Sunday, 4 March 2007

Serão japonês e Cotswolds

Dia 28 de Fevereiro

Hoje foi o Japanese Evening, um serão muito interessante, onde tudo girava à volta do Japão. Eu no início nem sequer ia, mas acabei por decidir que não devia perder a oportunidade de aprender um bocado mais sobre essa cultura...

Fiz um penteado temático com dois pauzinhos de comer, que foi um sucesso, para além de me garantir que não teria de procurar talheres, para atacar a substância nutritiva, assim que ela aparecesse no meu ângulo de visão.

Comeu-se Sushi, mas uma versão soft, com atum enlatado e salmão fumado, de modo a que mesmo os caloiros do peixe cru nada tinham a temer, e não só o comemos, como também aprendemos a fazê-lo, enrolando arroz pegajoso especial, legumes, pickles e peixe numas folhas de alga preto-esverdeadas, com ajuda de uma esteirazinha de bambu, que se enrola à volta do sushi propriamente dito, para que fique bem redondinho.

Também havia uma sopa de miso com algas e tofu, e um cozido, e a sobremesa eram uns dumplingzinhos maçudos, rebolados em farinha de soja que sabia a amendoim.

Não houve nada que se comparasse com os horrores culinários que experiênciei no outro dia em Hodgkin House, quando estava um casal chinês a comer uma taça cheia de umas coisinhas acastanhadas, que despertaram a minha curiosidade, aproximei-me e ofereceram-me imediatamente uma....pata de galinha! Com todo aquele aspecto de calo encarquilhado, (visão pertubadora: pé de sem-abrigo após duas horas de banho), rebentavam entre os dentinhos ávidos dos comentes revelando um interior gelatinoso, do qual só sobravam uns ossinhos...O meu horizonte restricto não me permitiu deliciar-me com tal iguria.

Fez-se imenso Origami, só se via era pessoas frustradas debruçadas sobre bocadinhos de papel amarrotados, a pingarem suor internacional, e a pedirem ajuda às meninas da associação japonesa. É mais difícil do que parece, e fiquei muito orgulhosa da minha pequena garça cor-de-rosa, que agora vive no meu pin-board, e que me custou muita língua entre os dentes e várias dezenas de rebuçadinhos japoneses, azuis e brancos, em forma de bolinhas verrugosas.

Também experimentei um kimono, e aprendi que não há acentuação na língua japonesa, todas as sílabas têm valor igual.

Em suma, um Arigato muito grande aos organizadores, foi muito giro.

Dia 1 de Março

Eu e a Catarina tinhamos decidido ir ver a palestra do Elvyn do BISC, sobre a escravatura e Bristol, por ocasião do bicentenário do acto de abolição, que se comemora agora em Março, mas foi um fracasso. Era no rabiosque do besugo, por assim dizer, e demorámos imenso tempo a chegar lá. Quando finalmente chegámos, com um grande atraso, ninguém nunca tinha ouvido falar de uma sala de conferências chamada Waddelow Hall, nem um taxista...Finalmente, já passavam 25 minutos do início da coisa, irritei-me, e enfiei-me por um estabelecimento eclesiástico a dentro, com as palavras “São da igreja, têm obrigação de praticar o amor ao próximo, e ajudar-nos!”...Subiamos as escadas com determinação, quando a Catarina de repente descobre a pedra filosofal: “Bem, de acordo com a tua teoria da igreja por detrás de tudo, na volta é aqui!”...

Haverá necessidade de dizer mais?

“Waddelow Hall”...pfffffffff....associação da nova igreja de Deus, é o que é.

Apanhámos um restinho da palestra, mas nada de memorável, e por causa disto tudo cheguei atrasada à minha aula!

Falei mais tarde com o Elvyn, e ele confessou que não tinha estado nada à vontade, pois na primeira fila estava um perito na matéria, que ainda por cima era descendente de uma das famílias riquíssimas cuja fortuna provém toda deste negócio sujo, e que ainda hoje defende que perderam muito dinheiro, e que as coisas não eram como são hoje, e só faltou dizer que até fazia sentido ter escravos...

Dia 2 de Março

Sandochas no BISC, após duas horas de Contemporary British Cinema, afinal vou fazer uma apresentação sobre “Trainspotting”: o livro e “Trainspotting”: o filme, numa abordagem de literature on screen, e para isso já comecei a ler o livro que infelizmente está escrito em sotaque escocês, de modo a que tenho, por vezes, que fazer uma leitura fonética, para ver se chego lá...E só tenho duas semanas, pois o resto do pessoal escapuliu-se todo, e com desculpas esfarrapadas conseguiram todos só apresentar depois das férias da Páscoa...E sobra a parvalhona de serviço, para iniciar a festa, vulgarmente conhecida por Luisa.

