Bom, tendo já recebido várias reclamações acerca da demora de novidades aqui no blog, deixem-me dizer que eu não vivo só para vos entreter! Tenho cá o meu Filipe, e tudo o que tenho feito é passear, namorar, e comer peixe fumado, uma delícia que descobri no Sainsbury’s, e que tinha comido pela última vez na Alemanha, o verão passado, logo tinha saudades.
Terça-feira dia 20 de Fevereiro
Às cinco da manhã, vil hora, acordámos ao som de dois telemóveis, que substituem o bom velho despertador, mas que nem por isso tornam o cedo erguer numa tarefa mais fácil...Vamos a Londres!, pensou a melhor parte de mim, Cretina! Porque é que não marcaste os bilhetes no autocarro das nove??, resmungou a pior, e maior parte de mim.
Marquei os bilhetes mais matinais porque assim estaríamos in loco mais cedo, às nove e meia, de modo a que conseguiríamos aproveitar ao máximo as minhas primeiras excursões pela capital das capitais, da qual já tanto tinha lido, desde Charles Dickens, passando por Wordsworth, Dan Brown, Lord Byron....Que entusiasmo!
Após duas horas e meia de desconforto, a dormitar de pescoços torcidos num autocarro lá chegámos a Victioria Station, uma viagem que custou 14£ (ida e volta)por pessoa, o que não foi um bom preço, mas eu não sabia que era preciso marcar os bilhetes com antecedência...
A primeira coisa que fizemos foi arranjar passes para um passeio turístico chamado “The Big Bus Tour”, custa 20£ por pessoa, mas é válido por 48 horas, há estações por toda a cidade, os autocarros – uns doubledeckers cujo primeiro andar é decoberto – passam de 20 em 20 minutos, e pode-se subir e descer as vezes que se quiser. Com comentário audio ou ao vivo, e ainda vem com um passeio de barco e uns passeios a pé incluidos, o Beatles Walk, o Ghost Walk, e outro do qual me esqueci.
Arrancámos, passando Hyde Park e o Marble Arch, e a primeira paragem na qual saímos foi o famosíssimo Madame Tussaud’s, cuja cúpula verde foi a única coisa que apreciámos, pois ao ver o preço dos bilhetes, 25 POUNDS POR PESSOA deu nos a forretice, e não entrámos. Ex-libris uma ova, há um limite para tudo, e isso é sem dúvida a linha vermelha...fomos antes ver o Beatles Store, onde comprei um postal com a memorável passagem da passadeira de Abbey Road, que figura na capa do álbum de igual nome, e a qual pretendia re-encenar o mais cedo possível, como já tinha afirmado quando ainda estava em Évora.
Próxima paragem: Picadilly circus, (diga-se de passagem que circus não tem nada a ver com o circo dos palhaços, mas com a palavra “círculo”, isto é, espaço redondo, por assim dizer, praça.), onde tirámos fotos com uma escultura dos cavalos de Helios, e o monumento com um anjo que fica no centro da praça, espreitámos as ruas de Soho, bairro posh, equivalente talvez à Lapa, em Lisboa, e que deve o seu nome a um grito se caça medieval, supostamente, Soooo-Hooo, Sooo-Hooo...Aposto que há mais 500 explicações.
Aí tivemos que interromper o nosso passeio, para irmos até a casa do Tim, o amigo do Filipe em Londres, em casa do qual iamos passar a noite. Ele mora em Hern Hill, Monte das Hérnias, em bom português, um sítio um bocado periférico mas bonito, com ruas de casas todas iguais que mesmo assim tinham bastante charme, feitas de tijolos cor de barro, com telhados bicudos.
Voltámos para Trafalgar Square, com os seus quarto leões gigantescos a guardarem o Lord Nelson, de quem diz a má língua que só tinha um braço, pés enormes, e muito mau hálito, mas que ficou conhecido históricamente pela sua participação heróica nas batalhas napoleónicas, expecialmente na de Trafalgar, na qual perdeu a vida, sendo que as suas últimas palavras teriam sido: "Thank God I have done my duty."
Trepei com dificuldade para cima de um dos leões, polido por 167 anos de rabos a escorregarem por eles acima e por eles abaixo, e que tem a particularidade de ter patas de cão, em vez de patas felinas, já que o escultor que os criou nunca tinha visto um leão ao vivo, e disso ficam memoráveis fotografias.
O Filipe passou vários minutos a ajudar miúdos acompanhados de avozinhas gratas a subirem e a descerem, (só os miudos é que subiram, não as avozinhas, entenda-se) para depois passarmos pelo numero 10 Downingstreet, a residência oficial do nosso estimado Tony Blair, onde se podem ver e fotografar guardas de uniforme, a cavalo.
