Monday, 26 February 2007

Globe café, bar e almoço na igreja

Sexta dia 23 de Fevereiro

Digam-me uma coisa, para eu ver se eu sou lerda, ou se é geral: Quando ouvem que há um “Unplugged Evening”, num sitio chamado Globe Café, o que é que pensam?

Que é um café, certo? Até porque em Londres passámos por um, que se chamava isso e ostentava, como logotipo, os 7 continentes, (eu pensava que eram 6, mas a Wikipédia subdivide a America em dois continentes), logo faria sentido.

Mas longe estava tal assumpção da verdade, pois foramos dextramente ludibriados pelos sacaninhas dos religiosos, que como já mencionei, estão por detrás de tudo, incluindo o BISC e Hodgkin House – não me entendam mal, apesar de eu pessoalmente ser “Nada”, no espaçinho referente à religião, e ser feliz assim, desde que não me azucrinem, está tudo bem para mim, sejam lá o que quiserem, uma mentalidade que se fosse mais generalizada, teria poupado muitas guerras e muito sangue, e concordo com o George Carlin, um absolutamente espantoso Stand-up Comedian americano,(vão ver ao Youtube) quando ele diz que deveria haver mais um mandamento que seria “Thou shalt keep thy religion to thyself” – mas desta vez foi particularmente engraçado. O Globe café é uma....IGREJA! Eles devem ter pensado: Havemos de os meter na igreja, seja como fôr, e conseguiram, um monte de estudantes internacionais, de minisaias escandalosas (eu), e bolsos recheados de dinheiro para pints(eu não) subitamente acharam-se numa Igreja cheia de bebidas não-alcoólicas, quiches e pizzas, na qual estava também um pequeno palco para quem quisesse actuar.

Mas ninguém levou a mal, após o primeiro choque, afinal de contas foram muito simpáticos, e ninguém nos tentou converter, de qualquer modo. Houve várias pessoas que se atreveram a pisar o palco, algumas com uma certa dose de descaramento louco, primeiro foi uma banda bastante conhecida em Bristol, os “Transition”, depois foi um caso de decaramento perdido, o Lee, da Malásia, cheio de atitude de rock-star-gothic-I-don’t-know-what-he-was-thinking, cheio de lápis preto nos olhos e a tintilar de pulseiras de picos, uma espécie de versão asiática do Bill dos Tokio Hotel, que trepou lá para cima, com uma guitarra eléctrica e tocou e cantou o....Nothing else matters, dos Metallica, e desafinou de tal modo, numa vozinha tímida, que até eu notei, e isso quer dizer muita coisa. Mas tadinho, era só a segunda vez (the “two”time, - como ele dizia – I perform for a crowd) que pisava um palco, e até então só tinha tocado baixo...após algum aplauso por pena foi a vez de um conjunto de pessoal asiático e africano, que tocaram uns covers, e uma rapariga da Malásia que cantou “Crazy” do Knarl Bargles (não, não é isso, fui agora ver e é Knarles Barkley que eu quero dizer, estou pior, estou...Barles Knarkley, Barg Knarley...Knob Gnarley...também, que raio de nome), e o melhor foi sem dúvida o meu esposo, - e não sou nem um bocadinho parcial - que cantou Sweet home Alabama (devem ter adorado a parte do “Lord, I’m coming back to you...”), foi pena não haver tempo para mais...Queria que ele ainda tocasse o Mr.Jones...

Quando acabou ainda fomos a um bar grego, chamado Yia Mass, com a Marie e o Bjerke, a Claire, o Imran, a Ruth e uma rapariga japonesa cujo nome esqueci, pois sou uma mal-educada e tenho muita dificuldade com os nomes extra-europeus que também não sejam Americanos. Ficámos à volta de uma mesinha que depressa desalpinou dali, pois o Filipe e o Imran precisavam de fazer a dança do ventre e outros movimentos pouco ortodoxos e hilariantes, quase morremos a rir.

Considerando que no primeiro dia não pareciam muito entusiasmados um com o outro, após terem feito Yoga juntos, mais o Pedro e um rapaz chinês, (que até então nunca tinha dito uma palavra, na minha presença), aqueceram bastante.

Fica uma imágem mental de três seres do sexo masculino encostados à parede da sala, a tentarem ficar perfeitamente direitos. “Do I look natural to you???”, perguntava o Pedro, enquanto esticava o peito tipo super-homem... A Ruth, que parece muito tímida, também se revelou, o Bjerke, que é um dinamarquês gigantesco, nem cabia dentro daquela parte do bar, tinha que dançar sentado ou corcunda, o Filipe ao pé dele parecia mais largo do que alto, e o resto do pessoal parecia palitos partidos.

Domingo, dia 25

O Filipe foi-se embora muito cedo, mas como já sei que voltará nas férias da Páscoa, não custou assim tanto.

Não tomei pequeno-almoço, pois tinhamos sido todos convidados para um almoço de estudantes internacionais, nativos, e visitantes, numa, imaginem só, igreja. Eu a princípio não quis ir, pois tinha alguns restos de pouca vergonha agarrados ào fundo do meu ser, e parecia-me mal e hipócrita ir lá à igreja sem ter a mínima ideia de me afiliar nela, nem nesta vida nem na próxima, mas após a Claire me dizer que as sobremesas eram absolutamente de morrer por mais, e após, em adição a esse argumento (já de si muito convincente), ter descoberto que todos os muçulmanos e hindus convictos estavam prontinhos para ir, perdi a vergonha.

Deixei a decência de molho em água quente, e daqui a und dias raspo-a com um esfregão de aço, vai ralo abaixo, e começo a ir à sopa dos pobres e a pedir subsídios, sob a pretensão de ser uma mãe desempregada com trigémeos, um marido alcoólico, um cão alcoólico também, a tomar conta das minhas três avozinhas paralíticas, cegas e com Tourette syndrom. Ah, e o meu canário é HIV positivo.

As sobremesas eram realmente muito boas, comi cheesecake, pavlova, salada de fruta, bolo de chocolate, bolinhos de rice crispies, e já não tive espaço para o trifle nem para um bolo de mel...

Depois do almoço fomos com a Claire ver um filme japonês, num cinemazinho que passa filmes independentes. Eu nunca tinha visto nenhum, tinha legendas, claro está, e gostei bastante. É muito diferente dos filmes que estamos habituados a ver, e há umas paisagens lindas, no Japão, eu tinha a ideia errada de que não havia lá nem um metro quadrado de terra que não estivesse cheio de ecrãs plasma, telemóveis, e pessoas de cabelo cor-de-rosa...Chama-se “Canary”, o filme, e é sobre um casal de irmãos, separados por causa da sua mãe psicótica que se filia numa seita religiosa, chamada “Nirvana”. Se puderem ver, façam-no.

Ainda jogámos um bocado de ping-pong, eu e a Claire, para desmoer as calorias, mas acho que assim não me safo, vou ver se começo a jogar basquete, às sextas-feiras, com uma rapariga alemã que conheci no BISC, senão vou ficar barriguda, a minha pior paranóia. Magrinha tudo bem, mas magrinha e pançuda é que não, e infelizmente é só nesse sítio é que engordo. Se havia de criar um rabo de Jennifer Lopez, não: fico com pançinha de sapo...Isto é justo?

Sunday, 25 February 2007

O meu primeiro encontro com Londres

Bom, tendo já recebido várias reclamações acerca da demora de novidades aqui no blog, deixem-me dizer que eu não vivo só para vos entreter! Tenho cá o meu Filipe, e tudo o que tenho feito é passear, namorar, e comer peixe fumado, uma delícia que descobri no Sainsbury’s, e que tinha comido pela última vez na Alemanha, o verão passado, logo tinha saudades.

Terça-feira dia 20 de Fevereiro

Às cinco da manhã, vil hora, acordámos ao som de dois telemóveis, que substituem o bom velho despertador, mas que nem por isso tornam o cedo erguer numa tarefa mais fácil...Vamos a Londres!, pensou a melhor parte de mim, Cretina! Porque é que não marcaste os bilhetes no autocarro das nove??, resmungou a pior, e maior parte de mim.

Marquei os bilhetes mais matinais porque assim estaríamos in loco mais cedo, às nove e meia, de modo a que conseguiríamos aproveitar ao máximo as minhas primeiras excursões pela capital das capitais, da qual já tanto tinha lido, desde Charles Dickens, passando por Wordsworth, Dan Brown, Lord Byron....Que entusiasmo!

Após duas horas e meia de desconforto, a dormitar de pescoços torcidos num autocarro lá chegámos a Victioria Station, uma viagem que custou 14£ (ida e volta)por pessoa, o que não foi um bom preço, mas eu não sabia que era preciso marcar os bilhetes com antecedência...

A primeira coisa que fizemos foi arranjar passes para um passeio turístico chamado “The Big Bus Tour”, custa 20£ por pessoa, mas é válido por 48 horas, há estações por toda a cidade, os autocarros – uns doubledeckers cujo primeiro andar é decoberto – passam de 20 em 20 minutos, e pode-se subir e descer as vezes que se quiser. Com comentário audio ou ao vivo, e ainda vem com um passeio de barco e uns passeios a pé incluidos, o Beatles Walk, o Ghost Walk, e outro do qual me esqueci.

Arrancámos, passando Hyde Park e o Marble Arch, e a primeira paragem na qual saímos foi o famosíssimo Madame Tussaud’s, cuja cúpula verde foi a única coisa que apreciámos, pois ao ver o preço dos bilhetes, 25 POUNDS POR PESSOA deu nos a forretice, e não entrámos. Ex-libris uma ova, há um limite para tudo, e isso é sem dúvida a linha vermelha...fomos antes ver o Beatles Store, onde comprei um postal com a memorável passagem da passadeira de Abbey Road, que figura na capa do álbum de igual nome, e a qual pretendia re-encenar o mais cedo possível, como já tinha afirmado quando ainda estava em Évora.

Próxima paragem: Picadilly circus, (diga-se de passagem que circus não tem nada a ver com o circo dos palhaços, mas com a palavra “círculo”, isto é, espaço redondo, por assim dizer, praça.), onde tirámos fotos com uma escultura dos cavalos de Helios, e o monumento com um anjo que fica no centro da praça, espreitámos as ruas de Soho, bairro posh, equivalente talvez à Lapa, em Lisboa, e que deve o seu nome a um grito se caça medieval, supostamente, Soooo-Hooo, Sooo-Hooo...Aposto que há mais 500 explicações.

