Monday, 9 April 2007

Escócia..Edinburgh e os famosos Highlands

Dia 26 de Março

O fim da noite chega cada vez mais rápido, o que se prende directamente com questões de forretice, ou melhor, poupadice. Os voos das 6:20h da manhã são os mais baratos, numa diferença de por vezes mais de 100 pounds para os das 10:00h, e então é nesses mesmo que vamos e vimos. Só custa a levantar, e arrumar as coisas, e não esqueçer nada, e pensar, e encontrar boa educação, e a greta entre as pálpebras por onde se vê. O resto é simples, até porque no avião se pode dormir, e comprei um livro que estou a gostar muito, “Lord of the Silver Bow”, por David Gemmell, o primeiro volume de uma trilogia sobre a guerra de Tróia. Este autor é pioneiro num género relativamente alternativo, o epic fantasy, embora este não seja própriamente fantasy. Só tenho pena de o imbecil ter esticado o pernil tão prematuramente quanto o ano passado, pois não conseguiu completar o último volume, e isto tudo porque fumava que nem uma chaminé.

Aterramos em Edinburgh pelas oito da matina, tempo cinzentinho, nevoeiroso, e com um vento que tinha uma pontaria equivalente à do próprio Apolo, para encontrar aquele bocadinho de pele entre queixo, cabelo e gola, onde mais faz falta o cachecol. Apanhámos o autocarro para o centro, e descemos em Waverley Station, de onde se tem desde já uma bela vista sobre a avenida principal, Princesse Street, que tem cerca de dois quilómetros de comprimento, do monumento de Sir Walter Scott, e também do castelo de Edinburgh, que, sentadinho no alto de uma montanha rochosa rodeada de um grande parque vedejante e coberto de narcisos e árvores com flores cor-de-rosa, é bem menos imponente do que eu esperava. Até tivemos que perguntar a um escocês transeunte se se tratava mesmo do castelo, ao que este até pensou que estavamos a gozar com a cara dele...mas é que estávamos do lado errado, de um lado parece castelo e falésia, do outro parece casa de campo e relvinha: nós estavamos neste segundo lado.

Subimos então. A meio caminho encontrei um meteorito, mas quando o atirei ao Filipe, com as palavras “Toma-lá um meteorito!” ele chutou-o ladeira abaixo. Só quando lhe chamei um ingrato desprezador de meteoritos raros e arqueológicamente valiosos é que ele reconsiderou e rastejou de cabeça para baixo para a recuperar. Parece que não tinha percebido, tomara o objecto por um bocado de alcatrão. No topo da montanha, assim que os nossos rostos suados e vermelhos surgiram acima do nível do chão, estende-se uma praça, ao fundo da qual se ergue o castelo, que então sim, é imponente. A praça é utilizada como espaço para festivais, especialmente durante o verão, festas crivadas de fogo de artifícios e kilts, que consoante os nativos e os anuncios não podemos mesmo perder...

O preço dos bilhetes é que é muito pouco recomendável, não há reduções para estudantes, e custam uns onze pounds, isso nem sequer incluindo o audio guide, ou seja, maquineta com fones que nos permita ouvir alguma histório do sítio....acho que por esse dinheiro deviam ter um guia trajado a rigor, bolas, então com tantos reformados que há, que sabem tudo e tem todo o tempo do mundo para no-lo dizer, não se arramjava um para cultivar as jovens mentes dos turistas ignorantes??? Pelo menos na catedral de Salisbury fazem assim, são os chamados “voluntary guides”, e acreditem que não tem nada a ver. Ouvir uma gravação roufenha, com uns fonezinhos escorregadios(nem queremos pensar que poderá ser de cera auricular alheia, mas é possível) que insistem em cair da orelha, de modo que se acaba com o canal audtivo três vezes do tamanho normal, de os empurrar lá para dentro, ou mesmo um telemóvel gigante com botões, com que amolgamos os abanos, de olhar meditativo, tentando com tanta força seguir o desenrolar do som tudo menos estéreo, não acabando por conseguir prestar atenção a coisas tão insignificantes como a realidade envolvente. Chiça, tirem-me lá este canhão do século XVIII da frente, não percebo op que o meu audio guide diz! Não, sou definitivamente a favor do guia escoçês, com kilt e sotaque, sff.

Vimos portanto o castelo um pouco à moda de ovelhinas que veem passar o comboio, olhando com ar de interesse, mas com pouco background.

