pelas 3 horas, foi num Pub tradicional, mas custava 11€, e afinal de contas ainda tinhamos sanduíches de paté e de atum (em sanduíches separadas, não pensem lá) que procedemos a dividir com uma gatinha preta que apareceu do nada. Sentadinhas ao sol que nem o rei da montanha, e ainda levei o descaramento ao ponto de ir encher a garrafa de água à casa de banho do pub.

Algumas horas mais tarde já estávamos a aterrar em Bristol, tendo usado o tempo de espera no aeroporto para escrever os postais que os mais bonzinhos de vós já receberam e que os mais mauzinhos não mereceram. Aos restantes, as minhas desculpas: Não tenho as vossas moradas, provávelmente. Avó, eu a si mandei-lhe outra coisa, que lhe comprei em Dublin!

Friday, 18 May 2007

Bolhas e futilidades

Dia 17 de Maio

Há uns dias atrás, quando acabei de ginasticar no gym, senti uma dorzinha no dedo do pé, e verifiquei, com grande espanto e desconforto, que o meu dedo do pé já não queria continuar a sua amizade comigo, relação que nutríamos há pelo menos 22 anos...Verdade, o safadinho queria mesmo o divórcio, a separação total, o adeus. Isto numa altura em que, (horrívelmente) já se tinha dado uma separação parcial, que se manifestava através de uma ferida purulenta e ascorosa, que ardia e linfava, se bem que pelo menos não havia sangue. Não me lembrava de ter magoado o pé em lado nenhum, e só o que me vinha à cabeça era a conversa que tinha tido há algum tempo atrás com a Elsa, sobre pé-de-atleta, pois eu sou um bocado descuidada nessas coisas, e nem sempre ponho o chinelinho para tomar banho...Agora tinha sido de vez! Ia ficar sem dedo do pé pequenino, o que apesar de ele ser um pouco deformado, e só ter metade do tamanho do segundo dedo, e alguns pêlos menos estéticos, seria mui triste. Jurei que depois de ele cair usaria sempre chinelos, em concordância com o velho ditado de “em casa assaltada, porta trancada”, ou lá o que é. Comprei imediatamente a pomadinha fungicida, como prenda de reconciliação, e numa tentativa desesperada de o fazer ficar, pois não me imagino viver sem ele. Apesar de ele nem sempre cheirar a rosas, deixar meias sujas por todo o lado, e ser um chantagista, ameaçando doer cada vez que ando o dia todo, ou quero usar sapatos pouco saudáveis. Tipicamente dedo! Um verdadeiro dedo latino.

Afinal acho que tudo não passou de uma tortura psicológica que ele me fez, pois está farto de Inglaterra, e quer voltar para as praias portuguesas, pois afinal curou tal e qual ferida normal...Ainda bem...hoje já voltei a tomar banho sem chinelos...

Ante-ontem fui ao UBU-shop (University of Bristol Union-shop), onde vendem todo aquele merchandising da Universidade, e comprei duas T-Shirts que dizem “Bristol University”, por uns económicos £4.99 cada uma! Agora posso verdadeiramente dizer que “Been there, done that, got the T-Shirt”, achei que nunca me tornaria foleirinha a esse ponto, mas enganei-me. Tal como aos catorze anos achava que nunca iria usar senão calças largas, ténis, e t-shirts pretas. Errare humanum est.

De resto também confesso mais um pecado: Comprei um pacote de ruccola. Isto porque a minha relação com este vegetal tem sido marcada por um desenvolvimento curioso, que começou por eu não saber o que era. Sou do Alentejo, porra. Não se come Ruccola no Alentejo! Temos poeijos, alface, agrião, hortelã da ribeira e sem ser da ribeira, carrasquinhas, catacuzes...mas ruccola?!

Primeira tentativa de aproximação: “Olha, parece espinafres... (sim, pois espinafres conheço eu)...e blerhk, sabe a chulé.”

