Sunday, 11 March 2007

Jazz, Sport, Salisbury and Stonehenge!

Dia 7 de Março

Hoje conseguiram convencer-me a ir a um Jazz evening, organizado pelos “Friends of Hodgkin House”, mais um evento envolvendo idosos e igrejas, pois realizava-se em St.Mary Redcliffe Church, que alegadamente foi considerada pela Elisabeth I como “the fairest church in all of England”. E realmente era um edifício muito bonito, muito gótico e vertical, com uma torre do mais bicudo que há, e não nos pudemos queixar, uma vez que os friends pagaram as nossas entradas, bebidas e até bolinhos, ainda não descobri a razão pela qual nos tratam tão bem.

No momento que concordei em ir, tinha-me temporáriamente esquecido que não aprecio Jazz, aliás, qualquer música sem voz tem um efeito um pouco soporífero sobre mim, ao fim de alguns minutos, mas pensei que também não faria mal nehum ao meu gostinho perdidamente main-stream mudar um bocado de banda sonora. Sabem que eu secretamente gosto de ouvir Robbie Williams e até Shakira? Mas psiiiu, até fica mal a namorada de músico dizer isto.

Enfim, era um quinteto absolutamente ancestral, pelo menos três dos membros pareciam estar prontos para esticar o pernil assim que providenciados com uma razão mais ou menos legítima, mas esta aparência fragilizada revelou-se enganadora: Rouquejaram umas palavras roufenhas de boas vindas para dentro do microfone, e quando pegaram nos seus instrumentos é que foi!

Pareciam electrizados por uma força rejuvenescedora que sacudia as velhas carcaças com uma genica divina, os pés batiam um ritmo determinado, e todos os instrumentos o seguiam, independentemente de aparentarem ser de antes da primeira guerra mundial ou não.

Foi fantástico, o Trompetista inchava uma bochecha como se tivesse um triângulo de Toblerone lá dentro, inserindo todo o tipo de objectos dentro do tubo do trompete, (latas, garrafas, troncos de madeira,uma peça que parecia um desentupidor de sanitas - já era práticamente violação instrumental ), quando não tocava uma corneta inglesa; o baterista fazia brakes e paragens sem se atrever a saír do tempo estalado pelos dedos dos outros, o clarinetista saltava entre clarinete e saxofone, o pianista fazia jus à sua relativa juventude (aos 60 era a criança do ensemble) torturando o piano escala acima, escala abaixo, sem dó nem piedade, e o dono invisível do Contrabaixo enorme, escondido atrás do seu instrumento, dedilhava com uma determinação feroz.

Tocaram várias músicas, mas como eu não conhecia nada e percebia mal o idoso, que assim que largava o trompete para anunciar o programa, minguava e voltava a ficar mirrado e sem voz, só posso reproduzir os fragmentos que entendi: Dixieland...Baby I want you, please come home .....Don’t get around much anymore...Louis Armstrong: Swing that music...Miss Brown....Jerry Smithy: Bernies Tune...Julie London: Cry me a river...entre elas. E até uma chamada “Deep Purple”, mas que, e passo a citar “Has nothing to do with that terrible POP band...”

Eu gostei mais da “Cry me a river”, que acrescentou um sexto elemento à banda: uma simpática senhora com dois queixos, totós, e camisa abotoada até meio do segundo queixo (sinceramente, parecia a mãe da ugly betty), mais plain e simples era difícil, mas que cantava que era um mimo, muito lindo mesmo. Afinal quem precisa de divas decotadas em vestidos de veludo?

Sexta-feira, dia 9 de Março

Cometi uma loucura e comprei o Sports-pass, por uns terríveis GNURBLIGNURBLI pounds!

Até cheguei a casa em fraqueza, mas a Gina de imediato me fez sentir melhor, pois ela estava em fraqueza também, entornada por cima do sofá, a batalhar com a incrível realidade de uma conta de telemóvel de 70pounds...eis as verdadeiras despesas inúteis!

Tomei a decisão de o fazer após fazer as contas e chegar à conclusão que me fica mais caro ir jogar basquete a Easton todas as sextas, de autocarro, pois Deus me livre se eu voltava a andar a pé por aquela zona após anoitecer, e então mais me vale poder fazer tudo aqui na universidade, e voltar para Portugal com o abdominalzinho tipo caixa de ovos e um rabo capaz de partir nozes.

Comprei ao mesmo tempo que a Camila, a minha nova amiga brasileira, e assim puxamos uma pela outra. Ela é uma querida, com o seu sotaquezinho brasileiro, fomos ver as instalações e a piscina, e ela insistia que precisava de óculos, pois diz que “eu não abro meu olho dibaixo d’água, dói!”, ao que eu me fiquei a rir durante um bom bocado, de uma visão tipo ciclópe, com um olho só...

À noite eu e a Gina fomos a uma festinha de uns amigos do Imran, mas não ficámos muito tempo, pois era uma seca, saímos e fomos ter com o Lukas a um barzinho em Parkstreet, mas a música era abominável, e fomos antes para casa comer sandes de atum, e rir às gargalhadas a ver uma senhora sensual paquistanesa, precisam de ir ver isto ao Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=RR-usBlPC1w É absolutamente impagável!

