Monday, 23 April 2007

Cornwall..dias de sol e mar!

Terça-feira, dia 17, lá parti para mais uma viagemzinha aqui pela ilhota, desta vez para Cornwall. A Heike tinha planeado tudinho, foi só pagar e ir...Quatro horas de comboio, pela paisagem verdejante inglesa, que pouco a pouco se ia alterando para um cenário mais costeiro, com menos árvores, e mais rochas e mar azul...depois de mudarmos de comboio em Exeter, e tentarmos dormir mais um pouco, experimentando novas e alternativas posições, como por exemplo debruçadas para a frente, com a cabeça em cima do saco das sandes, ou de pescoço em U e o maxilar a descair pouco esteticamente. E eu que tenho um pescoço comprido...dá para curvar bem, mas depois tem mais centímetros doridos que o de outras pessoas. Não cheguei a mostrar o meu bilhete, pois quando o pica passou eu estava ocupada com o irmãozinho da morte (chôno) e apesar das tentativas débeis da heike, não me incomodei. Ela tentou acordar-me abanando-me um pouco, tadinha, mal sabe ela da qualidade do meu sono, da qual me orgulho...acho que até me poderia ter lambido a orelha que eu não acordava, pois estou habituada a dormir pouco higienicamente com cão. Nariz frio na cova do pescoço é que é remédio santo, mandá-la-ia logo para o sofá. Bem, lá chegámos a Penzance, a nossa base de exploração de Cornwall – pois recuso-me a dizer Cornualha, coisa horrível – onde saímos mesmo em frente ao gabinete de turismo, podendo nos então abastecer de todo o tipo de panfletos, folhetos e prospectos, que passamos a carregar para o nosso Backpackers Hostel, o “Blue Dolphin”, que fica a uns 12 minutos da estação e é muito recomendável. É uma casa residencial, que foi alterada para pousada, com cozinha, quartos limpos e ambiente familir. Dormimos num quarto só para meninas, mais uma senhora australiana, a Pauline.

Libertadas do peso e da responsabilidade que as malas acarretavam, decidimos explorar o Saint Michael’s Mount, na baía de Marazion. Este Mount é uma semi-ilha (eu sei que existe a palavra peninsula, vivo numa, mas não serve para aqui), pois quando a maré está alta é preciso apanhar um barquinho, por 3£ ida+volta, enquanto quando a maré está baixa, se chega lá a pé. Obviamente nós tivemos que apanhar a maré alta para lá e para cá, pois estamos a tentar poupar dinheiro, e o universo não pode facilitar, desembolsámos os 3£, a uns 50metros da terra firme (embora a Heike murmurasse qualquer coisa sobre nunca se dever pagar ao barqueiro ntes de se chegar ao outro lado do rio), e tivemos a alegria de uma simpática viagemzinha de barco, até ao cais do Saint Michael’s Mount, que se erguia à nossa frente, comportado semelhanças notórias com a “Ilha Negra”, um dos livros de Hergé. Para os menos cultos no universo da BD de qualidade, o papá do Timtim.

No início do caminho, que serpenteava monte acima até ao castelo, colocado aristocráticamente sobre o topo da montanha, encontrava-se um servente do universo, encarregado de nos despojar de mais uma quantia de massa, cortando ainda mais fundo nos nossos módicos recursos. Pagámos, calámos e subimos. Escadas de pedra antiga e moldada por séculos de pés cansados em ascensão, e pés ligeiros em “descensão”, rodeadas de plantas pouco inglesas, como camélias, agaves e árvores-de-dragão, explorando então o castelo, que, como viemos a descobrir inicialmente era um mosteiro, construido no local após uma visão milagrosa de Saint Michael, flutuando etéreamente sobre os topos das árvores, com um cartão preso na lapela, que o identificava como tal, suponho. Com a secularização das propriedades eclesiásticas debaixo de Henrique VIII o mosteiro foi transformado em Castelo/fortaleza, e mais tarde em casa senhorial. Visitámos tudo, algumas coisas ainda testemunhavam de um passado monástico, outras eram mais recentes, a vista, linda e eterna, era absolutamente invejável, e aparentemente ainda vive lá uma família, chamada St.Aubyn. Hasteada no exterior do edifício, e chicoteada pelo vento fresco que se fazia sentir, agitava-se a bandeira da Escócia, curiosamente. Azul escura, com a cruz branca, pareceu-nos a nós. Perguntámos, ao que a senhora da bilheteira nos ia deglutindo com uns olhos muito esbugalhados e escandalizados, pois tratava-se da bandeira de Cornwall, que é preta. Palavra de honra que contra o céu azul parecia azul escura...Regionalistas do caraças, levam tudo a peito.