Aí tivemos que interromper o nosso passeio, para irmos até a casa do Tim, o amigo do Filipe em Londres, em casa do qual iamos passar a noite. Ele mora em Hern Hill, Monte das Hérnias, em bom português, um sítio um bocado periférico mas bonito, com ruas de casas todas iguais que mesmo assim tinham bastante charme, feitas de tijolos cor de barro, com telhados bicudos.

Voltámos para Trafalgar Square, com os seus quarto leões gigantescos a guardarem o Lord Nelson, de quem diz a má língua que só tinha um braço, pés enormes, e muito mau hálito, mas que ficou conhecido históricamente pela sua participação heróica nas batalhas napoleónicas, expecialmente na de Trafalgar, na qual perdeu a vida, sendo que as suas últimas palavras teriam sido: "Thank God I have done my duty."

Trepei com dificuldade para cima de um dos leões, polido por 167 anos de rabos a escorregarem por eles acima e por eles abaixo, e que tem a particularidade de ter patas de cão, em vez de patas felinas, já que o escultor que os criou nunca tinha visto um leão ao vivo, e disso ficam memoráveis fotografias.

O Filipe passou vários minutos a ajudar miúdos acompanhados de avozinhas gratas a subirem e a descerem, (só os miudos é que subiram, não as avozinhas, entenda-se) para depois passarmos pelo numero 10 Downingstreet, a residência oficial do nosso estimado Tony Blair, onde se podem ver e fotografar guardas de uniforme, a cavalo.

É um saltinho daí para o aglomerado de ícones Londrinos que abrange os “Houses of Parliament”, também conhecido por palácio de Westminster, uma obra arquitectónica impressionante, num estilo neo-gótico, inspirado no Westminster Abbey, e construído entre 1840 e 1888, seguindo os planos de um arquitecto chamado Charles Barry. As suas duas torres, o Big Ben, com o seu relógio de 13 toneladas e o Victoria Tower, no topo do qual o Union Jack é hasteado cada vez que há sessão parlamentar, estão inseparávelmente ligadas à sensação londrina para turistas. No outro lado da estrada, Westminster Abbey, o sítio onde desde 1066, todos os reis e rainhas de Inglaterra foram coroados, e onde muito boa gente está também enterrada, entre outros Charles Dickens, Rudyard Kipling e Geoffrey Chaucer...

Tirámos fotos em frente da estátua de Winston Churchill, (o primeiro-ministro, não o nosso cãozinho, esse ainda não tem estátua, e aliás, tem nos dado algum suor, mas tudo menos sangue e lágrimas), e seguimos no Big Bus até St.Pauls Cathedral e Tower Bridge, mas já era tarde demais para entrarmos, pois fecha tudo muito cedo, por volta das 17:00horas, assim que se adivinha um toque de crepúsculo.

Mas havia uma coisa para a qual nunca é tarde: as estações de comboio, ou mais concretamente, uma estação de comboio que povoa o meu imaginário há alguns anos: Kingscross, imortalizada pela J.K. Rowling nos livros do Harry Potter, que aproveito para recomendar a todos, se possível na versão original. A estação não só existe, como existe também a plataforma 9 ¾, de onde parte o Hogwarts Express, é uma tabuleta muito modesta, igual à das outras plataformas, nada de truques de marqueting à volta, mesmo só para quem sabe, mas tem a particularidade de ter um carrinho de bagagem enfiado para dentro da parede, até metade. Fartei-me de o empurrar, mas é claro que tinha que ser eu a ficar a meio da passagem mágica, sem conseguir avançar...Que trampa...a pensar no dinheiro que já tinha gastado em caldeirões e livros de magia... Ficou um certo sentimento de frustração, por não passar de uma muggle comum...só faltava passarem os Weasleys, e entrarem lá para dentro sem me ligarem nenhuma...Seria como descobrir que o Pai Natal não existe. Mas o que esperamos nós, num mundo em que o actor que faz de Harry Potter passou agora para os palcos londrinos com uma peça de teatro obscena, chamada “Equus”, que pelo que li tem partes de semi-pornografia Zoofila...Feio, muito feio. E a vergonha que as mães vão passar, que levarem as suas filhotas perdidamente apaixonadas pelo Harry a ver tal coisa, em vez de um feitiçeirozinho rechonchudo, de cachecol às riscas e coruja farfalhuda ao ombro, aparece-lhes uma criatura semi-adulta, de six-pack e quem sabe cheio de pêlos em locais menos recomendados, a simular orgasmos empoleirado num cavalo....Sinceramente, Daniel Radcliffe, eu sei que segues assíduamente este blog, li algures que estás a tentar escapulir-te do contrato para não teres que fazer os restantes filmes do Harry Potter, e garanto-te que tens a minha bênção para o fazeres. Vai em frente, rapaz, e tomara que tivesse sido a minha falta de consentimento que no-lo conservou tanto tempo. Au revoir!

Outra das maravilhas de Londres que não se podem perder, é passear por Chinatown, à noite. Parece que caímos em China, e ainda por cima calhou-nos a altura do ano-novo chinês, de modo a que estava tudo absolutamente crivado de lampiões vermelhos em saudação ao ano do Daniel Radcliffe, perdão, ano do porco. É restaurante chinês atrás de restaurante chinês, para não falar das lojinhas com vegetais e frutos que nunca vi na vida, e que se mos dessem nem saberia se os haveria de ralar, cozer, descascar, pôr de molho ou fritar inteiros...já alguém cozinhou raizes de nenúfar?? Estou aberta a sugestões.

Lá em Hodgkin House os chineses andavam que nem galinhas malucas a produzir Dumplings, uma espécie de híbrido entre um rissol e um torteloni gigante, cheio de coisas indefinidas cortadas em bocadinhos muito, muito pequeninos, e molhado em molho de soja. Essas coisinhas absolutamente invadiram os frigoríficos e congeladores, só na minha parte da prateleira estavam pelo menos uns 100.000, e tive que proceder a uma escavação cuidadosa para remover os meus rissóis verdadeiros sem desabamentos, e depois tive que explicar vinte vezes que não, não eram dumplings, e sim, fritavam-se em óleo, e não se coziam em água. Siiim, tenho a certeza!

Os nossos pés entraram em greve algures por volta das 10:30, e após um McDonaldszinho que caíu que nem pedras nos nossos estômagos vazios dormimos bem mas pouco em casa do Tim, numa cama enorme e fofa, que foi um contraste bem vindo à minha modesta caminha de estudante, na qual eu e o Filipe nos temos que virar em sincronia para conseguirmos dormir, e nem pensar na minha querida posição de feto...Escassas horas mais tarde às 7 da matina desejámos as boas vindas a mais um dia glorioso, rumo a Abbey Road, de foto em riste, toalhitas para limpar o pézinho após atravessar a passadeira descalça, e uma grande vontade de rastejar e beijar as pedrinhas da calçada. Contive-me, mas não me contive em colocar o Filipe no meio da estrada – por uma questão de realismo da perspectiva – parar o transito e atravessar repetidamente a passadeira em frente aos estúdios de Abbey Road. Para lá num passo comedido e solene, para lá aos pulinhos e à pressa, para ver se a foto tinha ficado boa. Um casal de brasileiros que nos observava, e que se fartava de rir, após elucidados acerca do porquê dos pés descalços numa madrugada fria em inglaterra, e convencidos através da presença da prova fotográfica - que mostra sem margem para dúvida um Sir Paul Mcartney descalcinho como eu, ou vice-versa, - discutiram o assunto, chegando à conclusão que ele, o rapaz, iria descalço também, enquanto ela preferia ser um dos calçados “eu quero ser o Jóhne Lénnone”, dizia ela no seu sotaque carioca.

Ficámos com umas fotos giras, de tanto eu quanto o Filipe a marcharmos o local histórico, que por acaso está 24 horas por dia na net, pois há uma web-cam que o filma. Só espero que não tenha dado para ver, em directo para o mundo inteiro, os meus dedos dos pés peludos e assimétricos, que vergonha!

A seguir veio um banho de cultura e história, que foi talvez aquilo que gostei mais de toda a minha visita a Londres...The Tower of London! Dói largar 12 a 15 libras à entrada, mas de qualquer modo já se está dormente, nesse aspecto, e vale muito a pena.

Tivemos direito a uma visita guiada por um Yeoman, mais conhecido como “beefeater”, trajado a rigor. Estes guardas existem no Tower desde o século XIV, e hoje ostentam no peito as iniciais E R e II, o que significa Elisabet Regina II, Queen Elisabeth the second. Existem cerca de 35 destes guardas, que com as suas famílias, formam o conjunto de 150 passoas que habitam permantentemente o Tower. O Tower, por acaso, não é nada uma torre, como eu pensava, é uma fortaleza imponente, acastelada, que abrange várias torres, e até casas, tudo rodeado de uma parede emorme e de uma vala que desde há uns anos para cá já não contém água, mas sim uma coisa típica deste país: chá. (mentira, é relva).

O nosso guia era excelente, muito teatral, e levou-nos numa viagem às mais sangrentas vielas da história do Tower, com os assassinatos dos jovens príncipes, filhos de Edward IV, com apenas 9 e 12 aninhos, o fim macabro de John Scott, cujas pretensões ao trono de Inglaterra o levaram a ser enforcado, estripado esquartejado, decapitado, voltando-se-lhe depois a coser a cabeça para ainda ser possível que fosse pintado um retrato, àcerca do qual a mãe do pobre diabo terá supostamente afiramado que não era muito “lifelike”...

Parece que um dos desportos favoritos dos Ingleses, antes de ser inventado o futebol, era cortar cabeças...quanta decapitação...não só em Tower Hill, na praça pública, como também para a clientela mais requintada, num recinto no interior da fortaleza, muito privado, só para a família mais próxima, um local chamado Scaffold Site, onde de resto deixaram a vida e a aorta várias senhoras bem conhecidas: duas mulheres do infame Henry VIII, Anne Boleyn e Catherine Howard, e também a infeliz e mui jovem (17 aninhos apenas) Lady Jane Grey, que foi apressadamente proclamada rainha após a morte do fragilzinho Edward VI, coisa que não agradou muito à sua prima católica Mary, futura Bloody Mary, que de imediato praticou um acto muito cristão sobre o delicado pescoço da donzela. Se tiverem oportunidade, não deixem de ver o quadro alusivo à ocasião, que se encontra na National Gallery, pintado por Paul Delaroche.