Reencontro, ou Segunda segunda tentativa de aproximação: “Olha, é o vegetal que sabe a pés...ainda não gosto”

À terceira é de vez: “Se vierem duas folhas a enfeitar o prato, até marcham...”

Finalmente: “Fica tão bem na Pizza!”

Completa perda de princípios: “Vou comprar...que sabor requintado, que trago picante...”

Também tenho continuado a jogar badminton com a Claire, e estamos definitivamente a melhorar, e muito. Olhando para trás não sei como não nos suicidámos de frustração após a primeira hora, mas é a doce ignorância das nossas próprias limitações que nos faz agir assim. Investi foi numa raquete, pois alugar uma cada vez que jogo é muito pouco rentável, visto que custa £1.50 por cada vez, e consegui a raquete nova por £5.99, o que foi uma pechincha, pois inicialmente era £20, embora essa estratégia de marketing também esteja mais que batida, Custava 120---Agora 50!!! E lá vamos nós comprar, pelo simples facto de que não se pode deixar passar a oportunidade de “poupar” 70 dinheiros, por muito que desconfiemos que o preço original era mais para os lados dos 52... Disse agora dinheiros pois era assim que um dos meus maninhos dizia, quando recebíamos a mesada, eu recebia uma moeda de 200 paus (bom velho escudo...), e ele recebia três moedas de 20 paus e ficava todo contente, pois tinha “mais dinheiros” que eu.

Mas voltando ao badminton: o resultado do meu empenho é que fiquei com bolhas na mão, o que não me impediu de continuar a jogar dois dias mais tarde, pois se há coisa que não tolero é gene piegas, de modo a que fiquei com bolhas em cima das bolhas – acreditem, é possível – e amanhã tenho de inventar uma coisa qualquer para evitar bolhas em cima das bolhas das bolhas. Pensando bem, nem preciso inventar, alguém já o fez por mim. O invento chama-se adesivos. É curioso o facto de que nunca tive tão dorida como ando desde que comprei o sports pass...andava eu, muito pouco saudável, mas bem disposta, para agora passar a saudável em sofrimento. A justiça perdeu se pelo caminho, ou melhor, perdeu se de vez numa aula que eu e a Camila fizemos na segunda-feira, que se chama “Swiss Balls”, e passa (não por alguma coisa porca involvendo cidadãos suiços, não pensem) por fazer exercícios usando uma bola de borracha grande. Deve ser muito bom, pois elevou as minhas dores de rabo e pernas para outro patamar! Achava eu que sabia o que era andar dorida...hahaha...A Camila nem se mexia, parecia uma pessoa sobre andas, o que não se justifica, pois ela só deve ter feito metade dos exercícios, pois cada vez que o professor lhe dirigia o olhar, ela quase caía da bola baixo. Isto porque o professor parecia saído directamente da “Malhação”... Se ela estivesse aqui a ler isto estar-me-ia a arregalar os olhos, e a negar tudo, mas eu bem vi.

Hoje fomos jantar ao Nando’s, a Camila, a Gina, a Claire, a Catarina, o Sergi, a Christina, a Elvira, e eu. Estes últimos três são da aula de Advanced English, para a qual fiz hoje uma apresentação de business, sobre Corporate Social Responsability, e como esta afecta os IBO’s que fazem parte de uma companhia internacional como a Amway...Pronto, que é para não dizerem que não trabalho. E acho que tive bastante boa nota.

De resto, à minha alcunha de Boss acrescenta-se que me voltaram a chamar dicionário, coisa que insisto em ler como um elogio, pois é a melhor maneira de lidar com ela. Foi a propósito de a Elvira (que é polaca mas francófona) perguntar ao Sergi(que é de Andorra mas que tirou o curso de francês), em francês, como seria a melhor tradução para “Je vais passer la parola à ma collegue”, ao que o Sergi respondeu “Now my colleague is going to talk”, senti-me impelida a acrescentar algo mais sofisticado, como “I will now hand over the presentation to...” DICIONÁRIO.