De volta a terra firme verificámos que a rocha a partir da qual tinhamos apanhado o barquinho agora se encontrava completamente submersa, e como os nossos estômagos não têm muita estamina turistica, e requerem comida pelo menos duas vezes ao dia, procurámos a estação dos autocarros. Tinham nos dito que era em frente do hotel, as não se via sinalização nenhuma...as nossas dúvidas dispersaram-se quando o autocarro para Penzance dobrou a esquina ao fundo da rua, e voltaram a entrar em força quando apesar de pularmos e agitarmos os braços passou por nós sem parar, com um Vroooouuuum que parecia pingar chacota. Olhámos uma para a outra perplexas, discutindo a vantagem de usar mini-saias para fazer parar autocarros, quando uma senhora nos elucidou de que estavamos a 5m da paragem DESENHADA NO CHÃO, e que nunca parariam se não estivéssemos em cima dela, nem que fossemos a Angelina Jolie em top less. (Não utilizou exactamente estas palavras, a senhora, obviamente). Dirigimo-nos ao sítio certo, no centro das quatro linhas amarelas, e aí ficámos a apanhar brisa marinha e sombra durante 50 minutos. E não dá para imaginar o frio que faz assim que o sol desaparece atrás de qualquer coisa! A Heike aproveitou para ter um acesso de sentimentos primaveris, e abriu a bolsa da frente da mala, deixando que a anteriormente mencionada brisa semeasse todos os papelinhos importantes e menos importantes pelas quatro direcções da rosa dos ventos, mas especialmente para o lado do mar, onde, com somzinhos alegres de enxovalho, se precipitaram falésia abaixo, desaparecendo. Tudo isto debaixo do nosso olhar perplexo, pois somos senhoras, e como tal somos lentas e ponderadas. Se estivesse lá o Filipe ter-se ia subdividido em seis, apanhando todos os items antes que eles tivessem tempo de dizer chh-chhh. Mas não estava. Nem quero saber as coisas que lá iam e que ela ainda não deu como perdidas...!

Fi-nal-men-te lá apareceu um mini-autocarro, que - halelúia – parou. Enfiámos os nossos bilhetes (que felizmente se encontravam entre a papelada que sobrevivera a crise da Heike) na cara do rapaz que conduzia o abençoado veículo, quando, já de pézinho alçado, e mentalmente preparadas para irmos de cuzinhos tremidos até Penzance, o rapaz nos diz: Eh, desculpem, mas estes bilhetes só dão para os autocarros da First!

Escapou-me um “Shit” sentido, - se bem que pouco bem educado e ainda menos usual, pois como sabem não costumo pragejar, pelo menos na oralidade, na escrita por vezes sai me uma ou outra coisa menos vitoriana – que acabou por ser o nosso bilhete, pois o condutor descascou-se a rir, e levou-nos mesmo sem bilhetes válidos. Ainda gozou comigo várias vezes, dizendo que era a primeira vez que via umas turistas tão desbocadas, e que estava acostumado a ser saudado com “Hello”, e não com palavras obscenas, mas o momento de “Ups” foi quando nos perguntou o quais eram os nossos planos para a noite...Ainda tive um segundo de receio que nos fosse convidar para sair, mas contentou-se com a resposta evasiva de que estavamos cansadas e iamos ficar em casa. Foi este o nosso encontro com o John de Liverpool.

Terminámos o dia a passear por Penzance, pelo caminho junto ao mar e ainda comprámos comida: um pacote de esparguete por 18 pence, e um frasco de molho por 69 pence, os quais nos renderam dois jantares...que ninguém diga que não somos poupadinhas.