Foi muito impressionante andar sobre as mesmas pedras da calçada e entre as mesmas paredes que a rainha Elisabeth I, imaginá-la a entrar por Traitor’s Gate, numa manhã fria, com o nevoeiro a subir das águas lamacentas do Thames...

As joias da coroa é que não me disseram nada, muito pomposas e pesadonas...hummm...devo ser a excepção à regra “diamonds are a girl’s best friends”, se alguém me oferecesse um acho que ficaria muito desiludida...uma coisa tão pequena, quando com o dinheiro podia ter comprado tanta coisa fixe...

O nosso plano era ainda vermos a National Gallery e o Tate, mas tinhamos subestimado o tamanho da galeria nacional, que fica em Trafalgar Square, e sobreestimado a qualidade dos nossos pés, que a meio caminho entre Botticelli e Picasso se desfizeram em joanetes sangrentos, com nenhuma carne entre os metatarsos e o chão, e quando encolhiamos os dedos dos pés, doía...Deixámos o Tate para uma próxima visita, e fizemos antes o cruzeiro pelo rio, que estava incluido no preço do bilhete de autocarro, entre o London Eye, que é uma roda gigante e Tower Bridge, durante o qual pelo menos podiamos descansar as canetas e admirar a vista lindíssima de Londres ao anoitecer, com as luzes todas, e as pontes iluminadas, muito romantico, muito kitsch.

Também passámos pelo Globe Theatre de Shakespeare, que é uma réplica do original que foi destruido por um incêndio em 1613, mas obviamte estava fechado, deu só para tirar uma foto.

O nosso comboio era às 21:00horas, o que nos deu tempo para jantarmos em Chinatown, não sabiamos muito bem o que estavamos a pedir, eu recebi um prato enorme de massas com bocadinhos de carne, e o Filipe bolinhos de camarão com molho agridoce e arroz...

E assim acabou o meu primeiro, mas com certeza não último passeio a Londres, a acabar “Rose Madder”, do Stephen King, um banco à frente de um sujeito que telefonava á namorada de cinco em cinco minutos, só para saber como estava o joge de futebol...

Thursday, 15 February 2007

Post da comida...Festa internacional

Terça, dia 13

Hoje fiz rissóis de camarão...Amanhã é o jantar internacional no BISC, e devemos levar comida do país de onde somos, e então optei pelos rissóis. Foi uma trabalheira, mas graças a uma conjunção de receitas, uma que me deu a minha avó, e outra que me deram as ladies da Quinta da Cabouqueira, (onde comi dos melhores salgadinhos da minha vida), saíram óptimos. O pessoal até se vai passar da cabeça.

Comprei também algo que nunca tinha comprado: uma caixa de “lychees” aqueles frutozinhos que servem nos restaurantes chineses. Tinha comido uns enlatados, uma vez, mas tinham consistência de lesmas mal-mortas, e só este natal é que provei frescas, e gostei bastante. Não tem nada a ver.

Mas se vamos falar de comida, falemos a sério, com os relatos frescos do international feast, no dia de S.Valentim:

Estava organizado tipo bufete, as pessoas chgavam e punham a comida que traziam em cima de uma mesa grande, após terem pintado um papelinho com a bandeira nacional de um lado, e o nome do prato do outro.

Eu absolutamente assassinei a parte central da nosso símbolo nacional, sou a vergonha da nação, esqueci-me de tudo, quantos castelos eram, onde ficavam, o que fazer às quinas e onde enrolar a esfera armilar...Acho que até um coelhinho acrescentei. Graças a Deus não estava lá mais português nenhum...Só por pura vergonha, na próxima festa internacional faço um prato alemão, pelo menos essa bandeira eu sei desenhar.

Os rissóis mal chegaram a pousar, o pessoal parecia uma nuvem de gafanhotos, varreram o prato em menos de nada! Eu provei um bocadinho de tudo, sendo que as duas coisas mais estranhas eram umas bolinhas de arroz, japonesas, cheias de minúsculos peixinhos fritos, inteiros, do tamanho de...sei lá, de Néons ou de larvazinhas. Muito estranho, e com um gosto muito peixoso...hmmmmm....E absolutamente abominável, peço desculpa, foi a sopa doce, uma sobremesa chinesa, que era feita de ingredientes importados directamente não da Tailândia, mas da China. Era um caldinho transparente, pouco doce, no qual flutuavam frutazinhas nunca antes vistas pelos meus incultos globos oculares, uns que pareciam ameixas esbranquiçadas, e uns que pareciam piri-piris cor-de-laranja, mas o cúmulo eram os fungos brancos, que escapam a qualquer descrição, mas vou tentar. Sabem a pele do leite? Imaginem que a água formasse uma pele semelhante...ou uma coisa como o resto que fica no copo depois de se dissolver gelatina simples...em forma de líquene....mui estranho, e deverás difícil de apreciar para o meu palato alentejano.

Em alemão custuma-se dizer “o camponês não come aquilo que não conhece”, espero não estar a dar essa impressão, tento ser aberta, e as outras coisas todas estavam muito boas, inclusivé um sushi de atum enrolado numa alga preta. E não deixei de provar tudo, mesmo quando continha peixinhos tipo girinos cheios de olhos.

A tortilla e o quiche estavam de morrer por mais, os Spätzle só precisavam de um toque de sal, os dinamarqueses (um casal muito simpático chamados Marie e Bjerke) tinham feito óptimas “Frikadellen”(almôndegas) e pãezinhos, e os quadrados da Virgem, que eram mexicanos, também foram um successo, embora tivessem 4piri-piris por decímetro quadrado. As sobremesas árabes, de massa folhada e amêndoas eram maná, e os bolos, o Kirsch-Tischl e a Mousse não deixaram a Europa nada mal-vista.

O bobo da festa foi um rapaz alemão que teve o descaramento de trazer bananas...não chegámos a descobrir onde é que isso era típico da Alemanha, mas talvez ele fosse da ex-DDR, e ainda não tivesse acabado de matar o desejo....Pelo menos comeu umas, se bem que possívelmente só para provar o seu ponto. Mas houve mais um Checo que também optou por comprar bolos ingleses...é que pelo menos disfarçava, e comprava bolos checos, não?

Fui agora interrompida pelos sons bélicos do exército de bravos que luta pelos seus “washing tokens”, ou seja, as fichas que é preciso introduzir nas maquinas de lavar e de secar, para que elas funcionem. Há um número fixo destas fichas, e aparentemente algumas destas aves raras tem tendências de hamster, enfiando-as nas bochechas assim que as recebem, para depois as coleccionarem numa gaveta do quarto, possívelmente para uma vez por semana abrirem a gaveta, e alegrarem-se com o tintilar sonoro e metálico, sabendo que são os únicos em Hodgkin House que poderiam, se quisessem, lavar 10 maquinas de roupa seguidas. Não vou falar em nomes, mas o Calvin diz que é alguem vindo de uma cultura onde as mamãs tratam da roupa dos filhotes até estes casarem com uma mulher que o faço, logo desconfio do nosso compincha do país de Donatello. Mas a mim não me toca, pois eu tenho peúgos que me duram para dois meses, se fôr preciso.

Agora por falar no Calvin: Adivinhem op nome do irmão gémeo dele? (se disseram Hobbes, está errado) É Alvin, e o mais velho chama-se Ervin! E eu que pensava que Timmi e Tommi era a conjugação mais cómica que havia...(conheço mesmo um casal cujos filhos se chamam assim, e ela está grávida de novo...ainda faltam o Temmi e o Tammi, né?)...

Bom, vou fazer um croissant com nutella e uma caneca de chocolate quente, que hoje a lua está no signo de comida.

Monday, 12 February 2007

Rhythm and Rhymes, Turkey and Good News!

Segunda dia 12...

....não ando muito certa com as datas, mas sei que o dia de S.Valentim é na quarta...Logo hoje tem que ser 12, e não sei onde é que o onze ficou...

Quando sai de casa hoje para ir para a minha primeira aula de Rhythm and Rhymes, o correio tinha acabado de chegar, e com ele *dança de alegria*, uma envelope grosso destinado à minha pessoa, que deverá conter a minha prendinha do dia dos namorados.

Agora é um suplício de tântalo, posso vê-la, mas nã abrí-la...que curiosidade! Mas serei forte.

A aula foi muito interessante, estou bastante contente com o meu programa, e acho que fiz muito bem em mudar. A aula é leccionada em inglês e está cheia de nativos, mas os textos são em brasileiro, o que me deixa com uma vantagem clara pois os nativos estudaram um aninho ou dois de português, o que não facilita a interpretação de palavras como “otário” ou “malandragem”...

Infelizmente já perdi duas aulas, mas a professora diz que não há problema. Ela é muito simpática, parece uma india brasileira, pequenina e moreninha, mas não se chama Iracema, chama-se Lorraine Leu. Deram-me uma espécie de caderno com o programa da disciplina e os textos, e o rapaz que fica atrás de mim vai me emprestar os apontamentos, de modo a que acho que estou bem encaminhada.

É giro estar numa aula que não está cheia de internacionais a lutarem com a gramática, assassinando-a, até há aqui nomes como Becky e Nick! Nick! ...pensava que só em Boysbands mesmo...agora só falta um Brian e um Howie...Backstreets Back Alright!

Desculpem, mas estou habituada a que o meu colega de carteira se chame José, no melhor dos casos CHHHosey (sotaque espanhol, sff), Adrienne, ou Mohammed.

Caí em Inglaterra, finalmente.

I am ‘appy, como diriam as francesas. Vot voz I vaiting for, como diriam as alemãs. CHCHCHCHC, como diriam os espanhóis.

Agora estou à espera da outra aula, que é só ás 16:00, e entretanto ainda almoçarei sardinhas enlatadas portuguesas com baguette do dia “ante-ante-rior”, espero que a torradeira as salve. Sabem que se não tiveram pão fresco em casa podem cortar fatias de pão duro, humedecê-las com um bocadinho de água, e depois de torradas ficam como novas? É muito útil.