Mas voltando ao Nando’s, que se se lembram, é o restaurante wannabe-português onde a Camila trabalha, é relativamente acessível, e a comida era realmente tal e qual a da churraqueira “Avenida”, mais conhecida como (à do)“Venâncio”, em Vila Nova da Baronia...frango assado com batatas fritas. O pastel de nata é que sabia a óleo...meus ricos pastéis de Belém, sinto tantas saudadinhas vossas...

Recebi também duas cartas, uma da Lena, com DOIS postais e uma prendinha (profunda satisfação) e uma do Filipe, com um postal e muito amor (profunda saudade e mimo). É fixe receber correio da pátria.

Dia 18 de Maio

Peço absolução, Senhor, pois pequei. Sim, outra vez.

Comprei uma revista de fraca qualidade, apesar de ter jurado nunca mais o fazer... mas custava só um pound!! E dizia na capa que o Brad Pitt e a Angelina Jolie se tinham separado! Uma pessoa não é de pedra, né?!

Fica o Brad Pitt disponível de volta, e não se toma acção? Seria impensável!

Verdade é que apesar de ele estar velhote, tadinho, depois de andar com a Angelina Jolie, nem o queria dourado e pendurado na árvore de natal, há coisas que são simplesmente devastadoras para o ego, e ser se a mulher após a Angelina Jolie deve ser um delas. Pena que quando eu visse o “Legends of the Fall” pela primeira vez tivesse apenas 13 anos, mas por outro lado, se tivesse sido a Mrs.Pitt teria perdido a chance de vir a ser Mrs.Rosa da Silva, o que seria desgraçoso.

Enfim, comprei, li, senti-me mal, bem, indiferente, e cheguei a uma conclusão sobre as revistas inglesas: ao contrário dos seus contrapontos portugueses, que só destroem a auto-estima, estas destroem e depois voltam a levantar. Porquê? Porque nos apresentam, sim senhora, as absolutamente fabulosas estrelas deste mundo nos tapetes vermelhos dos palácios de Hollywood, corpos torneados, músculos tonificados, cabelos perfeitos, sorrisos encandescentes, MAS, e aí diferem um pouco dos produtos da imprensa nacional, investem pelo menos 50% do seu esforço em arranjar fotos humilhantes destas mesmas estrelas, em situações do dia-a-dia, com close-ups embaraçosos.

É tão bom! Ver a celulite horrorrosa da Jennifer Lopez, a pança flácida da Britney, os joelhos rugosos da Melanie Griffith, a Fergie dos Black Eyed Peas a pular entre as ondas de Malibu com dois pneus lindos e umas mamocas que mantinham um affair distinto com o seu umbigo...E mesmo a senhora Jolie tem peladas na cabeça, onde as extensões se despegaram, está magra que nem um esqueleto, e calça para aí o 43!

HE HE HE.

Isto foi a minha conclusão filosófica do dia.

Mas quem é que tem paciência para pseudo-intelectuais, que só podem gostar de coisas com alta categoria, que nunca vêm um canal de televisão que não seja a odisseia, que se preocupam todo o dia com causas globais...Música independente e alternativa, ou clássica, filmes franceses e polacos, documentários sobre a segunda guerra mundial, o National Geographic, comida japonesa...tudo bem, mas ao fim do dia vejo os Friends, oiço Pop plástico, choro com a novela da SIC e sim, leio revistas mesmo quando não vou ao cabelereiro. E sim também já li Sartre, consigo enumerar os deuses gregos todos, e não acho que o Dalai Lama é um gelado.