Nas caves do castelo visitámos uma exposição chamada “Prisons of War”, prisões de guerra, pois estas divisões foram, entre 1757 e 1814, o local onde se prendiam os prisioneiros de guerra, em Edinburgh. Em 1781 estavam a abarrotar, com quase 1000 inquilinos, quase todos prisioneiros tomados durante a guerra de independência dos Estados Unidos da América, portanto americanos, mas também franceses, espanhóis e holandeses, pois estes países eram aliados dos EUA, e logo encontravam-se também em guerra com a Grã-Bretanha. A exposição mostrava muitos objectos originais, alguns fabricados pelos próprios reclusos, pois muitos deles eram talentosos artífices e conseguiam criar verdadeiras obras de arte a partir dos escassos materiais que lhes estavam à disposição. Utilizavam, por exemplo, ossos da carne que comiam e palha das camas, transformando-os em chapéus de palha, caixas para jóias que parecem mesmo mosáicos de marfim (sendo na realidade mosaicos de ossos de costeletas, não sei qual é a mania de matar os elefantes, se há um substituto tão simples) e até notas bancárias fasificadas, com as quais subornavam os guardas e poupavam para a sua vivendazinha em Albufeira ou na Riviera, quando fossem libertados.

A vida de resto, devia ser muito chata, passar-se de um herói a lutar pela independência da sua pátria, com a brisa marinha na cara, e os coiros ingleses em frente dos canhões, como o capitão John Paul Jones, a um pirata rebelde, que não tinha como passar o tempo senão a construir miniaturas dos navios que comandava, ou a esculpir grafitis nas portas de madeira grossas de uma masmorra mal iluminada...Dormindo que nem chouriços no fumeiro, cada um na sua rede piolhosa.

Quando voltamos a descer para o centro da cidade, fomos por outro caminho, mantendo os olhinhos fixos no pináculo de uma igreja de cor típicamente edinburguiana: enegrecida. A maior parte dos edifícios mais antigos nesta cidade são de pedra amarelada, que fica preta com o passar do tempo, e como são muito amigos de coisas bicudas e altas, com várias pontas, por vezes faz mesmo lembrar um bocado as torres do senhor dos anéis, Barad-dûr, e tal. Mas sem olho do mal, pelo menos enquanto não se mencionasse que se era inglês. De nada nos serviram os olhinhos fixos, pois caímos de imediato numa armadilha tão tipicamente turistica que até dá vontade de rir...Uma fábrica de tecido aos quadrados, onde podiamos seguir o processo de fabrico dos kilts, desde a lã simples, até ao design único a cada clã, que num dos cantos tinha um fotógrafo a tirar fotos a turistas vestidos com o traje típico. Podem rir, mas nós fomos! Ficámos com cinco fotos hilariantes, capazes de destruir a nossa seriedade e credibilidade durante as próximas décadas, o Filipe em traje de Rob Roy, e eu como donzela escocesa. Com espadas e tudo. Acho que não preciso mencionar que a ideia partiu de mim, o meu pobre respectivo só não teve com escapar, até teve que fazer pose heróica, com o pé em cima de uma pedra...

Entretanto o dia honrava-nos com sol, e passeamos pela Princess Street, e as ruelazinhas cheias de pubs com nomes engraçados como “Dirty Dick’s”, “Filthy McNasty’s”, “The Bad Ass”, “Bottom’s Up Bar” sempre com uma banda sonora de gaita de foles, por vezes até tocada ao vivo.

Às cinco da tarde lá acartámos as nossas malas pesadíssimas para Haymarket Station, que infelizmente era do lado oposto de Princess Street, para nos encontrarmos com o amigo de juventude da minha avó, Peter Duff, e a sua esposa alemã.

Os primeiros vinte minutos do encontro foram um horror, eu juro que só queria desaparecer, não percebia nada do que o homem me dizia, em escocês cerrado, a mulher dele parecia amuada, não dizendo uma palavra, estavam cheios de planos para nós o que ia estragar os nossos planos de irmos a Loch Ness, visita para a qual já tinhamos marcádo bilhetes, e ainda por cima o Peter estava só a falar mal dos ingleses e a implicar com o Filipe, que já nem dizia nada...O Filipe sem falar, imagine-se!