Esta temática, vinda no encalço do outro livro que acabei agora de ler, “A Million Little Pieces”, torna-se um bocado mórbida, especialmente considerando que nunca sequer toquei em drogas de qualquer tipo, chiça, nem bebo café, logo não preciso de exemplos dissuasivos.

Passei a tarde com a Judith, pois tinhamos combinado ir jogar basquete, mas a partir da semana que vem vou passar a ir de autocarro, pois o pavilhão desportivo fica a uma boa hora a pé da Universidade, numa parte um bocado chungosa da cidade, e sendo que jogamos entre as 18:30 e as 20:30, está noite cerrada.

Foi muito bom voltar a jogar, já desde o 12º que não pegava numa bola, e tinha me quase esquecido o quão entusiasmante pode ser. São equipas mistas, 7 rapazes e cinco raparigas, e a melhor é sem dúvida a Christina de Nova Yorque, deve lhe estar no sangue.

Produzi muitas endomorfinas, e cheguei a casa rebentada e encharcada que nem um pinto, pois começou a chover bastante, e ainda continuo sem possuir um guarda-chuva...Uma coisa garanto: se fizer os seis meses de Inglaterra sem guarda-chuva, nunca mais compro nenhum!

O que custou foi depois na manhã seguinte, rebolar da cama às 7:30, ao Sábado!, moída e amarrotada, nem conseguia pôr um pé à frente do outro, e rastejar parecia uma opção razoável para apanhar o autocarro para os Costwolds, às 9 da matina. E ainda dizem que o desporto é saudável...

Dia 3 de Março

Por detrás do nome estranho de “Cotswolds”, esconde-se uma realidade simples, se bem que encantadora, “Cots” eram os abrigos de pedra, para as ovelhas, e “Wolds” são montes suaves... Isso toca logo em dois pontos característicos: A topografia do local, que é ondulado, para além de verdejante, pitoresco e muito típico das descrições campestres inglesas; salpicado de muros de pedras empilhadas sem uso de cimento, e as ovelhinhas, que produzindo excelente lã, foram o factor primário de prosperidade desta área, na idade média.

São, de resto, diferentes das ovelhas portuguesas, tendo uma lã muito mais comprida, que parece mais cabelo, mas daquele que traria pesadelos a qualquer mulher, e milhões à industria de produtos para o cabelo, da qual já tantas de nós são vítimas, incluindo aqui a yours truly. É triste dizê-lo, mas vou a correr comprar tudo o que a TV anuncia, na esperança de milagres sedosos, balançantes, esvoaçantes, brilhantes, desiludindo-me sempre. Devo ter uma inteligência muito básica, pois está provado que até ratazanas e porcos aprendem pelo método de erro e consequência...Não cintila nem ondula, atirando raios ofuscantes, nem nunca vai: mentaliza-te!

“The Cotswolds” é portanto o nome de uma região, como “Alentejo”, e abrangem vários destritos, alguns dos quais fantásticos de pronunciar: Oxfordshire, Gloucestershire, Wiltshire, Somerset, Warwickshire, e Worcestershire. Glóstacha, Uíltcha e Uústacha...

Começámos a nossa visita pela Villa romana de Chedworth, decoberta em 1864, que é dos melhores testemunhos da presença romana na Inglaterra, mas que a comparar com coisas que temos em Portugal, não é assim tão impressionante...

Impressionante é aquilo que dá para descobrir acerca do modo de vida dos romanos, a partir dos bocadinhos arqueológicos que nos sobram, como por exemplo o facto de terem aquecimento central, ou mais correctamente, um hypocausto, (hypo=por baixo, kaiein=arder, fogo), que funcionava fazendo o ar quente de uma fornalha circular debaixo do chão, numa espécie de cave. Isto para além de termas com banhos turcos e sauna e um sistema de esgotos e sanitas...É triste pensar que se a evolução humana tivesse dependido de mim, ainda estaríamos acocorados em caves, a roer ossos de coelho, se os conseguíssemos apanhar. É que eu nem teria inventado o sabão, quanto mais um sistema de aquecimento central ou uma nora...nem um pauzinho com uma esponja na ponta, para limpar o rabiosque após ir à casa de banho, que é o que se usava.

Ainda gostei muito dos mosáicos, surpreendentemente bem conservados, dos quais tirei algumas fotos.

Seguimos um bocado a pé, depois de autocarro, pois íamos ainda ver duas vilazinhas típicas, Bourton-on-the-water e Broadway. A caminho para lá podemos apreciar a vista fantástica, já salpicada de características primaveris, como as cerejeiras e ameixeiras em flor, os narcisos, os crocos, a relva verdinha (lá relva têm eles, os britânicos), e imensos faisões.