Queimei os meus douradinhos enquanto me preocupava com as minhas ervilhas. Não sei se também vos acontece, mas tenho a consciência de que devo comer vegetais todos os dias, e tento fazê-lo, mas fico sempre com a impressão de que os vegetais que estou a comer não são os vegetais certos. Deve ser um caso de típico de “a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha”, pois os vegetais dos outros são sempre mais saudáveis. Hoje comi ervilhas e um dressing de iogurte com pepino, folhas de cebola e ervas aromáticas, e acho que cenouras e couves é que teria sido bom.

Ainda outra reflexão menos fútil: como é que há tantas pessoas que escolhem gostar de um animal, e de outro não? Já ouviram falar em racismo? Então os cãezinhos e os coelhinhos e os golfinhos são bonitos, e têm que se proteger, e as galinhas, ovelhas e sapos são feios e não interessa se vivem ou morrem? Que filosofia é essa? Como é que alguém pode dizer que detesta gatos, e isso não ser semelhante a dizer-se que se detesta portugueses? Conhece todos os gatos do mundo, para poder dizer que não gosta de nenhum?

Não percebo.

Várias pessoas que passaram a tarde comigo em Cambridge disseram que nunca teriam tentado salvar aquele pinto, e a Heike nem quis segurar nele durante dois segundos. E não é porque sejam pessoas excepcionalmente racionais, que estão a avaliar os prós e contras e a lei de Darwin, mas é porque não querem saber. Como é possível não quererem saber?

A mim, se me pusessem o homem mais lindo, mais inteligente, mais rico, mais charmoso do mundo à frente, e ele tivesse o azar de enxotar um pássaro à minha frente, estaríamos acabados. Muita coisa é tolerável, mas isso para mim não.

Sunday, 13 May 2007

Constipações e Cambridge

Dia 6 de Maio

Tenho sido portadora de uma saude de aço, felizmente, e orgulhosamente me mantive isenta de todas e quaisquer constipações que faziam dos meus co-moradores fantásmas pálidos e sofredores...Mas agora fui caçada.

Abanhei uma gonsdipasão daguelas gue nhem me bermite balar gomo deve ser, de dão endupida gue esdou....(mas vou vos poupar a parte fonética da desgraça, se me permitem a falta de realismo) Safada, e já com uns vários up-dates, lá me atacou as goelas, e as fussas também, já me tinha esquecido o quanto é bom acordar sem oxigénio, com uma plaina alegremente a aplainar a garganta a cada inspirar, e com o nariz atulhado se ranhoca em diversos estados de solidificação... Ai ai...e eu que tinha que ir a Londres!

Posso dizer com toda a sinceridade que espirrei em todos os lugares importantes de London city...fungando por Camden, rebentando em frente ao Big Ben, chuviscando Saint Paul´s e Westminster Abbey, ribombando séries de espirros sonoros no Millenium Bridge e no Globe Theatre, tremendo as fotos turísticas em frente ao Tower e à Tower Bridge, com a força espirrosa que me balançava...Até mudei de língua, de “Atchim”, para “Hua-Cheng”, enquanto em Chinatown, por questões de adaptação.

Cheguei ao fim do dia com uma dor preocupante num pé, que me impediu de ir ao Gym hoje, que de qualquer modo, como é feriado, talvez estivesse fechado, mas foi muito bom. Acho que para a Catarina, que ia lá pela primeira e última vez durante a sua estadia erasmus, foi bom...London in one day. Comprei mais um côco fresco, e desta ve consegui fazer eu própria um buraco redondo muito profissional nele. Senti-me própriamente rústica, hehe.

O Quin-Li deu me uns remédios chineses, pastilhas para a garganta e uns pacotinhos de pó para dissolver em água, dos quais desconfio muito pois não consigo ler nenhum dos simbolos ou caractéres que explicam o que é. Tomara que não seja lagarto pulverizado. Por causa do lagarto, não porque me meteria nojo, obviamente. Vou agora chupar uma pastilha e já vos elucido.