Em casa deles esperava-nos um jantar típicamente alemão, com batatas, guisado, legumes cozidos, e cinco pratos, para o nosso espanto...Então não é que eles tinham um filho, do qual nunca falam, e que foi bem descrito numa frase do Filipe, que me sussurou, de olhos arregalados: “Eles têm um Quasimodo!”.

Quarenta e um anos, quarenta e um quilos de barriga proeminente e redonda, uns olhos mais esbugalhados e redondos que um sapo, a olharem camaleónicamente em direcções opostas, os antebraços e cotovelos cobertos de psoriase, e quarenta e um minutos de silêncio. O homem não nos dirigiu uma palavra ou um olhar directo, durante o tempo que lá estivemos, está sempre agarrado ao computador, ou a cochichar com a mãe, foi despedido do seu trabalho como porteiro num hotel, enfim, este era o Robbie.

O dia seguinte, consegui levar a cabo que fossemos a Edinburgh mais uma vez, pois eles tinham planeado uma viagemzinha até aos Highlands para quarta-feira, o que implicou que cancelássemos Loch Ness (fiquei sem conhecer a minha prima Nessie, fica para a próxima), o que vale é que nos reembolsaram o dinheiro sem discussão, e ainda nos queriam mostrar as atracções turísticas de Sterling, a vila onde vivem, de modo a que estavamos a ver que nunca mais teríamos um momento a sós...Argumentámos que ainda precisávamos de subir o Arthur’s Seat, uma montanha no meio da cidade, que como todas as montanhas parece mais fácil de subir quando se está longe, a olhar para ela do conforto de um café, do que quando efectivamente se está a rastejar falésia acima. Ninguém nos disse que era bastante cansativo e moroso, especialmente quendo se toma um percurso erróneo que implica a ascensão suada a uma montanha média, a quel depois se tem de voltar a descer, para então re-começar uns 1000 metros abaixo do nível do mar. Tinha relva linda, toda a montanha, com uma terrinha fofa por baixo, parecia carpete, e estou convenciada que vi um lemingue, mas que era mais alta do que eu pensava, era.

No picarinho tinha farrapos de nevoeiro flutuando com o vento, que passavam por nós, e entre as rochas cinzentas salpicadas de corvos negros, um cenário muito dramático e místico, quase podíamos ver o lendário rei Arthur, e Dom Sebastião também, já agora, de cabelos ao vento, nos seus cavalos, entre as brumas...eramos, no entanto, trazidos de volta para a realidade quando os corvos, com um Cráááu! Triunfante, se preciptavam sobre algo tão prosáico como uma codea de sandes de maionese e atum, numa caixa de papelão do Subway. Fiquei enojada. Maionese de atum, ainda de fosse veado fumado, ou um cozido de lebre sobre chama aberta...É que nem eu consigo manter de pé uma fantasia arturiana com tais adereços

Estragaram tudo. O rei Arthur transformou se de volta no estudante dinamarquês com a máquina digital, D.Sebastião encolheu e engordou, cresceu uma carapinha de caracóis castanhos e uma saia de ganga, e até os corvos afinal eram pombos gordos e possívelmente cheios de colesterol. (esta parte não é verdade, eram mesmo dramáticos corvos, tenho provas fotográficas. Tomem!)

Tinhamos lido em panfletozinhos turísticos que ainda teríamos que ver o Parlamento e o Palácio de Holyrood House, e foi o que fizemos, embora não pagássemos 13 pounds de entrada para o palácio, vimos só por fora. Os dois edifícios ficam em frente um do outro, e não poderiam ser mais destoantes: o palácio é lindo lindo, com umas grades de ferro forjado à volta de um jardim que alberga toda a beleza e suavidade da Primavera escocesa, construido de pedra cinzenta, romanesco e romântico, enquanto que o Parlamento, que os escoseses adoram pelo simples facto de que representa uma vitória da sua independência e identidade nacional, e um gesto obsceno em direcção aos colonizadores ingleses, é uma construção muito moderna, aliás, acho que o arquitecto morreu há muito pouco tempo, e é supostamente uma representação estilizada de um barco...A mim parrecia me um mamarracho anguloso, coberto de andaimes, pois tem ripas de madeira verticais pregadas a todas as janelas, deve ser para dar um ar náutico, tipo remos, ou o caso de um barco.