Há pessoas parvas em todo o lado: Na aula da tarde tive uma prova disso.

Aqui as salas são todas equipadas com um Computador mais projector, uma tela para projectar imagens, que desce e sobe, e um quadro grande no qual se escreve com uma espécie de canetas de feltro, e não é que uma ave rara escreveu com a caneta na tela de projecção, em vez de no quadro???

Quando chegueio a casa e fui cozinhar as minhas batatinhas salteadas com alho francês, cogumelos e o resto do perú de ontem fartei-me de rir com dois rapazes tailandeses. Um deles estava a desmanchar uma coxa de perú, mas fazendo uma carnificina que tomava proporções quase Jack-the-Ripperescas, foi teatral:

Two Thai boys, both alike in dignity,

In our filthy kitchen, where we lay our scene

From ancient cuisine

To turkey mutiny break

And turkey blood, makes human hands unclean

From forth the fatal loins of this big bird

A funny dialogue almost cost my life:

Enter: Two Thai boys and Pedro from Portugal

First Thai boy: *Chop, chop, corta, raspa, puxa, parte, dobra, esguincha, esfatacha...*

Second Thai boy: What’s di-na?

First T.b: Dinossau!

Pedro: Dinossaur???

First T.b: We calls it Dinossau...it looks like Dinossau. Is vely big!

Second T.b: In Thailand we don’t have this chicken…

Passei o resto da hora a morder o lábio para evitar um sorriso anormalóide que teimava em ressurgir.

Agora desapareceu, o sorriso.

Estou há imenso tempo a tentar decifrar os apontamentos cripticos de um colega. Raios partam. A letra não é feia, parece de rapariga, mas então quem é que diz que é possível lê-la?! Nunca mais...

Mas estou muito contente pois acabei de saber que o meu Filipe pode vir cá uma semaninha inteirinha! Que bom!!! Assim já nem custa nada.

Sunday, 11 February 2007

Viagem a Cardiff e British Cinema

Sexta-feira, dia 9

Estou a planear uma viagem para Cardiff, com a Heike, uma rapariga alemã que conheci no BISC, e duas francesas, amigas dela, a Heidi e a Clotilde, que está em advanced english comigo– não sabia que ainda havia pessoas abaixo dos sessenta anos chamadas Clotilde, mas enquanto se vive, aprende-se...

Mas também posso ir com a Claire e os alunos de japonse que ela tutoriza, um bocado mais tarde, às 11...

Também tive a minha primeira aula de Contemporary British Cinema, acho que vou gostar muito desta disciplina. É com uma professora francesa, e iremos analisar vários filmes ingleses, tais como “Brassed off”, “Elisabeth”, “Trainspotting”, “Caravaggio” and “The wind that shook the barley”, e muitos outros dos quais nunca ouvi falar, de acordo com o contexto cultural, politico, e histórico, os simbolismos, a imagem da mulher e do homem ao longo do tempo, o English versus British, o fenómeno James Bond...pano para mangas.

Sábado, dia 10

Hoje o despertador tocou às 7:30 da manhã, pela primeira vez em muitos dias, e a minha mente começou de imediato a inventar desculpas que justificariam o facto de eu não me levantar. É absolutamente inacreditável, mas se dormi pouco até me conseguiria convencer de que não preciso de me levantar para ir buscar um prémio da lotaria, de um milhão de euros, porque saberá melhor eu própria ganhar o meu dinheiro, quando acabar de dormir...

Os homenzinhos dentro da minha cabeça afirmavam convictamente que Cardiff não era nada de especial, que seria perfeitamente suficiente se eu fosse só às 11horas, com a Claire, e que de resto, deveria era ficar a dormir a manhã inteira...

Gostaria de saber como é que eles sabem, pois que eu saiba, também nunca lá foram...homenzinhos estúpidos!

Levantei-me e segui o conselho estúpido de alguem que me disse que era preciso uma hora para chegar à estação de Bristol Temple Meads...Treta! Demorou 12 minutos, e tive que ficar uma hora sentada ao frio à espera das outras meninas. E havia de se pensar que haveria uma sala de espera quentinha, com revistas e uma máquina de água, mas nada! Nem sequer um banquinho de aço dentro da estação, fiquei sentada na rua!!! Aparentemente há salas de espera do lado de lá das cancelas, mas só se entra com bilhete, e eu estava à espera delas para comprar um bilhete de grupo...

Lá chegaram, e partimos para Cardiff, capital de Wales, capital dos dragões. A viagem demora cerca de 45 minutos, e ao longo dos carris via-se alguma neve, um bom bocado mais do que em Bristol, pelo menos. Não tinhamos um plano fixo, mas começamos pelo famoso Millennium Stadium, que a mim pessoalmente não me disse nada, talvez seja preciso gostar-se de rugby e ser-se Welsh...é uma coisa de betão, enorme...pouco mais há que dizer. Um bocado no estilo dos edifícios na zona do parque atlântico em Lisboa, não é o meu estilo.

Mais ao meu gosto foi o que visitamos a seguir, o bonito Cardiff Castle, rodeado de um parque lindo, e recheado de história.

As origens remotam à época em que os romanos dominavam esta zona, sendo que então era uma fortaleza estratégicamente situada, que foi depois desenvolvida para castelo por volta de 1091, pelos Normandos umas décadas após a batalha de Hastings, que, como sabemos, deixou a Inglaterra nas mãos deste povo descendente dos Vikings, e com William o Conquistador como rei.

Já a redecoração e expansão do castelo, danso-lhe o toque requintado que conserva até hoje, remonta ao princípio do século XIX, e ficam-se a dever a John Crichton-Stuart, segundo Marquês de Bute, um nobre escocês ruiquíssimo, ligado à exportação de carvão.

A decoração é muito variada, internacional, misturando elementos hebráicos, muçulmanos, cristãos e clássicos, alternando as opulentas salas arábicas, inspiradas em mesquitas, e carregadas de ouro, com austeras salas de jantar victoriano-góticas decoradas com poucos elementos de madeira esculpida e alguns anjos e jardins de inspiração greco-romana, sobre o céu aberto, no telhado.

No exterior, e à parte do resto do castelo, passamos um carvalho secular, que parecia saído directamente das florestas dos elfos, no senhor dos anéis, e visitámos ainda o pequeno “Norman keep”, uma mini-fortaleza que contrasat com o castelo pela sua simplicidade e nudez.

Na base desta, situa-se a Falconaria, que era algo que nunca faltaria a um castelo medieval. Primeiro não achei graça nenhuma, pois não sou a favor de ter animais selvagens em cativeiro, sem uma boa razão, mas as lindíssimas aves de rapina que pertenciam ao falcoeiro eram todas criadas em cativeiro, e treinadas para servirem de enxota-pombos ou gaivotas, um serviço necessário, e que talvez será conseguido da melhor maneira pelos inimigos naturais. Elas voam absolutamente livres, fazem o seu serviço, atacando gaivotas três vezes do seu tamanho, e voltam para o braço do dono, quando este lhes mostra um bocadinho de pinto, que conseguem ver de uma distância incrível.

A parte negativa é que, como em tudo, não há legilação suficiênte e qualquer bacoco irresponsável pode comprar uma destas aves.

Das que lá estavam, a mais impressionante era um Bufo enorme, só com dez meses, e um falcão peregrino que era da minha idade, e cujos netos estão agora a ser treinados!

Infelizmente por essa altura começou a chover, ainda comprámos uns souveniers , e depois pusemo-nos a salvo num pubzinho que servia baguettes variadas, e que era mais barato ainda do que fast food internacional tipo McDonalds ou Pizza Hut.

Mas porque é que eu não escolhi a baguette??? O demónio deve ter tomado conta de mim, pois cheguei à conclusão que deveria esperimentar comida regional, fish and chips, ou algo de renome... uma Pastie! Foi horrível. Maçuda, não sei se era suposto ser assim, mas parecia mal-cozida, acopanhada por umas ervilhas e batatas fritas. Dizia “deliciosos e tenros pedaços de vaca, num molho cremoso”, e era muito molho gosmento, com muito poucos pedaços de carne cheios de gordura e nervinhos horrorosos, que faziam “gnitch” e me davam ânsias. Nunca mais.

Seguimos para o City Hall, com o seu fantástico dragão em cima de uma cúpula, passámos a universidade, e procurámos abrigo na galeria nacional, onde a Heidi tentou, sem sucesso, secar as peúgas no secador de mãos na casa de banho...ela vinha com SABRINAS, e um chapéuzinho francês, muito Audrey hepburn, mas muito pouco prática considerando as poças Cardiffianas...A água chapinhava, dento dos sapatinhos.

A entrada no museu é gratuita, e aproveitamos para ver algums artefactos históricos de Wales, e também alguma arte europeia, tinham bastantes pinturas do impressionismo francês, e uma versão de bronze de “O beijo”, de Rodin.

O tempo passou num instante, e em menos de nada eram cinco horas, estava a escurecer e apanhámos o comboio para casinha, cansadas, húmidas, de cabelos encrespados, mas contentes e com uma impressão muito boa de Cardiff, a cidadezinha das placas bilingues...

De volta a Bristol, fiz umas compras rápidas, acartei-as para casa, pentei-me e engoli o último bocado de empadão quase em simultâneo e anda fiu ao cinema com a Catherine e o Imran. Íamos ver o Blood Diamond, mas acabámos por preferir o novo do Hugh Grant e da Drew Barrymore, chamado Music and Lyrics. Pensei que ia ser uma típica comédia romântica, mas acabei por gostar muito, tinha um humor bastante irónico em relação à indústria musical, e é sem dúvida um filme que nos faz sentir bem. As vezes não apetece drama, nem lágrimas, nem realismo...Nem todos os dias são dias de Braveheart ou Titanic...

Saímos de lá os três com um sorriso nos lábios e uma vontade breve (cerca de dois minutos) de casar com o Hugh Grant, (embora o Imran negasse tal inclinação veementemente), ou de sermos como a Drew Barrymore até caírmos em nós.

Adormeci a ler uma revista que comprei, mas que é muito digna, escolhi uma que não tem as palavras “boobs”, “yucki” ou “sex” na capa.