***

As pastilhas são de cereja, muito boas, nada a dizer, agora os pózinhos...castanho escuros, e a cheitarem a Marmite...não sei se todos conhecem, é uma pasta para barrar no pão ou usar na coinha, e o slogan é “You either love it or you hate it”, parece Nutella, mas nada mais enganoso, pois tem um sabor muito forte a...sei lá, Marmite.

Mas depois de dissolvido em água fica uma espécie de chá adocicado, com um tragozinho a feno.

Entretanto ainda fiz uma cura alternativa com salada de couve, que de acordo com uma teoria da minha mãe não só previne como cura as constipações, e facto é que já estou aí para as curvas.

Dia 12 de Maio

Hoje foi a viagem a Cambridge, que fica no traseiro de judas, é uma viagem de autocarro de quatro horas, e para quem já foi a Oxford nem por isso vale a pena, pois é muito parecido. Isto é caricato, pois as duas cidades nutrem uma rivalidade acesa, sendo que em Cambridge Oxford é só conhecido pelo eufemismo irónico de “o outro lugar”.

É uma cidade bonita, claro, mas vive à sombra da universidade, tudo gira à volta de edifícios, livros, trajes, residências, colleges, turismo académicos, parece que não há mais nada na vida. E os trajes de Cambridge são feios, com uma espécie de carapuço revestido a pele branca, que ainda por cima na maior parte dos casos era natural.

Deviam ir ver uns videos da PETA sobre as fábricas de pele na China, onde os animais vivem numa gaiola tamanho A4 toda a vida, e depois são esfolados vivos por pessoas sorridentes, após serem electrocutados via rectal para ficarem zonzos e não espernearem.

E são precisos umas 30 chinchillas para fazer um casaco.

Gostam dos vossos casaquinhos de pele?

Chegámos a Cambridge por volta das 11:30h, e começámos por um passeio pelo rio Cam, em barquinhos, e a fazer “poling”. Poling vem de “Pole”, uma estaca de metal comprida, com a qual o barco é empurrado, mais ou menos profissionalmente, ao longo do rio, que é bastante raso. Iam grupos de seis em cada barco, com uma pessoa a tratar de faer o barco avançar, um posto não isento de perigo, pois é preciso manter o equilíbrio em ciam de uma plataforma de madeira, que pode bem estar molhada e escorregadia, e o pole tem a tendência de ficar preso no lodo ou entre duas pedras e então se não se larga....ou se cai na aguinha imediatamente com salpicos e espectáculo, ou se fica agarrado ao pole, no meio do rio, tipo macaco agarrado a uma banana...lentamente fazendo um ângulo cada vez mais agudo, até à posição horizontal, que acaba, natural e inevitávelmente também no meio humido. No nosso barquinho foram a Camila e a Rafaela, a Heike, a Hannah, a Catarina e eu, adivinham quem se voluntariou para o posto de poler?

É mais difícil do que se imagina, pois não é só empurrar, a direcção também se quer assistida...e os caloiros do poling não fazem senão tristes zigue-zagues, entrecortados de voltas de 180º, airosas mas desnecessarias. Era bastante engraçado ouvir o pessoal que ia sentado guinchar de medo a cada solavanco inesperado...e eu? Ali de pé? Eu é que devia guinchar. Ou então a darem conselhos inúteis...O único que me ajudou foi um da Catarina, que me aconselhou “Steer left if you want to go right”..se algum dia tentarem, lembrem-se. No entanto quando ela tentou nem, por isso se saiu melhor.

A Camila ia sentada com um ar de lady do século XVIII, suspirando “Beauuuutiful...beauuuutiful....isn’t it loooooovely?”, enquanto eu ficava cada vez mais transpirada. Quando troquei com a Catarina lá percebi o que ela queria dizer, pois realmente o rio serpenteava entre relvados e salgueiros pendentes, por entre os colleges ancestrais, de uma forma muito pictoresca. Uma chuvada muito súbita e torrencial acabou por borrar um bocado a pintura do tal quadro pictoresco, mas que me estragou mesmo o dia foi encontrarmos um pintaínho de galinhola, a boiar quase afogado, sem mãe por perto, que obviamente tive de pescar e secar, mas que depois de me causar imensas preocupações, e recuperar bastante bem, acabou por morrer, pois recusava-se a comer, e como era fim-de-semana, não o consegui levar para a instituição adequada suficientemente depressa...Era tão pequenino e felpudo e feio...coitadinho.