A comida em casa dos Duffs era muito boa...ocorre-me isto agora, pois no momento em que escrevo tenho três items alimentares no meu armário: Massas chinesas, sardinhas enlatadas e leite, que mesmo com a melhor das vontades não consigo combiná-lo num almoço apresentável, e mesmo com a melhor das vontades também não consigo ir às compras, pois apesar de ter vontade, não me apetece, e então penso na comida que já comi...Fizeram-nos um pequeno almoço escoçês, que é como o pequeno almoço inglês, mas só que acrescenta Haggis, que é uma especialidade nacional que consiste em coisinhas do interior de animais, tipo fígado e rins, dentro de um estômago de ovelha (mas acaba por parecer morcela, não é dramático) e Black Pudding, que é um chouriço de sangue. Eu prescindi destes dois, pois disse logo que não gosto de interiores nem de olhos e coisas do género, mas o Filipe, que sofre muito de uma coisa chamada boa educação, lá teve que comer. Mas estava muito bom, com ovinhos biológicos, baconzinho, baked beans, os tais feijões em molho de tomate que são tão apreciados nestas ilhas, cogumelos refogadinhos e tomate frito....Ai, ai, agora marchava um... E o Trifle então...Trifle é uma sobremesa típica destas ilhotas, e parece inventada por loucos: são camadas de palitos LaReine demolhados em Sherry, frutas, gelatina, Custard (tipo leite creme)e chantilly, mas tudo junto fica uma delícia...vou fazer, quando estiver de volta em Portugal.

Na Quarta-feira saímos cedo, o Robbie não foi, *suspiro de alivio*, (nem dormi com uma visão perturbadora na cabeça: eu, entalada entre o Filipe e quarenta e um anos, quilos de barriga e minutos de silêncio, no banco de trás de um carro..., mas estou a ser mázinha, e vou parar imediatamente, peço desculpa.) e seguimos de Stirling para Perth, daí para o Aberdeenshire, onde apesar de ser Shire, não vimos hobbits choramingas, para o meio das Grumpian Mountains, passando Balmoral (pausa para: oooohhhhhh...aaaaahhhhh de admiração e reverência) e chegando finamente ao nosso destino, a vilazinha de Ballater.

Isto sim, é a Escócia como imaginamos...montanhas acastanhadas, rasgadas por persistentes bancos de neve, tojo espinhoso, com flores amarelas encostado a muros de pedra natural, que se estendem montanha acima, riachos cheios de pedras cobertas de algas, e pequenas cascatas...Manadas de veados, deitados ao sol, a ruminar, bandos de perdizes e inúmeros faisões – Portugal tem mesmo que fazer qualquer coisa pela sua fauna, é uma vergonha, não se vê uma porcaria de um pardal, daqui nada – grupos de árvores, que de quando em quendo se densificavam para formar florestas, que chilreavam de passarinhos...A máquina fotográfica não parava.

Fizemos uma caminhada pelo Balmoral Estate, não vimos o próprio castelo de perto, só ao longe, através das árvores, pois não era época de visitas, mas fomos ao Loch Muick (lê-se Loccchhhhh - assim um chcchc bem puxado, tipo escarro alemão – Mick), que deve ser muito mais lindo que o Loch Ness, pois não tem a loucura do turismo lá à volta, com monstrinhos de borracha a cada passo, e ainda tem a vantagem de ser rodeado por montanhas escarpadas, Bens e Glenns, em escocês: montanhas e vales, aumentando ainda o já de si elevado valor pitoresco. Aye, whe felt quite whee. (Os escoceses dizem sempre “Aye” em vez de “Yes”, e “Whee” em vez de “small”, ou “little”)

Fiz o Filipe tirar várias fotos de mim a correr pelo cenário, pois o meu irmão tinha dito que é absolutamente imprescindível que se corra pelos Highlands, o que o miúdo não sabe é que o terreno é irregular e pantanoso, e quase ficávamos com umas fotografias embaraçosas: eu a cravar a minha penca real no chão húmido dos Highlands, de cabelo a flutuar heróicamente...O Filipe diz que vimos filmes épicos demais, que nos estão a perturbar a cabeça.

A esta altura já nós nos tinhamos habituados aos nossos anfitriões, o Filipe tinha passado o serão a beber Rosé, Whiskey escocês E cerveja com o Peter (coitado do Filipe, ele não gosta de rosé, e odeia Whiskey, lá está, a boa educação...tsts, ainda bem que a minha e mais reduzida, e não me obriga a tais sacrifícios...) e nada como isso para forjar logo uma amizade! Eles foram incrívelmente amáveis connosco, trataram-nos como os seus netos perdidos, acho que o Peter deve ter tido uma paixoneta pela minha avó, pois não encontro outra explicação...e ele faláva dela com um carinho e admiração...e há que notar que não se veem há uns vinte anos! Será que eu tenho amigos assim?