Domingo, dia 10

É bom dormir até tarde no meu quartinho quentinho...e ter uma caixa de bolo mármore ao lado da cama para pequeno-almoçar in loco.

Cozinhei qualquer coisa em ar de comida chinesa, com bocadinhos de perú, rebentos de soja e de bambu e massas, para mim e para a Claire, que não anda muito bem, já ontem lhe doía a cabeça, e hoje está pior. Tadinha.

De resto não tenho muitos planos para hoje.

Thursday, 8 February 2007

Muita coisa que fazer...mas lá escrevi mais um pouco

Sábado, dia 3

Não fiz rigorosamente nada de jeito, e senti-me muito mal. Tenho aquele sentimento turistico de que devo aproveitar todos os segundos para fazer alguma coisa que não posso fazer em casa, o que se revela como um verdadeiro stress de lazer...Mas ver TV e dormir posso eu em Portugal, isso é a verdade básica.

À noite deu três episódios das Desperate Housewives, da série nova, meninas, podem se preparar para muito detalhe sórdido, muitas espreitadelas sádicas para o universo irreal mas realista dos abismos da mente feminina...gnihihihihi. É pena é que eu só tenha reparado que é a série nova a meio do primeiro episódio, saltei que nem um salmão, e já não fui nada produtiva o resto do serão... Má, preguiçosa! O que vale é que não tinha chocolates, pois até isso me apetecia...mas nem um Smartie se encontrava...

Domingo, dia 4

Fui às compras, e, lembrando-me do meu sofrimento do dia anterior, comprei não só um bolinho mármore, como também uns Maltesers, e, cúmulo da indulgência: Framboesas. Em Janeiro e na Inglaterra. Mas são tão boas...e ponho as na conta das coisas que posso comprar com o dinheiro que não gasto em vícios como tabaco, drogas ou bezanas.

Mas essa lista é longa e recente, e acho que já abrange mais €€€ que um fumador em cadeia, alcóolico, poderia gastar num ano de vida...

Tambem acabei a malfadada sopa de galinha, que estava excelente, mas que à terceira vez já se poderia ter transformado em arroz de tomate com rissóis, ou jardineira de vaca, acção louvável que infelizmente se recusou terminantemente a levar a cabo. Tenho que rever as minhas medidas, pelos vistos um Tacho grande de sopa é demais para uma pessoa, e uma caneca de arroz também...que querem, cozinhava sempre para mim, para o Filipe, e para o outro Filipe, pois ele come por dois!

Voltando à minha urge turística, hoje decidi ir ao Cabot Tower, no topo de Brandon Hill, que é uma torrezinha que fica aí a uns 10min, se tanto, do Hodgkin House. É um sítio com uma vista espetacular sobre a cidade e o porto, rodeado por verdejantes relvados ingleses, carvalhos idosos – havia um com uma placa a dizer “Plantado em 1902”, e era fininha a comparar com algumas que lá estavam – e muitos esquilos, que aparentemente vem comer ao pé de nós, se tivermos comida.

A primeira vez que vi um fiquei toda entusiasmada, visto que em Portugal, pelo menos no centro e sul não se vêem, e ninguém percebia porquê, pois cá são uma espécie de praga, destruidora de telhados. E alias, a culpa é dos americanos.

Os americanos é que têm culpa de tudo.

Sim, leram bem, pois o esquilo original inglês, tal como na Alemanha também, é ruivo, isto é, cor de raposa, para além de muito bem educado e pontual, of course, e estes esquilos acinzentados que andam por aqui são na realidade esquilos americanos, que tomaram conta de tudo e deviam era ser expatriados, pois inglaterra é dos ingleses e estrangeiros fora!!! Dá para aplicar esta mentalidade até aos esquilos, já se viu...?!

Por acaso este alastramento de animais não-autóctones é um problema do qual pouco se ouve falar, embora possa ter consequencias graves a nível de desequilíbrio dos ecossistemas, que não estão preparados para receber determinada raça assim caída do céu, veja-se o caso dos coelhos na Austrália, dos gatos na Nova Zelândia, das Rãs Boi nos Estados Unidos, ou das abelhas assassinas na América Latina. Aliás, até um gesto aparentemente inócuo como o de entornar um aquário para dentro de um rio pode ter consequencias desastrosas como a proliferação da planta aquática Elodea canadensis...

Mas chega de divagações, e voltemos ao Cabot Tower, com o seu parapeito de cobre engravado com setas e a distância a que ficam dele cidades importantes do mundo.

A torre foi nomeada em honra de um marinheiro chamado John Cabot, ou Giovani Caboto pois pensa-se que seria originário de Génova, e que navegou de Bristol até ao Canadá, num barquinho assustadoramente pequeno, chamado “Matthew”, que ainda pode ser visitado, pois foi transformado em barco-museu e está no porto.

Muitos bristolenses até afirmam que foi este Cabot o primeiro homem a chegar ao Canadá por via marítima, mas talvez seja discutível, pois de certeza que os Noruegueses votariam no Leif Eriksson...Olhem, eu cá acho que deve ter sido um Tuga. Metade tuga e metade alemão, como eu. É que só pode.

Certo é que a torre foi construida para celebrar o quarto centenário desse feito, seja ele qual fôr, decoberta ou re-descoberta.

Resta dizer que fui com a Asifa e o Imran, ambos do paquistão.

Em princípio ia sozinha, mas a Pam, que é a senhora-faz-tudo aqui da casa, apanhou-me e meteu na cabeça que era perigoso, impingindo-me a Asifa como companhia.

Fixe.

Agora sentia-me muito mais segura: acompanhada por uma menina do paquistão, de lenço a tapar o cabelo, e de metade do meu tamanho...A pensar que em casa tenho um Pit Bull, para estas ocasiões...enfim, há que jogar com a prata da casa...ainda apanhámos o Imran pelo caminho, e lá fomos.

Se viesse um assaltante estou desconfiada que eu o teria de esmurrar pessoalmente, pois o Imran ainda é mais magrinho que eu, mas pronto, em caso de caso, até se o Winston estivesse comigo o desfecho seria esse, pois nem o cão serviria para me defender, acho.

De volta a casa fiz o batido mais delicioso dos dias da minha vida, com iogurte grosso (greek style, como se chama aqui), e framboesas, e descobri que não existe varinha mágica na cozinha. Portanto se calhar foi mais um esborrachado do que um batido, usei o coiso para fazer puré de batata.

O serão foi passado na sala da TV, que é onde o pessoal se junta todo, para ver TV, conversar, discutir, comer coisas pouco saudáveis e aquecidas no microondas em cima dos joelhos, falar pelo Msn nos laptops ou conversar pelo Skype. Há um rapaz da China que se senta no sofé às 5 da tarde, com toda a parafernália comunicativa agarrada à cabeça, e conversa toda a noite com os amigos da China, sem nos dirigir a palavra. Não admira que o inglês dele não desenvolva, mas para isso podia ter ficado lá, e poupava a viagem e a renda.

Por acaso o Pedro estava a queixar-se que desde que há net cá em casa, a comunicação inter-residentes deixou de se fazer, pois está tudo colado aos ecrãs.

Segunda, dia 5

Pensamento do dia, ligado à minha educação por uma senhora que me ensinou, entre muitas outras coisas, que o pior que podemos fazer à nossa saúde é a porcaria dos doces (informem-se acerca da teoria alimentar macrobiótica, se restam dúvidas ou interesse): Não posso ir ao Cream Tea no BISC sem começar por comer qualquer coisa decente (=Yang), para contrabalançar todo aquele inevitável intake de Yin durante o chá.

Conclusão à qual cheguei após este pensamento: Vou almoçar primeiro, embora tenha acabado de me levantar.

Cozinhei, tarefa que demora muito tempo, nem que seja por causa dos estúpidos fogões electricos que demoram uma eternidade a aquecer e que depois demoram uma eternidade a arrefecer, de modo a que queimam a comida dos pobres inocentes viajantes portugueses que não sabiam disso, e não tiraram o tacho... Fogão que é fogão, é fogão a gás, e quando se desliga, está desligado.

Enquanto esperava que a água fervesse, deu-me fome, e comi um qualquercoisainhacroissantebatidoenormeblbblblbbl...enfim, um snackzinho.

Vá se lá saber porquê, não me apeteceu muito o esparguete.

E ainda estava cheia quando cheguei ao BISC, o que não me impediu de me empanturrar mesmo assim.

À noite fizemos um jantarzinho aqui em casa, com a Ruth do BISC, e comida nativa: Beans on Toast!! Fatias de pão-de-forma com feijão enlatado em molho de tomate, e arroz branco. Já conhecia os feijões do English Breakfast, tão vulgarizado por terras algarvias, mas nesta conjugação nunca tinha comido...Continuo a preferir uma boa sopa de tomate à alentejana, mas cada maluco com a sua pancada. Uns torram fatias de algodão, barram manteiga nelas, deixam nas arrefecer para tomarem aquela consistência borrachosa, outros deixam o pão endurecer, e depois encharcam-no em água de peixe...

Foi animado cozinharmos todos juntos, e embora a Claire comprasse uma garrafa de vinho branco, ninguém a abriu, por isso não foi devido a isso.

Terça-feira dia 6

Fui à Students Union para me inscrever no passeio para Cardiff, o que fiz com successo, e para o passeio a Salisbury e Stonehenge, com pouco ou nenhum successo, pois só venderão os bilhetes após dia 17 de Março, e pelo que disseram egotam em menos de nada, logo vou ter que ser veloz, pois isso é um sítio ex-librico, o qual não posso perder.

Depois fui procurar uma prenda de São Valentim, a invenção consumista nascida de pura estratégia de marketing, à qual mesmo assim é impossível escapar, pois não queremos ser maus parceiros, ainda para mais estando tão longe...

Segui pela White Ladies Road, que não deve o seu nome à tradicional aparição fantasmagórica de uma senhora branca, mas sim, mais uma vez, ao passado eslavagista bristolense, pois era a rua onde passeavam as senhoras brancas, e os escravos negros nem lá podiam por o pézinho, tinham que se contentar com outra rua, Black Boys Hill...tempos injustos.

Não encontrei prenda de jeito, mas em compensação tive a má ideia da manhã, concluíndo que se cortasse àn direita, em vez de voltar para trás e ir pelo caminho que conheço, chegaria mesmo à portinha da Universidade.