No dia seguinte comprámos o day ticket por cinco pounds e com ele viajámos até Porthcurno, onde queriamos visitar o Minack, consoante o folheto turistico “Cornwall’s theatre under the stars”. Se parecia uma coisa de pouca importância enquanto faziamos a caminhada até lá, encosta acima, com um solzinho daqueles que se não fosse em cornwall teria características exclusivamente tugas, quando lá chegámos mudei de ideias. Começava-se por uma exposição muito bem conseguida, que para além de fornecer todo o pano de fundo, nos deixou cheias de vontade de ver o dito teatro. Contava a história de Rowena Cade, uma senhora absolutamente incrível, que de uma adolescência serena e protegida, numa casa vitoriana em Cheltenham cresceu para ser uma apaixonada por teatro, representando peças de Shakespeare no jardim da sua nova casa na falésia de Porthcurno. Era ela que tratava da organização toda, desde costur fatos de duendes e asas de fada para “Sonho de uma noite de verão”, até engendrar a melhor maneira de posicionar os actores em cima de folhas de nenúfares falsas que insistiam em cair...Quando decidiram representar “A tempestade”, em 1932, o jardim deixou de servir como palco, e Rowena chegou à conclusão de que nada seria melhor como cenário do que a própria rocha da falésia, começando então a construir o Minnack Theatre, como ainda o podemos ver hoje, um amplo anfiteatro maravilhosamente situado nos píncaros escarpados, por cima do mar, lembrando as montanhas de chipre na antiguidade clássica, e com um toque absolutamente mágico.

O que começou por ser um projecto estranho acabou por se o sonho de uma vida, pois Rowena Cade trabalhou na construção do teatro até quase aos noventa anos, quando faleceu, e pode se dizer que quase o talhou a dente, com a ajuda de um ou dois amigos, acartou sacas de cimento e vigas enormes pelas encostas acima incansávelmente. Há uma história na exposição que testemunha da impressionante força de vontade dela, quando ela já idosa, e uma idosa com um ar muito frágil, - tinha uns bracinhos cheios de veias e tendões que pareciam da grossura de silvas – levou, sozinha, e ao longo de uma penosa manhã, quinze barrotes enormes, que tinham aparecido na praia depois de um acidente com um barco de carga, rocha acima até ao teatro, onde precisava deles. Quando mais tarde a polícia a interrogou acerca dos barrotes ela respondeu: “Sim, sim, levei alguma madeira até ao topo da falésia...Quer vir ver se é a que procura?” Obviamente os policias nunca pensaram que uma decrépita velhinha pudesse ter levado tais pesos até lá acima, e nem se preocuparam em ir verificar...

Só foi muuuuuuuuuita pena não podermos ver uma peça, pois o teatro funciona, e agora até está totalmente equipado com sistema de som...mas só a partir de Maio é que começam as representações.

Daí seguimos para um outro ponto alto da nossa viagem, uma caminhada desde o teatro até Land’s End, três horas ao longo da costa, por um trilho que parecia feito por ovelhas, e as mais lindas paisagens e vistas que se possam imaginar. Demorámos mais do que as três horas previstas pois a cada passo tínhamos que nos desfazer em ooooh’s e aaah’s, avançando à maneira japonesa, de foto em foto. Falésias, gaivotas, relva mais fofa que tapete persa, um mar que não podia ser mais azul e um sol que nos tostou as ventas em menos de nada...a mim porque estava com a mania que portugueses não apanham escaldões em Inglaterra, e a Heike porque é ruivinha e a pele dela é aparentada com a do Casper (Gasparzinho o fantasma) e nem o creme solar lhe serviu. Devia me ter lembrado que sou meia alemã, pois deve ter sido essa a parte que queimou, mas felizmente dois dias depois tinha passado a um bronzeado saudável. Parámos várias vezes para comer maçãs, sandes, bolachas de chocolate, encher as garrafas de água numa fonte chamada “Holy well” (okay, só eu é que enchi, pois sou psicótica) (não não apanhei febre tifóide nem salmonelas) (sim, eu sei que não de deve beber de fontes das quais não se sabe a qualidade da água), apanhar um fura-pastos (pequena cobra tipo lagartixa sem patas) (okay, fui só eu que tomei esta iniciativa, mais uma vez), alimentar dois póneizinhos gordos com maçãs (ahum...eu outra vez), e despir mais roupa, até já praticamente nuas, chegarmos a Land’s End, a ponta mais ocidental da Inglaterra.

Aí passamos da Natureza selvagem e gratuita para algo mais turístico, com a “Primeira e última casa de refrescos da Inglaterra”, fotógrafos oficiais e lojinhas de lembranças. Não gastamos um “tusto” e seguimos com o nosso prático bilhete de autocarro para Newlyn e daí para Mousehole, que não se lê “Mouse Hole” mas sim “Mou Zoule”, parece que os nativos não gostam que soe como se morassem em “Toca de rato”, preferem “Tocade-ra Tô”. Mousehole é uma pitoresca vilazinha de pescadores, qualquer coisa como Cascais há 40 anos atrás, talvez, mas às sete horas da tarde parecia uma vila fantasma, não vimos uma pessoa que fosse. Piores que as galinhas, estes ingleses.

