Friday, 18 May 2007

Bolhas e futilidades

Dia 17 de Maio

Há uns dias atrás, quando acabei de ginasticar no gym, senti uma dorzinha no dedo do pé, e verifiquei, com grande espanto e desconforto, que o meu dedo do pé já não queria continuar a sua amizade comigo, relação que nutríamos há pelo menos 22 anos...Verdade, o safadinho queria mesmo o divórcio, a separação total, o adeus. Isto numa altura em que, (horrívelmente) já se tinha dado uma separação parcial, que se manifestava através de uma ferida purulenta e ascorosa, que ardia e linfava, se bem que pelo menos não havia sangue. Não me lembrava de ter magoado o pé em lado nenhum, e só o que me vinha à cabeça era a conversa que tinha tido há algum tempo atrás com a Elsa, sobre pé-de-atleta, pois eu sou um bocado descuidada nessas coisas, e nem sempre ponho o chinelinho para tomar banho...Agora tinha sido de vez! Ia ficar sem dedo do pé pequenino, o que apesar de ele ser um pouco deformado, e só ter metade do tamanho do segundo dedo, e alguns pêlos menos estéticos, seria mui triste. Jurei que depois de ele cair usaria sempre chinelos, em concordância com o velho ditado de “em casa assaltada, porta trancada”, ou lá o que é. Comprei imediatamente a pomadinha fungicida, como prenda de reconciliação, e numa tentativa desesperada de o fazer ficar, pois não me imagino viver sem ele. Apesar de ele nem sempre cheirar a rosas, deixar meias sujas por todo o lado, e ser um chantagista, ameaçando doer cada vez que ando o dia todo, ou quero usar sapatos pouco saudáveis. Tipicamente dedo! Um verdadeiro dedo latino.

Afinal acho que tudo não passou de uma tortura psicológica que ele me fez, pois está farto de Inglaterra, e quer voltar para as praias portuguesas, pois afinal curou tal e qual ferida normal...Ainda bem...hoje já voltei a tomar banho sem chinelos...

Ante-ontem fui ao UBU-shop (University of Bristol Union-shop), onde vendem todo aquele merchandising da Universidade, e comprei duas T-Shirts que dizem “Bristol University”, por uns económicos £4.99 cada uma! Agora posso verdadeiramente dizer que “Been there, done that, got the T-Shirt”, achei que nunca me tornaria foleirinha a esse ponto, mas enganei-me. Tal como aos catorze anos achava que nunca iria usar senão calças largas, ténis, e t-shirts pretas. Errare humanum est.

De resto também confesso mais um pecado: Comprei um pacote de ruccola. Isto porque a minha relação com este vegetal tem sido marcada por um desenvolvimento curioso, que começou por eu não saber o que era. Sou do Alentejo, porra. Não se come Ruccola no Alentejo! Temos poeijos, alface, agrião, hortelã da ribeira e sem ser da ribeira, carrasquinhas, catacuzes...mas ruccola?!

Primeira tentativa de aproximação: “Olha, parece espinafres... (sim, pois espinafres conheço eu)...e blerhk, sabe a chulé.”

Reencontro, ou Segunda segunda tentativa de aproximação: “Olha, é o vegetal que sabe a pés...ainda não gosto”

À terceira é de vez: “Se vierem duas folhas a enfeitar o prato, até marcham...”

Finalmente: “Fica tão bem na Pizza!”

Completa perda de princípios: “Vou comprar...que sabor requintado, que trago picante...”

Também tenho continuado a jogar badminton com a Claire, e estamos definitivamente a melhorar, e muito. Olhando para trás não sei como não nos suicidámos de frustração após a primeira hora, mas é a doce ignorância das nossas próprias limitações que nos faz agir assim. Investi foi numa raquete, pois alugar uma cada vez que jogo é muito pouco rentável, visto que custa £1.50 por cada vez, e consegui a raquete nova por £5.99, o que foi uma pechincha, pois inicialmente era £20, embora essa estratégia de marketing também esteja mais que batida, Custava 120---Agora 50!!! E lá vamos nós comprar, pelo simples facto de que não se pode deixar passar a oportunidade de “poupar” 70 dinheiros, por muito que desconfiemos que o preço original era mais para os lados dos 52... Disse agora dinheiros pois era assim que um dos meus maninhos dizia, quando recebíamos a mesada, eu recebia uma moeda de 200 paus (bom velho escudo...), e ele recebia três moedas de 20 paus e ficava todo contente, pois tinha “mais dinheiros” que eu.