Confiei no meu paralítico sentido de orientação, que se limita a achar a casa de banho, (enquanto durmo), e a porta do frigorífico (quando tenho os olhos fechados devido aos efeitos encandeantes de uma hibernação que de repente se transforma em dia de primavera, com o esgar malicioso dos cortinados) e paguei por isso, perdendo me entre as pitorescas casas e ruas de Redfield. Andei, andei, andei, praguejei um bocadinho, andei mais, mandei o pensamento “Cortas aqui à direita e é um instante...” passear Camões, perguntei a nativos que me diziam que era longe, apontando para pontos cardeais completamente distinctos com a maior das certezas (acho que um até apontou para dentro de um buraco no chão, afirmando que era por alí), mas nunca desisti.

Pelo menos fiquei a conhecer Redland, que também tem casas muito lindas, e ruas com nomes saídos directamente do Harry Potter, ou vice-versa, como Trelawney Road, Trevor Hill, etc...

A razão pela minha pressa era fundamentada, pois ainda não tinha dito, mas este foi também o dia da minha primeira aula. Halleluja!

Foi Advanced English, com o Professor Dominic O’Dwyer, que também dá English for Business Purposes. Parece que é um curso de cultura geral inglesa/britânica que foca, tal como o do business english, a componente prática e o uso da língua no dia a dia, muito adaptado ao que os alunos acham interessante e gostam de fazer. Não sei se isso é bom oun mau.

Conheci mais uma menina portuguesa, a Catarina de Leiria, estudante de sociologia vinda da Universidade da Covilhã, ela ficou toda contente de ouvir um português tão português de uma fonte tão inesperada, até porque ela, ao contrário de mim, passou um mau bocado assim que aqui chegou, não conhecia ninguém, nem conseguiu criar contactos tão depressa, e então fartou-se de chorar...

À tarde deu-me mais um acesso de génio, e resolvi que precisava de experimentar esfregar toalhitas auto-bronzeadoras nas ventinhas.

(Agora vocês perguntam: EEEEEEEE????)

E eu respondo: O meu medo era ficar tipo Donatella Versace, que parece que torrou no número 5 da torradeira, e ninguém carregou no stop quando começou a fumegar, ou então que ficasse malhada, ou com pele de casca de árvore, ou castanha...ou com sobrancelhas de Rottweiler, destacadas a castanho...

Passei an toalhita, que cheirava bem estava embebida com um líquido incolor, e................

.......Nada. Bom, nas instruções dizia uma hora, logo devia ser cedo. Arrumei um bocado o quarto, organizei uma papelada, li mais um bocado de uma revista que a claire me emprestou, chamada Real, cujo artigo principal se intitulava “Just 16, and having sex 3x a day with my grey haired wrinkley” (60) (Não estou a inventar, até vou tirar uma foto como comprovativo, é verídico!), e fui sempre espreitando o espelho.

A única mudança que notei foi que fiquei mais oleosa e brilhante que uma sardinha acabada de desenlatar.

Um fracasso. Uma desilusão. Acho que preferia o look de torrada queimada, pois nada é mais desiludinte o que tomar-se uma grande decisão, levar-se a cabo um acto de coragem, ignorando as consequencias perigosas, e não acontecer nada!

E eu que já estava a contar não poder sair de casa uma semana, nem ir à festa de erasmix, para a qual me tinha chegado um convite, via mail. Assim sempre fui. Era no Zero Degrees, um restaurante no city centre, e dizia pizza à borla. Pizza à borla soou-me bem, então deixei criar fome e lá fui, com a Catarina. Tal como o dia de S.Valentim, era uma estratégia de marketing, pois tratava-se de um restaurante com a sua própria fábrica de cerveja, e deixaram os estudantes duas horas à espera da pizza grátis, numa sala com um bar que vendia pints a £2.50...façam as contas.

Pois comigo enganaram-se! Para já, só comprei uma coca-cola, e depois informei-me junto de um veterano de erasmus, que já estava cá há mais tempo, um gordinho alemão, como funcionava a questão da paparoca. Descobri que da última vez tinham trazido umas 5 pizzas para 200 pessoas, e então fiquei à coca. Assim que vi um garçon com ar de pizza, jogei-me para cima dele, e dei-lhe uma dentada (treta, tou a brincar)assim que o vi, segui-o para uma conspícua porta perto de uma mesa, onde finalmente acabaram por surgir umas pizzas.

O truque é não ter vergonha, nem piedade, é usar os cotovelos, o sorriso inocente, os pés tamanho 40, o charme feminino e uma boa dose de engenho alentejano, dobrando duas fatias de pizza em forma de sandes, de cada vez, e atando-as com um bocado de arame. E depressa! Afinal, trata-se do instincto de sobrevivência, pulsão mais promordial e inerente a todo o ser humano. À pala disso, e de levar muitas fatias para as minhas amigas imaginárias, acho que com o menor investimento comi mais pizza que qualquer um naquela sala. (risinho demoníaco)

Quarta feira, dia 7

Almoço foi sopinha, no BISC, pois precisava de introduzir a Catarina ao sítio. Já começo a conhecer algumas caras, e a sooooopa...havia lá uma mesmo muito boa, de couve-flor, e bem que eu ia precisar de força pois ainda não tinha conseguido comprar a dita prenda para o meu amooooore...

Foi uma maratona, coitada da Elsa, ia morrendo, mas eu nem sabia o que queria...ela ainda por cima estava chateada pois sentou-se em cima dos óculos e agora uns novos custam umas 100 Libras...que bom, hã?

Finalmente arranjei uma coisa que acho que ele vai gostar, e fui para casa toda satisfeita fazer o empadão, do qual já falei há dias, mas que ainda não tinha feito até agora.

Também comprei uma prendinha de S.Valentim para mim mesma, uma colectânea de poemas de amor desde 1500 até 1920, capa dura, Shakespeare até Poe, passando por Byron, Shelley, Donne, Bunarotti e Dickinson, e ilustrado a cores detalhes de grandes pinturas, de Millais, Botticelli, Rubens, Klimt...muito lindo, e só 4 Libras, menos de duas cervejas!

Tive vontade de por aqui mais uns pontos de exclamação, mas o meu irmão contou-me que tinha visto um post num fórum que dizia: “A quantidade de pontuação do mesmo tipo seguida (pontos de exclamação, pontos de interrogação) está em proporção inversa para a inteligencia daquele que está a escrever”, e por baixo alguém que não tinha percebido, tinha escrito: “Hã?????????????????????????????????????????????”...

Desde então tenho mais cuidado.

Ah, mais uma coisa: Afinal sempre se nota o meu novo bronze quimico - A Elsa disse que à luz do dia parecia que tinha a cara suja. Boa.

A meterologia diz que há uma probabilidade de 70% de neve, esta noite.

Quinta-feira, dia 8

Hoje de manhã quando acodei estava a nevar, pouquinho, mas estava. Os floquinhos bailavam leves e brancos de um céu cinzento claro, e os pombos faziam marcazinhas em forma de garfo nas telhas da casa em frente à minha janela. Deviam ter as patinhas tão frias, coitadinhos...Acho que os patos têm anticongelante lá dentro, para impedir que gelem, dentro de água, no inverno, mas dos pombos não sei.

Até havia uns 10cms em cima dos tejadilhos dos carros, e eu já planeava actividades divertidas, mas até que eu chegasse à rua, estava a fazer sol, o que derreteu a neve, e depois começou a chover. Que chatice.

MAS: Conheci o Mr.Brown! Hoje fui lá outra vez, pois preciso de preencher uns formulários para enviar para Évora, o Learning Agreement corrigido, e uma espécie de certificado de presença, que me enviaram por mail há dois dias, e que tenho que enviar de volta nos cinco dias após a minha chegada cá, o que é uma anedota, só que não tem graça. Como é que é possível, quando fui lá no dia antes de ir embora, e perguntei, e não me disseram nada disso???

Cinco dias é físicamente impossível, se já estava cá há uma semana quando essa porcaria chegou, pronto, vai o mais depressa possível.

Acho que ainda vou fazer uma outra alteração ao meu leque de disciplinas, vou trocar um dos “englishs”, que são muito parecidos, e um deles tem um nível um bocado baixo, com espanhóis que não falam nada, por uma disciplina de literatura e música brasileira, que parece mais exigente. É pena não poder fazer mais, mas estão mesmo feitos embirrantes.

Agora ainda tenho que lavar o meu cabelinho, que fica oleoso num instante, aqui, e depois trago o meu cobertor para cá para baixo e estico-me no sofá.

Sou uma sortuda.

Saturday, 3 February 2007

Dias seguintes...

Terça-feira, dia 30...

Não ganhei nenhumas calorias...continuo a ser uma não fumadora...e uma pessoa anti-social que não bebe alcool...(isto só tem piada para quem leu o diário de Bridget Jones, que começa todos os dias com uma lista semelhante).

Levantei-me tarde, pois infelizmente já consegui trocar-me toda com as horas, à noite acho sempre que é muito cedo (anoitece depressa, logo parece mais tarde) e curiosamente de manhã também, embora aí não encontre explicação lógica...enfim, lá me consegui desembaraçar do abraço de Morfeu (só me lembro do Filipe, danado, a perguntar-me quem era “essa gajo”, uma vez que usei a expressão ao telefone com ele), ora bem, José Alberto Morfeu, é quem ele é, nada a ver com o deus do sono.

Desembaraçei-me dele, e atirei-me de cabeça para a tarefa hercúlea de encontrar the ominous Mr.Brown, supostamente meu tutor. A minha busca foi, no entanto, infrutífera, uma vez que a criatura continua doente, e nem o Professor Hawkins do departamento de francês me conseguiu adiantar muito.

Ao almoço comi o resto do esparguete do dia anterior, já consigo antever que isto da paparoca vai ser o meu maior problema. Eu já por natureza não tenho muita pachorra para comer, então agora que é tudo mais complicado, por causa das compras, da cozinha comum, da seca que é cozinhar para uma pessoa, estou a ver que desapareço...Às vezes é um bocado chato tentar cozinhar num sítio onde temos que lavar tudo duas vezes, pois a pessoa anterior deixou o arroz queimar e não sabe o que é um esfregão...e as facas são a maior desgraça, tenho que comprar umas.