Muito ao contrário do raio do Trainspotting, é preciso um tradutor para ler aquela porcaria, leiam lá em escocês de rua... deixem-me transcrever-vos um bocado: “The perr cunt behind the bar’s shitein hissel, no kennin whit tae dae. (...)Aw books n aw that fuckin shite ur fir is fir smart cunts tae show oaf aboot how much shite thuv fuckin read….” 344 páginas disto. Não é o máximo?

Sexta-feira, dia 10 de Março

Stonehenge and Salisbury...ou melhor vice versa!

Partimos às 9:30, chegando à Catedral de Salisbury às 11:30, onde nos esperava um guia voluntário, um senhor velhinho, cuja paixão era muito óbviamente aquela catedral, na qual trabalhava à 40 anos, e a sua arquitectura. Já por fora o edifício é enorme, ostentando a torre mais alta de todas as igrejas em Inglaterra, que foi acrescentada posteriormente à construcção do resto da nave (que começou a ser cosrtuída por volta de 1220), e que tem trazido alguns problemas pois aumenta significativamente o peso, de modo que os pilares no interior afundaram cerca de 15cm, e parecem quase vergar, vê-se uma curvatura nítida, para além de terem sido acrescentados arcos invertidos para impedira a estructura de rebentar pelas costuras, passe a expressão. Não inspira muita confiança, especialmente se acrescentarmos que basta levantar uma laje do chão para conseguir tocar na água, que fica a 50cm abaixo do chão do edifício, que foi construído por cima de o leito sedimentado do rio, com uns fundamentos ridículamente rasos. Parece que é o puro peso que mantém aquilo no sítio. Ostenta também os maiores claustros de Inglaterra, e por dentro ainda parece crescer em altura, com grandes vitrais e cheios de curiosidades, como por exemplo uma pedra com uma cova do tamanho de uma taça de cereais, feita pelo consecutivo bater cerimonial de cabeças de meninos de coro contra ela. É tipo praxe, quando entram no coro, vá de cabeçadas na pedra até chorarem...vá-se lá perceber. Outra curiosidade é o túmulo de William Longespeé, meio irmão bastardo de Richard I, que morrera “misteriosamente” após chegar, tipo Ulisses, de uma guerra em França, para encontrar a esposa rodeada de pretendentes, e em cujo crânio encontraram, centenas de anos após a sua morte, um rato morto por envenenamento(arsénico), comprovando-se assim o seu assassínio. Papou o cérebro errado, aquele ratinho, hum?

Também ainda vimos um dos 3,5 exemplares da Magna Carta (1215) que subsistem ao tempo, este documento que é um dos pilares da democracia moderna, e um passo importante para a lei constitucional como a conhecemos hoje, estabelecendo os direitos dos civis e limitando o poder do rei, sendo também a base de documentos como a constituição dos EUA e a Bill of Rights.

E então o grandioso Stonehenge...Que é um bocado como a Mona Lisa, uns ficam desiludidos porque é mais pequeno do que pensavam, outros ficam maravilhados porque acham enorme. Eu confesso que não sou muito espiritual, e o fantástico dia de sol com céu azul (verdade!) também não ajudou o misticismo tanto quanto umas brumas cinzentas teriam, mas certo é que algumas pessoas o sentiram, mas eu nem por isso. Fiquei entusiasmada, mas mais pelo tamanho gigantesco dos pedregulhos, do que pela aura arturiana, dá-me que pensar como os puseram de pé, mais do que me dá que pensar porquê. A minha mãe está convencida de que foi por telekinese.

A Heike, com quem já tinha ido a Cardiff, estava toda espiritual, dizia que o sítio definitivamente tinha algo...

Sou uma materialista aborrecida. Gostei muito da relva. Os ingleses e as sua relva. E chá.

Mas é definitivamente impressionante pensarmos que este sítio é um lugar ritual há cerca de 5000 anos, altura da qual remonta a primeira cova circular, tendo as pedras sido eregidas uns 1000 ou 1500 anos mais tarde. O que seria? Para quê?

Será que Merlin teve alguma coisa a ver com isso?

1 comment:

Guilherme F said...

Já recebi o teu postal e sinceramente concordo contigo, acho que se for praí já não volto! E não é pelo facto de ai ser abundante o pessoal da minha raça como dizes, é mesmo por não gostar de Portugal e de me roer de inveja cada vez que leio o teu blog e fico aqui a sonhar que tamem tou em concertos de jazz, a visitar igrejas góticas absolutamente lindas (acho que é a unica utilidade da religião, se bem que hoje em dia já nem pra isso servem...) ou a cereja no topo do bolo, Stonehenge! Btw, concordo com a tua mãe, já tinha ouvido essa versão da telekinesis e acho bastante plausivel. E pronto, vou estudar história que o amigo Valério promete um teste brevemente :P *

PS: thanks a lot pelo postal, já ali tá pendurado ^^