Antes de começarmos o nosso passeio de barco eu ainda tinha dito que se houvesse alguém, entre as 40 pessoas que iam, que caísse à àgua, haveria de ser eu. Devia antes ter dito que se houvesse alguém entre as 40 pessoas que acabaria o dia com um pinto moribundo debaixo da camisola, que seria eu.

Olha, querem o quê?

A seguir tivemos uma hora livre para o almoço, e depois fizemos uma visita guiada, que no entanto foi tão semelhante à de Oxford que até tenho preguiça de descreve-la.O ponto alto foi quando a senhora que conduzia a visita teve um ataque de irritação na garganta, daqueles que é só umas picadas secas que trazem as lágrimas aos olhos, e que por mais que tussamos não há maneira de irem embora. Claro que isto não é engraçado em si, engraçado foi o facto de ela tentar determinadamente continuar a falar, e saía-lhe uma vozinha de rato tão terrivelmente hiariante que tive de me afastar uns passos, pois ia parecer mais que má educação estar me ali a descascar a rir da desgraça alheia.

De resto, mais alguma informação trivial: O edifício mais antigo de Cambridge é o St.Benedicts Tower, que é do tempo dos Saxões, antes da batalha de Hastings, e tem cerca de 1000 anos de idade, mantendo-se firme e sólido.

O mais antigo dos colleges de Cambridge é o Peterhouse, que foi fundado em 1284, por um tal Hugo Belchamp.

Trinity college, o maior college da cidade, fundado por Henrique VIII em 1546 produziu sujeitos tão ilustres quanto Isaac Newton, em honra do qual cresce uma macieira, importada da sua cidade natal, em frente à entrada principal; W.M.Thackeray; Lord Tennyson, e também Sacha Baron Cohen, mais conhecido como Borat ou Ali G...

São 80 os vencedores de prémios Nobel provenientes de Camebridge. Quantos terá Évora? ;))

Dia 13 de Maio

Hoje fui com a Claire a Cribbs Causeway, um centro comercial grande, a cerca 45 minutos de autocarro daqui de Hodgkin House. Precisavamos achar uns sapatos elegantes, para combinar com o tailleur dela, e uma camisa branca, pois ela tem uma entrevista importante amanhã, que decidirá se ela vai para o Japão já com trabalho, ou se vai como desempregada à procura de ocupação...espero que tenha sorte. Acho que pelo menos as referências e competências necessárias tem.

Os sapatos foram uma dor de cabeça, pois a menina embora pareça uma fada, tem joanetes terríveis, e nada serve. Para além do mais ela precisava de sapatos de salto, mas um salto comfortável, e só queria era sapatões com uma altura quase pornográfica, com os quais não conseguiria dar um passo sem se desequilibrar e cair para cima do seu potencial chefe, coisa que de certeza lhe valeria o emprego, mas que no entanto seria de miserável profissionalismo. Lá conseguimos um compromisso mais ou menos calçável, e uma camisa também, o cabelo é que não sabemos muito bem. Vamos daqui nada experimentar uns penteados, e se eu fôr bem sucedida isso implica a minha presença e dons de cabelereira pelas 5 da manhã de amanhã, tomara que a essa hora eu já consiga fazer algo de jeito. Ninguém vai empregar uma pessoa que parece que usa um Sunday em cima do cocoruto.

Tuesday, 1 May 2007

Góticos e Gyms...