Passámos a noite em Ballater, numa encantadora casinha em regime de Bed&Breakfast, que pertence a uma ex-vizinha dos Duffs, que durante muitos anos foram donos da Hospedaria ao lado. O quarto era um luxo, e não nos deixáram pagar um pence que fosse, para além de nos convidarem para jantar num restaurante do outro lado da rua, o “Auld Kirk”, note-se, mais uma vez, o parentesco com o almão: em toda a Inglaterra se diz “Old Church”, mas em alemão é “Alte Kirche”...Era mesmo uma igreja, remodelada para fazer uma hospedaria com restaurante, nem sabia que isso era permitido, mas estava muito chique...confesso que tive que pedir a “tradução” de pelo menos um termo por cada prato da ementa, até tenho pena de não ter apontado os palavrões, aposto que eram inventados...

Acabámos todos por pedir o Aberdeen Angus Steak, bife de vacas especiais escosesas, e posso dizer sem dúvida que foi o melhor bife que comi nos dias da minha vida. Nem vos vou aborrecer om mais verborreia, pois não tem descrição possível. Se lá passarem, experimentem.

De volta a Stirling, aprendemos que estávamos redondamente enganados ao pensar que se tratava de uma vilazinha secante...Stirling é uma dos sítios mais carregados de história na Escócia, e até aparece com uma bolinha vermelha no mapa que comprei do Reino Unido! Há mesmo um ditado popular que diz “He who holds Stirling, holds Scotland”.

Eram três as coisas que o Peter nos queria mostrar, no escasso tempo que nos restava: Stirling castle, The National Wallace Monument, e o campo de batalha de Bannockburn.

Tivemos visita guiada por Stirling Castle, cuja história e apresentação aos turistas está dividida em três partes: A corte dos Stewards, pois o castelo foi a base da corte real escosesa durante muito tempo, A defesa do Reino, sendo que a posse desta fortaleza fulcral flutuou bastante nos ultimos 900 anos, havenso disso numerosas marcas, e finalmente a história militar, pois após a corte royal abandonar o castelo este serviu de quartel militar e de campo de treino, sendo então adaptado para alojar centenas de soldados. Visitámos também o Argyll and Sutherland Highlanders’ Regimental Museum, onde se pode explorar mais de 200 anos da história deste regimento, que foi sem dúvida a parte preferida do Peter, ele próprio um ex-militar.

Daí seguimos para o Wallace Monument, que se ergue majestoso numa colina cheia de árvores, e é realmente bonito. Data de 1860, e na altura foi um verdadeiro desafio, não só arquitecturalmente, com os seus 67metros de altura, e 246 degraus alternados com quatro andares, mas também a nível monetário e político, pois rebentou com o orçamento previsto por várias vezes, acabando por custar o quadruplo do valor inicialmente projectado, e foi um pomo da discordia entre todo o tipo de figuras, desde os arquitectos que participaram no concurso dos planos, até aos Escoseses e os ingleses como nações, mais uma vez, devido a um projecto que passava por um leão gigantesco (Escócia) a esborrachar uma espécie de quimera-neptuno, bastante feiosa, que alegoricamente representaria Inglaterra. O projecto foi recusado como demasiado anti-inglês, vá se lá saber porquê...

Assim que chegámos à base do castelo, deparámo-nos com uma estátua de pedra, recente, e num estilo moderno, que representava Wiliam Wallace...tinha o nariz partido, mas quem poderia ser, a não ser o herói nacional, até porque era isso que estava escrito na plaquinha de bronze aos pés do senhor. Mas porque é que alguém partiria o nariz ao Wallace? Teria que ter sido com certeza um inglês...Magicando nisto, olhei a estátua melhor, e senti uma picadinha de vergonha, pois como a maior parte de nós (atrevo-me a enunciar esta suposição), tudo, ou 90% do que sei sobre William Wallace, retirei-o do (fantástico) filme “Braveheart”, e confesso que a estátua era a cara chapada do Mel Gibson...(exeptuando o nariz partido, que eu saiba o Sr.Gibson mantém-se na posse do dele). Nem quis dizer nada, pois o Filipe já tem a mania que só não me casei ainda com o actor porque não tive oportunidade, e se eu mencionasse que vejo a cara do homem numa inocente estátua, aí então é que perdia toda a credibilidade. Li o placar que explicava a estátua, e não é que era “uma imagem de William Wallace, tal como ele é representado por Mel Gibson, no filme Braveheart”... Não é que o escultor também sofria de fontes históricas pouco fidedignas??? Estava explicado a pedrada aos focinhos da criatura, alguém que achou pouco respeitoso porem as ventas de um actor australiano no seu herói nacional...O Filipe sentiu profunda simpatia com o apedrejador, ainda quis arrancar a cabeça à estátua, mas não tinha trazindo a picareta.