Gememos montanha acima, sobre umas pernas que ameaçavam entrar em greve, mas a Heike parecia um general, e eu que também tenho o meu quê de militante (a minha alcunha é, como já referi, “Boss”) também não queria ficar atrás, e raios nos partissem ou não víssemos todas as vistas bonitas que os nossos olhos e cérebros pudessem armazenar. No topo da montanha não se via muito bem, por causa de casas e vegetação irritantemente colocadas, mas em compensação a minha costela de botânica ficou muito feliz ao encontrar vários ruibarbos gigantes. Ruibarbo (Rhubarb) é uma planta não muito conhecida em Portugal, assemelha-se a couve portuguesa, mas tem uns talos muito grossos, que se não apanharam sol a mais se mantém cor de rosa e que então podem ser estufados e preparados como doce. São muito ácidos, e usam-se em bolos, compotas, etc, de preferência com molhos de baunilha, Custard, custarda, como lhe quiserem chamar. Os Ruibarbos gigantes nada tem a ver com esta planta comestível, a não ser a aparência, mas são absolutamente enormes. Tiarámos uma foto comigo debaixo de uma folha que era maior que um guarda-chuva grande, com um talo da grossura do meu braço, pareço um cornish pixie...

No porto, onde eu não tirei muitas fotos, pois parecia mesmo Portugal, ainda nos deparámos com pequenos bárbaros da Cornualha, uma raça muito distinta, os quais envergavam fatos de borracha, e com gritos inarticulados se atiravam dos paredões abaixo para as águas gélidas mas límpidas do atlântico. O mais pequeno devia ter dois anos e meio, mas estava só trajado a rigor, ainda não pulava. Deve ser o ritual de iniciação.

Muito inteligentemente desta vez encontrámos a paragem desenhada no chão, embora nos sentíssemos como bonecos de monopólio, à espera no quadradinho que diz “Paragem”, e nem nos pagaram os 20.000 de termos passado a partida, e voltámos para Penzance, para um dormitório com mais duas raparigas. E uma delas ressonava mais que o Winston, e não tinha depósito. (Depósito é uma parte da anatomia de um cão, é o espaço solto do beicinho, que propicia um ressonar especialmente vibrante).

O último dia da nossa viagemzinha foi passado em Saint Ives, outra vila muito mediterrânica da qual poucas fotos tirei, com mais horas de sol impiedoso nas extremidades avermelhadas e pouco fotogénicas. Saint Ives está recheadinho de artistas e galerias, entre outras um Tate Modern Saint Ives, que odiei...ainda pensei que Francis Bacon fosse alguma coisa de jeito, pois o nome não me era estranho, mas era pavoroso...acho que eu tinha um homónimo qualquer na cabeça. Que coisas mais feias e sem jeito. Meu rico dinheiro. Caixas com bolas de ping-pong e uma ventoínha que fazia as bolas mexer...Profuuuuuuuuundo! Uma filmagem de uma onda cheia de garrafas de plástico que quebrava repetidamente contra uma rocha. O que quererá dizeeeeeer?

Comemos as famosas Cornish Pasties, um tipo de folhado em forma de rissol gigante, que eram muito boas, - uiui, agora marchava uma, - fizemos festinhas a staffordshire terriers na praia, experimentámos o famoso gelado de Cornwall...As gaivotas é que são umas pestes, arrancam literalmente os gelados das mãos das pessoas, em voo picado, na gelataria até estava um papel a avisar de que não substituíam gratuitamente gelados roubados por gaivotas (nem quis acreditar que alguém teria a cara de pau de pedir isso), e eu que levava o gelado numa mão, e um caranguejo perneta na outra era um alvo duplamente atraente. O caranguejo estava lesionado e longe de água, não era para eu comer, era só para levar até ao mar. Qualquer pessoa com uma fobia incurada de aves viverá em Saint Ives o seu pior pesadelo, pois os bichinhos fixam um olho amarelo e malicioso em nós, que até a mim me arrepiou, mas nunca me rendi. Aliás, enquanto esperávamos pelo comboio até lhes dei umas bolachas, que elas vinham buscar à mão, de modo a habituá-las pior ainda para os próximos turistas. Depois de mim o dilúvio.