É um saltinho daí para o aglomerado de ícones Londrinos que abrange os “Houses of Parliament”, também conhecido por palácio de Westminster, uma obra arquitectónica impressionante, num estilo neo-gótico, inspirado no Westminster Abbey, e construído entre 1840 e 1888, seguindo os planos de um arquitecto chamado Charles Barry. As suas duas torres, o Big Ben, com o seu relógio de 13 toneladas e o Victoria Tower, no topo do qual o Union Jack é hasteado cada vez que há sessão parlamentar, estão inseparávelmente ligadas à sensação londrina para turistas. No outro lado da estrada, Westminster Abbey, o sítio onde desde 1066, todos os reis e rainhas de Inglaterra foram coroados, e onde muito boa gente está também enterrada, entre outros Charles Dickens, Rudyard Kipling e Geoffrey Chaucer...
Tirámos fotos em frente da estátua de Winston Churchill, (o primeiro-ministro, não o nosso cãozinho, esse ainda não tem estátua, e aliás, tem nos dado algum suor, mas tudo menos sangue e lágrimas), e seguimos no Big Bus até St.Pauls Cathedral e Tower Bridge, mas já era tarde demais para entrarmos, pois fecha tudo muito cedo, por volta das 17:00horas, assim que se adivinha um toque de crepúsculo.
Mas havia uma coisa para a qual nunca é tarde: as estações de comboio, ou mais concretamente, uma estação de comboio que povoa o meu imaginário há alguns anos: Kingscross, imortalizada pela J.K. Rowling nos livros do Harry Potter, que aproveito para recomendar a todos, se possível na versão original. A estação não só existe, como existe também a plataforma 9 ¾, de onde parte o Hogwarts Express, é uma tabuleta muito modesta, igual à das outras plataformas, nada de truques de marqueting à volta, mesmo só para quem sabe, mas tem a particularidade de ter um carrinho de bagagem enfiado para dentro da parede, até metade. Fartei-me de o empurrar, mas é claro que tinha que ser eu a ficar a meio da passagem mágica, sem conseguir avançar...Que trampa...a pensar no dinheiro que já tinha gastado em caldeirões e livros de magia... Ficou um certo sentimento de frustração, por não passar de uma muggle comum...só faltava passarem os Weasleys, e entrarem lá para dentro sem me ligarem nenhuma...Seria como descobrir que o Pai Natal não existe. Mas o que esperamos nós, num mundo em que o actor que faz de Harry Potter passou agora para os palcos londrinos com uma peça de teatro obscena, chamada “Equus”, que pelo que li tem partes de semi-pornografia Zoofila...Feio, muito feio. E a vergonha que as mães vão passar, que levarem as suas filhotas perdidamente apaixonadas pelo Harry a ver tal coisa, em vez de um feitiçeirozinho rechonchudo, de cachecol às riscas e coruja farfalhuda ao ombro, aparece-lhes uma criatura semi-adulta, de six-pack e quem sabe cheio de pêlos em locais menos recomendados, a simular orgasmos empoleirado num cavalo....Sinceramente, Daniel Radcliffe, eu sei que segues assíduamente este blog, li algures que estás a tentar escapulir-te do contrato para não teres que fazer os restantes filmes do Harry Potter, e garanto-te que tens a minha bênção para o fazeres. Vai em frente, rapaz, e tomara que tivesse sido a minha falta de consentimento que no-lo conservou tanto tempo. Au revoir!
Outra das maravilhas de Londres que não se podem perder, é passear por Chinatown, à noite. Parece que caímos em China, e ainda por cima calhou-nos a altura do ano-novo chinês, de modo a que estava tudo absolutamente crivado de lampiões vermelhos em saudação ao ano do Daniel Radcliffe, perdão, ano do porco. É restaurante chinês atrás de restaurante chinês, para não falar das lojinhas com vegetais e frutos que nunca vi na vida, e que se mos dessem nem saberia se os haveria de ralar, cozer, descascar, pôr de molho ou fritar inteiros...já alguém cozinhou raizes de nenúfar?? Estou aberta a sugestões.
Lá em Hodgkin House os chineses andavam que nem galinhas malucas a produzir Dumplings, uma espécie de híbrido entre um rissol e um torteloni gigante, cheio de coisas indefinidas cortadas em bocadinhos muito, muito pequeninos, e molhado em molho de soja. Essas coisinhas absolutamente invadiram os frigoríficos e congeladores, só na minha parte da prateleira estavam pelo menos uns 100.000, e tive que proceder a uma escavação cuidadosa para remover os meus rissóis verdadeiros sem desabamentos, e depois tive que explicar vinte vezes que não, não eram dumplings, e sim, fritavam-se em óleo, e não se coziam em água. Siiim, tenho a certeza!