Mas voltando ao badminton: o resultado do meu empenho é que fiquei com bolhas na mão, o que não me impediu de continuar a jogar dois dias mais tarde, pois se há coisa que não tolero é gene piegas, de modo a que fiquei com bolhas em cima das bolhas – acreditem, é possível – e amanhã tenho de inventar uma coisa qualquer para evitar bolhas em cima das bolhas das bolhas. Pensando bem, nem preciso inventar, alguém já o fez por mim. O invento chama-se adesivos. É curioso o facto de que nunca tive tão dorida como ando desde que comprei o sports pass...andava eu, muito pouco saudável, mas bem disposta, para agora passar a saudável em sofrimento. A justiça perdeu se pelo caminho, ou melhor, perdeu se de vez numa aula que eu e a Camila fizemos na segunda-feira, que se chama “Swiss Balls”, e passa (não por alguma coisa porca involvendo cidadãos suiços, não pensem) por fazer exercícios usando uma bola de borracha grande. Deve ser muito bom, pois elevou as minhas dores de rabo e pernas para outro patamar! Achava eu que sabia o que era andar dorida...hahaha...A Camila nem se mexia, parecia uma pessoa sobre andas, o que não se justifica, pois ela só deve ter feito metade dos exercícios, pois cada vez que o professor lhe dirigia o olhar, ela quase caía da bola baixo. Isto porque o professor parecia saído directamente da “Malhação”... Se ela estivesse aqui a ler isto estar-me-ia a arregalar os olhos, e a negar tudo, mas eu bem vi.

Hoje fomos jantar ao Nando’s, a Camila, a Gina, a Claire, a Catarina, o Sergi, a Christina, a Elvira, e eu. Estes últimos três são da aula de Advanced English, para a qual fiz hoje uma apresentação de business, sobre Corporate Social Responsability, e como esta afecta os IBO’s que fazem parte de uma companhia internacional como a Amway...Pronto, que é para não dizerem que não trabalho. E acho que tive bastante boa nota.

De resto, à minha alcunha de Boss acrescenta-se que me voltaram a chamar dicionário, coisa que insisto em ler como um elogio, pois é a melhor maneira de lidar com ela. Foi a propósito de a Elvira (que é polaca mas francófona) perguntar ao Sergi(que é de Andorra mas que tirou o curso de francês), em francês, como seria a melhor tradução para “Je vais passer la parola à ma collegue”, ao que o Sergi respondeu “Now my colleague is going to talk”, senti-me impelida a acrescentar algo mais sofisticado, como “I will now hand over the presentation to...” DICIONÁRIO.

Mas voltando ao Nando’s, que se se lembram, é o restaurante wannabe-português onde a Camila trabalha, é relativamente acessível, e a comida era realmente tal e qual a da churraqueira “Avenida”, mais conhecida como (à do)“Venâncio”, em Vila Nova da Baronia...frango assado com batatas fritas. O pastel de nata é que sabia a óleo...meus ricos pastéis de Belém, sinto tantas saudadinhas vossas...

Recebi também duas cartas, uma da Lena, com DOIS postais e uma prendinha (profunda satisfação) e uma do Filipe, com um postal e muito amor (profunda saudade e mimo). É fixe receber correio da pátria.

Dia 18 de Maio

Peço absolução, Senhor, pois pequei. Sim, outra vez.

Comprei uma revista de fraca qualidade, apesar de ter jurado nunca mais o fazer... mas custava só um pound!! E dizia na capa que o Brad Pitt e a Angelina Jolie se tinham separado! Uma pessoa não é de pedra, né?!

Fica o Brad Pitt disponível de volta, e não se toma acção? Seria impensável!

Verdade é que apesar de ele estar velhote, tadinho, depois de andar com a Angelina Jolie, nem o queria dourado e pendurado na árvore de natal, há coisas que são simplesmente devastadoras para o ego, e ser se a mulher após a Angelina Jolie deve ser um delas. Pena que quando eu visse o “Legends of the Fall” pela primeira vez tivesse apenas 13 anos, mas por outro lado, se tivesse sido a Mrs.Pitt teria perdido a chance de vir a ser Mrs.Rosa da Silva, o que seria desgraçoso.

Enfim, comprei, li, senti-me mal, bem, indiferente, e cheguei a uma conclusão sobre as revistas inglesas: ao contrário dos seus contrapontos portugueses, que só destroem a auto-estima, estas destroem e depois voltam a levantar. Porquê? Porque nos apresentam, sim senhora, as absolutamente fabulosas estrelas deste mundo nos tapetes vermelhos dos palácios de Hollywood, corpos torneados, músculos tonificados, cabelos perfeitos, sorrisos encandescentes, MAS, e aí diferem um pouco dos produtos da imprensa nacional, investem pelo menos 50% do seu esforço em arranjar fotos humilhantes destas mesmas estrelas, em situações do dia-a-dia, com close-ups embaraçosos.

É tão bom! Ver a celulite horrorrosa da Jennifer Lopez, a pança flácida da Britney, os joelhos rugosos da Melanie Griffith, a Fergie dos Black Eyed Peas a pular entre as ondas de Malibu com dois pneus lindos e umas mamocas que mantinham um affair distinto com o seu umbigo...E mesmo a senhora Jolie tem peladas na cabeça, onde as extensões se despegaram, está magra que nem um esqueleto, e calça para aí o 43!

HE HE HE.

Isto foi a minha conclusão filosófica do dia.