O Peter Duff acha que o filme está bem conseguido, e que teve um papel importante na consciencialização das faixas etárias mais jovens para a história do seu país, mas há que ser tudo com peso e medida, não?

No primeiro andar vimos uma exposição sobre a vida de William Wallace e o que o fez herói da Escócia, a sua incansável luta pela independência e liberdade, a sova que administrou aos ingleses em 1297, na batalha de Stirling Bridge, a escassos quilómetros dali, quando com o seu exército de escoceses ligeiros em kilts fez uma emboscada às tropas inglesas num local estratégico, uma ponte pela qual não poderiam passar mais do que dois ou três cavaleiros ingleses de uma vez, assim anulando a vantagem da superioridade numérica dos inimigos, que, em pãnico, se afogaram às centenas no rio e nos pântanos adjacentes, dos quais não conseguiam fugir, carregados de armaduras. A espada de Wallace também pode ser admirada neste andar, é quase do meu tamanho, o que leva a concluir que o seu portador, que teria de a manusear com balanço e resistência, ao longo de uma batalha, tivesse que ter sido um homem excepcionalmente grande e forte.

No segundo andar, há uma exposição de vários bustos de mármore de grandes escoceses ao longo do tempo, desde Robert the Bruce, o rei escocês que se seguiu ao periodo de revolta que amainou com a morte de Wallace, passando por John Nox, Robert Burns, e Sir Walter Scott, o terceiro andar é dedicado ao monumento em si, à sua construção e origem, e finalmente do topo tem se uma vista admirável, sobre a paisagem até Ben Lomond, o rio Forth, a cidade de Stirling e os montes de Ochil e Pentland. E até encontrámos lá dois compatriotas, uma senhora e o seu filho, de Lisboa.

Para grande satisfação do Peter, após descermos os 246 degraus, e chegarmos lá abaixo tontos que nem baratas, ainda sobrava tempo para irmos ao campo de batalha de Bannockburn, o que penso que o levou a perdoar o nosso descaramento de desrespeitarmos os planos dele e irmos dois dias para Edinbugh em vez de um...

O campo da batalha de bannockburn é menos impressionante, mas foi interessante pisarmos o mesmo solo no qual em Junho de 1314 Robert the Bruce derrotou o exército ingles, debaix de Edward II, numa das batalhas mais decisivas da história da luta pela independência da Escócia. Robert the Bruce tinha-se revoltado contra o domínio inglês, após, impondo um cerco a Sterling castle, e sendo finalmente aclamado como Robert I da Escócia. Está uma grande estátua dele no local.

No dia seguinte, às três da manhã, estávamos a pé, para apanhar o voo económico das seis e vinte, até nos sentimos mal, pois eles insitiram em levar-nos ao aeroporto...dormimos até Luton Airport

3 comments:

Guilherme F said...

Ok, decididamente tu deixas-me completamente verde de inveja! As minhas adoradas Highlands, a grandiosa Escócia..! Acreditas que vou mandar fazer um kilt pra mim? Assim que tiver o dinheiro mando-o fazer, descobri uma lojinha lá na baixa que me fazem um ^^
O scottish accent deve ser espetacular ao vivo, ain't it? Só ainda ouvi na televisão e assim.. Decididamente eu não quero morrer sem ir à Escócia! Have fun por ai ^^

Dora Pica said...

Olá Luisinha
Tou roida de inveja das tuas aventuras, mas fazes umas crónicas deliciosas que me apaziguam estas más ondas.
Diverte-te muito
Aproveita ao máximo
Mil beijinhos
Dora Pica

Dora Pica said...
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