Por volta das três e meia voltámos para Penzance, comprámos uma comidinha para o caminho, e fomos buscar as malas à pousada, para apanhar o comboio às 17:30 para Bristol, onde chegaríamos por volta das 10:00.

Não fosse...não fosse...

Não fosse eu ser loira e a Heike ruiva. Não fosse termos comprado fruta, que ainda precisámos lavar. Não fosse ainda termos ido às casa de banho, e termos escolhido ir até à estação por um caminho que não conhecíamos, e que se alongava em intermináveis curvas nunca mais chegando ao nosso destino.

Mas porque é que não corremos no início? Começámos só a correr quando era já uma causa perdida, as mochilas pesadas a tolherem os nossos velozes e fluidos movimentos, as malas a baterem-nos contra as formosas e longas pernas, os cabelos a flutuarem, os olhos revirados numa agonia desesperada de veado moribundo...era pois tarde...o sangue subia-nos aos rostos, dando àquelas feições marmóreas uma cor de vida falsa, um rubor do qual transparecia o cansaço, força para a luta que nos abandonava, quando vimos o comboio a pôr-se em movimento, com as demoníacas luzes vermelhas da retaguarda num esgar malicioso de quem sabe que a vitória é certa...Vida, morte, veloz, luzes ao fundo do túnel...

Acenámos em vão ao todo-poderoso deus do apito....o comboio partiu sem nós.

*Pausa para limpar lágrimas de emoção*

Voltando à realidade menos homeresca e épica, lá estávamos nós, com dois minutos de atraso a arruinarem umas fériazinhas perfeitas...parecia que era só para embirrar!

Não havia mais comboios para bristol, nem no dia a seguir.

Sentámo-nos em cima dos nossos casacos, ao sol do entardecer que, como sabiamos se iria brevemente transformar num crepúsculo cinzento e frio, passando a uma noite escura que estenderia os seus finos dedos gélidos para envolver as carnes frágeis e cansadas dos nossos corpos, talvez pela última vez...Talvez os nossos olhos contemplassem ainda as cores vivas e gloriosas da aurora, antes de fazermos do cimento cinzento a nossa última almofada, dos fieis anoraques vermelhos a nossa mortalha, e das luzes de néon da estação a nossa vela...Peço desculpa, o estilo épico tem o seu charme, não me consegui libertar de uma vez.

Havia um autocarro possível, recheado de grandes talvezes, que iria na direcção de Bristol, mas não até lá, mas era só às 20:00h, o que deixou tempo para a Heike ir dar um passeio, a ver se lhe passava a frustração, do qual demorou imenso a voltar. Eu entretanto tinha conseguido descobrir que haveria um autocarro para o aeroporto de Bristol, lá para as 21:00h, e ela não havia maneira de voltar a aparecer, suspeitei mesmo que se teria atirado ao mar, em desespero, mas quando finalmente chegou, afirmou que nem isso teria sido viável, devido à presença de mais bárbaros cornwalleses, estes maiorzitos, que com certeza não teriam hesitado em pescar uma donzela suicida. Já não se pode fazer nada!

Enfim, chgámos a Bristol pelas 3 da manhã, com dores nas costas e dores na carteira...digo vos, se calhar vale mais a pena perder um avião do que perder um comboio em Inglaterra. E agora deixemos os nevoeiros do esquecimento cobrir o infame erro.

E nunca mais ameaço escrever textos cómicos sobre pobres criaturas que perdem o avião...

3 comments:

Guilherme F said...

Não viste nenhum dragão da cornwall? Segundo o Henrique Potes há prai muitos! E perder o comboio é frustrante, eu sei.. se já quando falho o metro ou o comboio da linha de cascais ou de sintra que há em periodos muito regulares e curtos de tempo, quanto mais um pra voltar pra casa.. Enfim, diverte-te masé! E passa pelo meu que já lá meti algo novo ;P *

Guilherme F said...

Narcisismo? Já vi a tradução à bastante tempo mas não me lembro daquela música dar pro narcisismo, pelo contrário 0o weird... Faltam agora 3 dias para dia 29 de Abril, ou seja pra ela cá vir visitar-me e matar saudades ^^

Guilherme F said...

Astonishing... fui confirmar a tradução e realmente aquilo é altamente narcisista... tou miserável, preciso de aulas de alemão para escolher melhor as músicas :(
Anyway o refrão percebe-se para que é ;P