Mas quem é que tem paciência para pseudo-intelectuais, que só podem gostar de coisas com alta categoria, que nunca vêm um canal de televisão que não seja a odisseia, que se preocupam todo o dia com causas globais...Música independente e alternativa, ou clássica, filmes franceses e polacos, documentários sobre a segunda guerra mundial, o National Geographic, comida japonesa...tudo bem, mas ao fim do dia vejo os Friends, oiço Pop plástico, choro com a novela da SIC e sim, leio revistas mesmo quando não vou ao cabelereiro. E sim também já li Sartre, consigo enumerar os deuses gregos todos, e não acho que o Dalai Lama é um gelado.

Queimei os meus douradinhos enquanto me preocupava com as minhas ervilhas. Não sei se também vos acontece, mas tenho a consciência de que devo comer vegetais todos os dias, e tento fazê-lo, mas fico sempre com a impressão de que os vegetais que estou a comer não são os vegetais certos. Deve ser um caso de típico de “a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha”, pois os vegetais dos outros são sempre mais saudáveis. Hoje comi ervilhas e um dressing de iogurte com pepino, folhas de cebola e ervas aromáticas, e acho que cenouras e couves é que teria sido bom.

Ainda outra reflexão menos fútil: como é que há tantas pessoas que escolhem gostar de um animal, e de outro não? Já ouviram falar em racismo? Então os cãezinhos e os coelhinhos e os golfinhos são bonitos, e têm que se proteger, e as galinhas, ovelhas e sapos são feios e não interessa se vivem ou morrem? Que filosofia é essa? Como é que alguém pode dizer que detesta gatos, e isso não ser semelhante a dizer-se que se detesta portugueses? Conhece todos os gatos do mundo, para poder dizer que não gosta de nenhum?

Não percebo.

Várias pessoas que passaram a tarde comigo em Cambridge disseram que nunca teriam tentado salvar aquele pinto, e a Heike nem quis segurar nele durante dois segundos. E não é porque sejam pessoas excepcionalmente racionais, que estão a avaliar os prós e contras e a lei de Darwin, mas é porque não querem saber. Como é possível não quererem saber?

A mim, se me pusessem o homem mais lindo, mais inteligente, mais rico, mais charmoso do mundo à frente, e ele tivesse o azar de enxotar um pássaro à minha frente, estaríamos acabados. Muita coisa é tolerável, mas isso para mim não.

4 comments:

Guilherme F said...

Bolhas no dedo? Isso não é nada... unhas encravadas, já sofreste disso? Doi muito, believe me... em especial quando és operada para supostamente não voltarem a encravar e passado uns meses puff. Ruccola, que coisa é essa? O nome não me é estranho e já deste a entender que é qualquer coisa vegetal, verde e comestivel, ver se arranjo por aqui nos alentejos pra provar. Tu com 14 anos devias dar-te bem comigo, eu ando sempre de calças largas, t-shirt preta e botas da tropa xD ahahah! A tua carta já está sendo escrita, amanhã acabo e segunda mando pelo correio, espero chegar ai a tempo. E isso dos bichinhos, mais depressa era capaz de matar uma pessoa do que um gato ou um cão ou uma ovelha... as únicas excepções são mesmo os sapos porque tenho fobia e os mosquitos porque os considero um erro evolucionário e como tal deviam desaparecer da face da terra. E pronto, já não sei o que dizer mais, vou dormir que já é 1 e tal da manhã aqui em terras lusas, not sure se as horas são iguais ai em terras anglo saxónicas ou não. Tu quando acabares com este blog podias fazer-me uma homenagem, acho que sou a única pessoa que te comenta assiduamente isto :P *

Luisa said...

Unhas encravadas...Deus me livre...
Ruccola é tipo folhinhas de alface pequenas!
Preciso apresentar-te o Elias, o nosso sapo de estimação lá no monte, ficas logo curado.
Mosquitos são extremamente necessários na cadeia alimentar, não digas disparates. Sem mosquitos é o caos global.
Ah, e toma lá:*homenagem make*...mas fica pois sabendo que tenho vários leitores assiduos que não têm blogger account!
E as horas aqui são as mesmas...2:06, e ainda estou à espera do fil...o amor tem destas coisas...

Guilherme F said...

Não faças isso, eu entro mesmo em pânico, fico petrificado, bué pálido e desmaio... Mete-me uma cobra, um urso, um lagarto, um tubarão, um dinossauro à frente, mas um sapo ou rã ou qualquer outra coisa dessas não por favor! E os mosquitos não vejo a utilidade deles na cadeia alimentar, as moscas até percebo, as abelhas sei que são essênciais, mas mosquitos? Esses vampiros em miniatura propagadores de doenças? Acho que até os sapos preferem uma suculenta mosquinha a um mosquito que já andou metido no sangue de outros animais. E a minha tonta chega hoje a noite e tá cá até quarta feira nhenhenhenhenhe ^^ :P

Carla Ferreira de Castro said...

Até quando é que dura essa vidinha de Bristol Jones? Por cá o trabalho é tanto que até me apetece roer as unha de inveja quando leio esses passeios todos! Well done Luisa!