É muito interessante ver o pessoal a comer, há vários rapazes de Ghana e da Zâmbia, que cozinham papas de farinha de milho com legumes estranhos e comem-nas com as mãos, ou os asiáticos que se recusam a comer comida europeia, fazem sempre massas cheias de especiarias fortíssimas...e depois eu, a enfiar massas re-aquecidas pela goela abaixo, que estão frias no centro, pois não as deixei no microondas tempo suficiente.

Definitivamente, se tivesse de escolher entre nunca mais ter de comer, ou nunca mais ter de dormir, nunca mais comia. É que é todos os dias o mesmo frete: ainda nem acabei de lavar a loiça, e já estou com fome outra vez, irra.

Fui até ao Zoo, mas não deu em nada, não tem vacancies, isto é vagas para estudantes que querem um part-time job, talvez a lojinha do Zoo tenha, mas para isso tento antes a sapataria, pois é três vezes mais perto.

Li mais um bocado do meu livro, que o pai do Fil me deu nos anos, chama-se “The memory keeper´s daughter”, de uma tal Kim Edwards, e é a história de uns gémeos separados à nascença, dos quais um tem Down Syndrome...Adormeci.

Quando acordei, toda abananada e pensava que já tinha acabado com o dia, a Elsa perguntou se não queria ir beber um “café” ao Students Union, que é a associação de estudantes com bar encorporado.

Fomos, e levamos também a Gina, que é uma rapariga indiana, minúscula (chega-me mais ao menos ao umbigo), que estuda direito e se chama assim porque os pais dela eram apreciadores da Gina Lolobriga (?)(parece-me mal escrito, mas quem escreve “percento” em vez de “porcento” é capaz de tudo).

Lá no Bar estava tudo cheio de estudantes e de pints, - pois estes últimos só custavam uma libra - , agregados à volta de mesas de snookers e matraquilhos, que têm um nome estranho em inglês, fuss-qualquercoisa...

Ficamos para lá um bocado, com mais algum pessoal do Hodgkin House, a Claire, que é inglesa, o Imran, que é do paquistão, o Sila do Taiwan, e mais uns cujos nomes não percebi, por causa do barulho.

Quarta-feira, dia 31, finalmente sei o que vou fazer ao longo do semestre: São três disciplinas, Advanced English, English for business purposes e Contemporary British Cinema, cada uma vale 10 ECTS, e não posso fazer mais que esses por semestre, nem que queira, não me deixam.

Parecia-me um bocado pouco, considerando que em Portugal teria seis cadeiras, mas o Prof disse que elas são bastante trabalhosas, e que não me devo queixar de falta de ocupação, uma vez que começem as aulas. Bem, verdade é que valem o triplo de créditos de qualquer cadeira em Évora.

O learning agreement é que é um disparate, já que depouis não pode ser nada como nós escolhemos, podia bem poupar-me o trabalho de o preencher e andar a azucrinar as pessoas com ele: Estudantes de erasmus não podem fazer nenhuma cadeira de literatura inglesa, excepto uma, e essa está a abarrotar, logo não consegui ficar nela. Que seja cinema, então. A outra opção seria francês para iniciados, mas isso talvez não faça muito sentido no âmbito do curso que estou a tirar.

Foi um tal Professor Hook, substituto do contínuamente engripado e misterioso Mr.Brown (que me mandou um mail a dizer que lá estaria hoje, o que não pude, infelizmente confirmar como verídico, visto que bati com o focinho na porta mais uma vez, e segui papelinhos tipo paddy-paper, até encontrar quem me ajudasse) que me convidou para um capuccino e me ajudou a chagar o miolo do Professor Hawkins do departamento de francês até obtermos resultados.

Almoçei no BISC, era dia de Sopa, paga-se dois pounds e pode se comer tanta sopa quanto se quiser....ao que eu cheguei, parece que ando na sopa dos pobres, e a tentar comer à borla...mas a sopa é boa, e conheci uma rapariga americana, de Oklahoma, a Paige, que era muito simpática, talvez vamos a Londres juntas.

Também recebi dois convites para festas, uma na quinta, outra na sexta, feitos por uma rapariga alemã, a Judith...festa no maior clube de Bristol, o Oceana’s, situado na Marina, e festa mexicana, o que rima com tequila...fiquei com vergonha de dizer que não, mas não me apetece nada ir, até porque tenho ouvido que as alemãs são rijas para a bebida, e como nessas situações sou sempre a última idiota sóbria que não se diverte, e a quem ainda vomitam para cima dos sapatos, acho que vou arranjar uma desculpa.

Ah, há que mencionar ainda que comi a sanduíche mais consistente da minha vida, ao jantar. Quem me conhece melhor sabe que eu sou muito pão-pão-queijo-queijo, literalmente, e odeio misturas, mas nesta sandes pus: Manteiga, Frango, Pepino, Queijo e ainda comi tomatinhos cock-tail à parte!!! Há que saber também que não gosto de tomate, é coisa que provo repetidamente e não consigo apreciar, mas estes eram fofinhos na sua pequenez.

Quinta-feira, dia 1 de Fevereiro,

Dia de pagar mais uma horrorrosa soma , que nem quero cambiar para euros, umas 260 libras, de renda...

Acordaram-me logo de manhã para limpar o quarto, coisa que eu, não tendo cá a minha Lena organizada, deixei cair em esquecimento, de modo a que me apanharam de surpresa. Fiquei dez minutos sentada a dormitar na borda da banheira, com o olhinho pegajoso meio fechado, até que o barulho do monstruoso aspirador cessasse, e eu pudesse voltar à pátria, Vila de lençóis, onde combatera soldados iraquianos com light-sabers durante toda a noite. Só eu e a minha funda de fiambre, com a qual atirava mortíferas azeitonas.

Fui às compras com a Elsa, precisava urgentemente de um adaptador novo, pois o que eu tinha aranjado pifou logo, o que talvez, - hipótese remota – se prenda com o facto de dizer “only for toothbrushes and razors” e eu ter ignorantemente ligado o meu lap-top a ele. Diz o Pedro que é uma questão de voltagem, preciso de 13 amperes, só tinha 1, rebentei o fusível...o que é que poderia ser mais óbvio??? Loooooooiras....

Descobri que afinal ainda precisava de mais coisas, entre outras de dois livros de bolso levezinhos, antes de começar a seriadade dos meus estudos, um do nosso estimado Stephen King, que aprecio como bom escritor que é, apesar de ter uma mente doente e perversa e as histórias serem horrorrosas (será por isso chamado estilo: terror??), e um de uma tal Patricia Cornwall, dessa só ouvi falar, escreveu um livro sobre o Jack the Ripper, e este também deve ser cheio de detalhes nojentos, anatómicos e cadaverosos, mas como a maior parte do pessoal vê uma novela, ou um mau filme, deixem-me a mim, que cresci sem Tv, ler um mau livro. Também tenho direito, né?

Ainda comprei dois posters, para decoração de interiores, um com as ilhas britanicas, para cultivo do conhecimento geográfico, (e porque estava reduzido para 99pence) e um dos....tremo ao dizê-lo....Led Zeppelin.

Não que eu conheça a banda, só sei chiar um refrão, steeeerway tuuuuuu heeeeevaaaaan, mas o meu brody é fã, e como eu tenho um grave ponto fraco no que diz repeito àquelas duas pragas adolescentes, malcriadas e malcheirosas, às quais chamo irmãos, não consegui comprar algo que eu quisesse. Fiquei a pensar que ele havia de gostar tanto deste...e deste...e deste...Agora falta o segundo brody, que gosta de 2-Pac e dos livros e filmes do Godfather (aí a culpa é minha, eu li e recomendei, quem me manda a mim), por isso ao terrível e mórbido Led Zeppelin juntar-se-á, em breve, um sombrio Marlon Brando, ou um rapper musculado que sabe tanto de gramática da língua inglesa como o Winnie the Pooh, ain’t it, homies?

Ainda um pouco mais tarde, eu irei para terapia psicológica devido aos efeitos negativos do ambiente sobre a minha já naturalmente psicótica cabeça.

Entretanto a Elsa mencionou que eram os anos da Ruth, uma rapariga muito querida que faz parte do pessoal do BISC, e aí estava a minha deixa para desculpa esfarrapada, anti-borguista: Épa, gostava muito, mas tenho outra festa...Glamoroso...nunca tinha dito isto antes.

Pouco liguei ao facto de não ter sido convidada formalmente, ela disse que quem quisesse podia aparecer, então comprei uma prenda fixe (almofada anti-stress, que custei a largar), e apareci. Vale tudo para escapar à noite britânica e às suas devoradoras de homens, que devem ser mortas vivas, pois com o frio que está na rua andam de top e mini-saia, sem collants, e de san-dá-li-as...aliás, nunca vi tantas mini-saias como aqui em Bristol, mas essas nocturnas tem um nome na lingua dos nativos, chmam-lhes “Slutsicles”, um neologismo formado a partir da aglutinação de “Slut” (cabra) e Popsicle (gelado de gelo).

A festa de aniversário surpreendeu-me pela positiva, lá fui, com o meu receio de ingleses bezanas que me moessem o miolo, mas tinha me esquecido que o BISC, como quase todas as instituições por aqui, incluindo o Hodgkin House, são geridas e apoiadas pela igreja, e então a menina dos anos e metade dos convidados do evento, que teve lugar num apartamento anexo à igreja, eram “Christians”, o que nas palavras da Becky, uma delas, equivale a “beliving in Jesus, I guess...”. E os Christians, pelo menos nessa noite, portaram-se muito bem. Havia uma garrafa de vinho, mas ninguem a abriu, e jogaram-se jogos de charada e tipo pictionary, eu gostei.