Dia 1 de Maio

Dia lindo, lindo, com sol, calor, céu azul e todos os liláses em flor...a relva coberta de ingleses descascados, e afloresce-me à alma uma reflexão sobre o estilo gótico.

Isto porque não tenho nada melhor que fazer, pelos vistos.

Bom, o estilo gótico, esta coisa relativamente nova da nossa sociedade, mas bastante prolifica, especialmente por aqui, onde até há uma revista chamada “Gothic Beauty”...É multifacetado, como quase tudo, mas eu vou me debruçar sobre a sua manifestação mais óbvia, que são os góticos à primeira vista, ex-loirinhos desnaturados, de cabelo mal pintado de preto, vestidos de preto e cabedal, piercings, correntes, tatuagens a dizerem night e darkness...Isto porque neste como em qualquer estilo há os hardcore e os softcore, não sei bem quais são os hardcore-goths, mas a maior parte dos que vejo são fashion-goths, que ouvem Nightwish, Evanescense, HIM...teens mergulhados nas profundezas da agonia que é ter 15, 16 anos, e as hormonas aos pulos.

E o estilo é apelativo, confesso...é simples e obscuramente romantico mas profundamente desadaptado à realidade...Isto porque ninguém consegue ser gótico o tempo todo...O mundo felizmente não é um lugar de um filme a preto e branco, onde donzelas alvas em vestidos medievais mergulham em bandos de morcegos aveludados, boiam em charcos de águas negramente translúcida, entre flocos de neve cor de sangue...Não dá para ser sempre solene e melancólico, de cabelos negros chicoteados pelo vento de passagem, em companhia de um lobo e de um anjo negro de caracóis escuros e maçãs do rosto ossudas, de sorriso triste. Não funciona! Faz sol, tem se calor, quer-se um gelado cor-de-rosa. Os amigos contam uma piada, o rosto enrubesce e rimo-nos, temos uma avozinha, vamos à casa de banho, às piscinas, à praia...ou senão somos uns tristes, fechados como Romeu no seu quarto, criando uma noite artificial. E foi isso que vi hoje: góticozinhos vermelhos e suados, a arrastarem os casacos compridos de cabedal preto rua acima, as nucas tatuadas expostas ao sol, e perdendo toda a alvura doentia, o que os faz simplesmente parecer ridículos...peixinhos fora de água...

Proponho que se crie uma espécie de terrário para os pobrezinhos, uma área suburbana, com um quintal com floresta pegado, uma constante chuvinha grisalha, bem temática, e uns huskies abandonados para fazerem de lobos. Não apoiam?

Tema dois: O gym.

Análise do dia: três tipos diferentes de hordis feminis, os exemplares femininos que frequentam o local:

1) Não sou modelo, nem quero saber, hei-de estar em forma, e não quero saber se a minha T-Shirt era do meu pai quando este era obeso e derramava sopa sobre ele próprio, se as calças deixam ver 15cm de perna peluda, se o meu rabo de cavalo se desmancha em mechas suadas e oleosas e parece que fiz chi-chi nas calças...tou no gym, sim? Quem não gosta, que não olhe.

2) Fogo, esta barriga...mas agora que estou no gym, há de desaparecer...o top condiz com as calças, sim, e investi em dois ganchos para a franja...afinal não quero meter medo a ninguém enquanto me estafo...

3) Aiiiii...sem maquilhagem fico horrível...Mas em compensação consegui comprar uns calções iguais aos da paris Hilton no e-bay, e também tenho o cabelo como o dela. Um-dois-um-dois...aiiiiii tou rebentada...será que aquele moreninho está a olhar para o meu rabo?

Agora com o calor que está é preocupante quantos números 3 andam por lá...prefiro os números 1...

Eu obviamente pertenço à saudável meia medida, hehe.

De resto, vou escrever um essay sobre “The ongoing popularity of James Bond”, uma questão que me intriga há algum tempo...dar-vos-ei a conhecer hipotéticas conclusões geniais.