Fiquei toda entusiasmada, pois nunca tinha visto nenhuns no seu habitat natural, e aprendi também que apesar de lindos e coloridos, têm um grito muito pouco melódico quando leventam voo, soam como as inglesas bêbedas, quando torcem o pé a caminho de casa, debaixo da minha janela: fuuuuackkrrrchh. Também vi pelo menos 12 coelhos a saltitarem por um prado, sem muita pressa, seguidos por uma raposona enorme, também sem muita pressa, possívelmente porque já estava enjoada de coelho. Fascinante. Tomara que tomem juizo aí em Portugal e finalmente acabem com a porcaria da caça, pois eu gostaria de apreciar tais vistas também no meu país.

Bourton-on-the-Water, como o nome diz, tem lá Water, pois é atravessada por um riacho o que lhe valeu também a alcunha de “Veneza dos Cotswolds”. É uma vila muito linda, tão perfeitinha, limpinha, organizadinha, preservadinha e romanticazinha que parece saída directamente da tampa de uma caixa de bolachinhas muito docinhas e requintadinhas...piriri, piriri.

Comi lá um muito pouco romântico, se bem que muito característico Fish and Chips, do qual gostei bastante, embora tivesse imaginado o peixe tipo douradinhos. Afinal tratava-se de um filete de bacalhão médio, triplicado em tamanho através da aplicação generosa de uma crosta rugosa o qual tratei de desfazer com um minúsculo garfinho de madeira, numa batalha desigual, que terminou com a derrota do filete, não antes de este, com as suas últimas forças, lançar um ataque gorduroso e eficaz contra as minhas calças. Mas olha, a Maria lava. O pior é que me gamaram o meu detergente, larápios desavergonhados.

Andei quase o tempo todo com a Insa, uma rapariga alemã que se recusou todo o dia a falar alemão comigo, até eu chegar ao ponte de desconfiar que ela se tinha esquecido de como se falava, mas também com a Paige, uma rapariga da Zâmbia e outras duas dos EUA, a Lindsey e a Sarah, até tirámos umas fotos muito engraçadas debaixo de uma árvore em forma de cogumelo, após eu propôr que dançassemos à volta do tronco. Não me admira nada que eu proponha este tipo de coisas, o que me admira sempre de novo é o facto de as pessoas realmente fazerem o que eu digo...

O indispensável chá foi tomado em Broadway, num pub chamado “Horse and Hounds”com scones, creme e geleia e muito chá com leite.

A vilazinha em si, nada tem em comum com o seu homónimo Nova Yorquino, não havendo lá nem um anúncio néon, e nenhuma casa com mais de dois andares, mas em contrapartida muitas casinhas rústicas, feitas de limestone amarelo, uma espécie de pedra calcária sedentária, cheia de fósseis, e com telhados de colmo ou de xisto, que admirávelmente aparentam ser à prova de água.

Para fazer as telhas, o xisto é moldado em forma de rectângulos que aumentam em tamanho do topo do telhado para o beiral, e cujo peso total é enorme, o que representava um grande perigo em caso de incêndio, pois ao mínimo desequilíbrio tudo vinha abaixo limpando o sebo às pessoas que ainda não tinham morrido devido aos efeitos do fumo, e até tinham o descaramento de tentar escapar.


Dia 4 de Março

Dormi que nem um caracol a hibernar, e quando me leventei fui com a catarina comer uma pizza e gastar algum dinheiro, pois sentia-me demasiado rica.

Também tinha de comprar uma prenda para o Winston, que faz um aninho no dia 10 de março, não porque ache que ele percebe alguma coisa de aniversários, não estou choné a esse ponto, mas sim porque sei que ele percebe muito de guloseimas, e gosta, e faz-me feliz a mim mandar-lhe uma prenda. Comprei uma gkgktjtoghjh, que já precisavamos há algum tempo, um ghrkieuen, e uns coisinhos de comer. É surpresa. It’s my little thing, deixem-me!

Ainda para mais quando ele participou hoje na sua primeira prova de Gameness e ficou em 10ºlugar de 37 cães, nem tendo ainda um ano, e tendo tido quase nenhum treino para duas das provas (salto em comprimento e paliçada). *baba*

1 comment:

Guilherme F said...

Ficas cutxi de kimono, e comida japonesa deve ser bem boa. Como raio é que tu não jogavas basket desde o 12º ano com um irmão daqueles em casa? Incrivel.. mas deixa lá que deves jogar melhor que eu, eu não tenho jeito absolutamente nenhum para coisas com bolas (tirando bolas de berlim, isso já gosto). E parabens ao teu cachorrinho, a Furry Thing tamem tá quase a fazer 2 aninhos ^^