Sexta-feira

Ando a dormir que nem uma marmota, o que é um feito admirável, até para mim, pois o meu quarto fica directamente por cima do quarto do Calvin. O Calvin é uma personagem que escapa a todas as descrições, mas vou tentar: É um afro-americano do sul dos estados unidos, gigantesco, super-extrovertido, muito culto, tá a tirar um Phd em história da arte, com destaque para os pintores Pré Rafaelitas, é produtor de musicais e gay. É uma mistura explosiva que se manifesta em gestos hilariantes e cantorias matinais...hoje de manhã acordei a ouvir o seu sonante barítono numa interpretação de "Its a be-auuuuuuutiful day, a beauuuutiful moooooooooorniiiiing..."o que vale é que não canta mal, senão eu iria ter um problema, pois ele é muito sensível a críticas, mete sempre na cabeça que é por ser de cor ou por ser gay, mesmo quando não é nada disso. Mas pronto, suponho que é uma conjugação complicada de factores, neste nosso mundinho sacana. Apesar da preguiça, consegui fazer umas compras, enviar uns postais e até fazer uma sopa de galinha. Mas não é daquelas canjas alentejanas com limão e patas de galinha encarquilhadas lá dentro, é com cenouras, aipo, alho francês e o franguinho todo desfiado.

Também comprei ingredientes para um Shepards Pie, leia-se, empadão.

À noite tivemos uma discussão acesa na sala de convívio, até desligámos a televisão, sobre tópicos tão controversos quanto a pena de morte, o aborto, a religião e o senhor dos anéis, este último proposto por mim, numa tentativa de acalmar os ânimos... Imaginem o que é falar destes temas quando o grupo é composto por Islamicos bastante convictos, Hindus, pessoas confusas das Filipinas, agnósticos tugas, cristãos em dúvida e sei lá mais o quê...mas foi muito interessante. O Lukas da República Checa foi o mais calmo e calado, e a Elsa quase nos executou por não repudiarmos a cem porcento a pena de morte, note-se o paradoxo.

Mais giro foi o Imran a afirmar que o aborto era assassínio, e anti-natural, e que sexo deveria ser somente para fins reprodutores, ao que eu lhe perguntei se não deveria ser eu a decidir se quero e consigo criar um filho, e então porque é que certas partes da anatomia humana não vinham com uma etiqueta a dizer “for reproduction purposes only”.

Faz-me bem este tipo de discussões pois bem preciso de treinar uma exposição clara e calma de ideias...Muitas vezes as pessoas tornam-se tão brutas quando acham que tem razão. A mim acontece-me, mas acho que ontem tive bem.

Depois o Luigi, que como podem imaginar é italiano, leu, ou antes deixou o Imran ler um texto que ele escrevera sobre as mulheres...Acho que era suposto ser humorístico, mas não achei assim tanta piada. O próprio Luigi confessou que após o ter mostrado a uma rapariga da Estónia, que até gostava dele, esta tinha dito “F*ck you, chauvinist pig”, não voltando a olhar-lhe para a cara.

Era o típico aglomerado de clichés, desde irmos à casa de banho aos pares, até não sabermos conduzir, e ainda destacava a questão das loiras como seres perdidos no que toca ao uso do seu único neurónio...Se eu encontrar o link na net, mando-vos.

Encontrei: http://www.luigigobbi.com/

Enfim, quando chegou a vez de comentarmos eu disse que esperava que fosse uma brincadeira, que não concordava com 90% das coisas, e que se estivesse solteirinha e disponível ele acabaria de arruinar toda e qualquer hipótese remota de um relacionamento.

Depois eu e a Elsa abandonámos o debate para ir lavar a loiça, por mais caricato que pareça.

Acho que amanhã o pessoal vai todo à Disco, entrada livre até às 10horas, a partir daí 10£, o que quer dizer que devem ir para lá às cinco da tarde, nunca vi pessoas sairem tão cedo...

Primeiros dias em Bristol...

Dia um no país que não aderiu ao euro, onde tudo se paga em libras, onde está sempre a chover e ainda por cima rebentam com os metros ...nas palavras de um pessimista qualquer.

O voo voou bem, nada a dizer, até tivemos um steward, que agora se chamam assistentes de voo fardados, ou lá o raio que parta, que era tornou o discurso sobre desligar os aparelhos electrónicos numa espécie de comédia.

No aeroporto ficámos ao lado de um grupo de pessoas a falarem um alemão do qual eu não entendia palavra, e que o fil descobriu ser chinês. (acabou por ser sueco, para o gáudio dos falantes.

As tomadas inglesas têm três furinhos, e ninguém me disse, não consigo ligar nada à corrente, tenho que comprar um transformador ou apodreço aqui sem portátil para escrever o relatório, e peludinha que nem uma macaca, pois o epilómetro também é electrico.

A cozinha é gigantesca, com 198 fogões , 25 frigoríficos e uma montanha de cacifos onde podemos trancar os nossos víveres, à prova de roedores e estudantes esfomeados sem respeito pela propriedade alheia. No frigorífico é que há de ser um vê se te avias, mas já cuspi em todos os meus iogurtes e esfreguei as bananas pelo chão da cozinha, para ninguém lhes tocar.

O tempo está quente, 27graus à sombra, uma brisa fresca e um sol mediterrâneo...(em sonhos), na realidade está um cliché autentico, com céus cinzento chumbo, os chuviscos da praxe e algum frio. Mas tem aquecimento central, e como não pago mais por isso posso ligá-lo mo máximo dia e noite, também, pelo preço que pago, umas sonantes 300 LIBRAS por mês, até devia de poder fazer sauna aqui dentro.

Realmente a questão do frio é sobre-sobre-sobre-estimada, tenho muito mais frio em Portugal, aqui não sou obrigada a andar na rua, mas aí no país dos tugas já tenho feito frequencias a tiritar de frio, nas masmorras do cordovil.

Deixem lá o friozinho inglês...Não que queira ser daquelas pessoas irritantes, que acham sempre tudo melhor em casa do que no estrangeiro, mas é verdade.

Dia dois fomos comer pizza hut, com o Kenneth e a Viola, há que provar as especialidades tradicionais britanicas, mas não enquanto se está em low budget...

O Kenneth, tambem conhecido por Kunta Kanetas era o amiguinho de infância do Filipe ( o raio do homem até em Timbuktu deve conhecer alguém), e foi um reencontro recheado de histórias como “aquela vez que o Filipe caiu de cabeça de um telhado abaixo, após terem bombardeado um carro com balões de água, sem perceber que era um carro da polícia, etc...

Passeamos e conhecemos o floating harbour, que é basicamente um pedaço de rio que “fecharam”, por assim dizer, para evitar os efeitos baloiçantes e húmidos das marés de cerca de 15m, que por acaso são as segundas maiores do mundo, consoante o Kenneth.

Dia três, domingo 28 de Janeiro, ano Domine (e quem sabe da senhora também, há que haver emancipação):

Levantámos tarde, e suados, com aquecimento no máximo e a dois numa cama de 70cm, há que sofrer as consequências.

Fomos comer um pratinho de comida tailandesa num sítio chamado “Yummi Thai”, onde o menu à hora do almoço tem umas promoções de (hahahaha)£5.95, ou seja, uns 8euros por prato...+£2 (3€) por uma coca-cola na qual metade do volume é gelo. Não vale a pena comer fora neste país.

Perguntei – cuidadosa como sou – se era picante, disseram me “nooooo, not hot”, well, uma treta é que não era. Ia morrendo. Nunca mais. Já tinha comido tailandês em Berlim, mas não era assim.

Depois queriamos ir ao Jardim Zoológico, - onde por acaso hei-de ir à procura de um trabalhinho para ajudar a pagar a renda – mas após visitarmos a Clifton Suspension Bridge, uma torrezinha de miradouro com uma câmara obscura de mil oitocentos e trocó passo, e ainda uma grutinha claustrofóbica e provocadora de dores nas costas, já não havia tempo para isso.

Já agora fiquem sabendo que quando falo de Clifton isso é uma espécie de Bairro dentro de Bristol, e pelo que oiço, o mais “Posh”, em bom português, o mais “Bãããi”(bem). Claro que tenho que fingir que sabia disso e que essa foi a única razão pela qual escolhi a residência.

Na residência há uns 60quartos, com pessoal de 26 nacionalidades, muitos africanos e orientais, mas também um casal de lusitanos, o Pedro e a Elsa.

A Elsa até é amiga da Inês Castro, que esteve cá o ano passado em Erasmus, e calculem que tive que vir para Bristol para saber notícias de alguém que está na mesma universidade que eu.

Cada um com os seus problemas, eu queixo-me de ninharias como dos longos, longos e negros cabelos das raparigas indianas, que enfeitam os chuveiros e entopem os ralos...blheuk. Espero que isto não seja interpretado como um comentário racista, senão daqui nada acabo como aquela rapariga do big brother 7 inglês, que quase foi esfolada em praça pública por uma coisa do género, não sei se com razão ou não, pois não segui a coisa, mas foi uma escandaleira por aqui. Mas também, nunca vi tantas revistas sensacionalistas e de fofocas como aqui, só se vê é capas a ostentar frases tipo “She is a bi*ch, he is dumping her” ou “LUCY GOT BOOB JOB- mother confesses”. Weird. (that´s me again, from here on, not the tabloids any more)

Dia 4 é hoje, o dia em que fiquei sozinha, o meu menino voou para casinha, tem que trabalhar...vida de profe...

Ah, para começar, tenho uma queixa a fazer: os cliches bons são mentira.

A pontualidade britanica é um mito. O Fil tinha encomendado um taxi para as 7:00h, e eram 7:18 e nada...iamos morrendo, ele de stress e eu de frio, pois estava à porta de pijama. Finalmente após telefonarmos a reclamar, lá veio.

Quase nem tive tempo para sentir saudades, ainda. Fui direitinha ao european office, daí para o departamento de estudos hispanicos e portugueses, daí para o Language Centre, mas ainda não resolvi muita coisa pois as pessoas com quem eu preciso de falar estavam doentes ou de folga, mas voltarei lá amanhã.

Voltei para Hodgkin house, cozinhei Esparguete com molho de natas, cogumelos e fiambre, e às três e meia fui com o casal tuga e um rapaz do paquistão, cujo nome esqueci, mas que fala muito bem inglês, ao Bisc, o bristol international students community, onde se paga uma libra e se pode beber tanto chá com leite quanto se quiser, e comer quilos de bolinhos caseiros, brownies, scones, etc, uma delííííííícia, e isso é dizer muito, pois eu não sou nada virada para bolos.

O sítio é uma casinha pequena, muito acolhedora, e cheia de gente simpática e aberta, de todo o mundo, foi muito giro.