Os nossos pés entraram em greve algures por volta das 10:30, e após um McDonaldszinho que caíu que nem pedras nos nossos estômagos vazios dormimos bem mas pouco em casa do Tim, numa cama enorme e fofa, que foi um contraste bem vindo à minha modesta caminha de estudante, na qual eu e o Filipe nos temos que virar em sincronia para conseguirmos dormir, e nem pensar na minha querida posição de feto...Escassas horas mais tarde às 7 da matina desejámos as boas vindas a mais um dia glorioso, rumo a Abbey Road, de foto em riste, toalhitas para limpar o pézinho após atravessar a passadeira descalça, e uma grande vontade de rastejar e beijar as pedrinhas da calçada. Contive-me, mas não me contive em colocar o Filipe no meio da estrada – por uma questão de realismo da perspectiva – parar o transito e atravessar repetidamente a passadeira em frente aos estúdios de Abbey Road. Para lá num passo comedido e solene, para lá aos pulinhos e à pressa, para ver se a foto tinha ficado boa. Um casal de brasileiros que nos observava, e que se fartava de rir, após elucidados acerca do porquê dos pés descalços numa madrugada fria em inglaterra, e convencidos através da presença da prova fotográfica - que mostra sem margem para dúvida um Sir Paul Mcartney descalcinho como eu, ou vice-versa, - discutiram o assunto, chegando à conclusão que ele, o rapaz, iria descalço também, enquanto ela preferia ser um dos calçados “eu quero ser o Jóhne Lénnone”, dizia ela no seu sotaque carioca.
Ficámos com umas fotos giras, de tanto eu quanto o Filipe a marcharmos o local histórico, que por acaso está 24 horas por dia na net, pois há uma web-cam que o filma. Só espero que não tenha dado para ver, em directo para o mundo inteiro, os meus dedos dos pés peludos e assimétricos, que vergonha!
A seguir veio um banho de cultura e história, que foi talvez aquilo que gostei mais de toda a minha visita a Londres...The Tower of London! Dói largar 12 a 15 libras à entrada, mas de qualquer modo já se está dormente, nesse aspecto, e vale muito a pena.
Tivemos direito a uma visita guiada por um Yeoman, mais conhecido como “beefeater”, trajado a rigor. Estes guardas existem no Tower desde o século XIV, e hoje ostentam no peito as iniciais E R e II, o que significa Elisabet Regina II, Queen Elisabeth the second. Existem cerca de 35 destes guardas, que com as suas famílias, formam o conjunto de 150 passoas que habitam permantentemente o Tower. O Tower, por acaso, não é nada uma torre, como eu pensava, é uma fortaleza imponente, acastelada, que abrange várias torres, e até casas, tudo rodeado de uma parede emorme e de uma vala que desde há uns anos para cá já não contém água, mas sim uma coisa típica deste país: chá. (mentira, é relva).
O nosso guia era excelente, muito teatral, e levou-nos numa viagem às mais sangrentas vielas da história do Tower, com os assassinatos dos jovens príncipes, filhos de Edward IV, com apenas 9 e 12 aninhos, o fim macabro de John Scott, cujas pretensões ao trono de Inglaterra o levaram a ser enforcado, estripado esquartejado, decapitado, voltando-se-lhe depois a coser a cabeça para ainda ser possível que fosse pintado um retrato, àcerca do qual a mãe do pobre diabo terá supostamente afiramado que não era muito “lifelike”...
Parece que um dos desportos favoritos dos Ingleses, antes de ser inventado o futebol, era cortar cabeças...quanta decapitação...não só em Tower Hill, na praça pública, como também para a clientela mais requintada, num recinto no interior da fortaleza, muito privado, só para a família mais próxima, um local chamado Scaffold Site, onde de resto deixaram a vida e a aorta várias senhoras bem conhecidas: duas mulheres do infame Henry VIII, Anne Boleyn e Catherine Howard, e também a infeliz e mui jovem (17 aninhos apenas) Lady Jane Grey, que foi apressadamente proclamada rainha após a morte do fragilzinho Edward VI, coisa que não agradou muito à sua prima católica Mary, futura Bloody Mary, que de imediato praticou um acto muito cristão sobre o delicado pescoço da donzela. Se tiverem oportunidade, não deixem de ver o quadro alusivo à ocasião, que se encontra na National Gallery, pintado por Paul Delaroche.
Foi muito impressionante andar sobre as mesmas pedras da calçada e entre as mesmas paredes que a rainha Elisabeth I, imaginá-la a entrar por Traitor’s Gate, numa manhã fria, com o nevoeiro a subir das águas lamacentas do Thames...
As joias da coroa é que não me disseram nada, muito pomposas e pesadonas...hummm...devo ser a excepção à regra “diamonds are a girl’s best friends”, se alguém me oferecesse um acho que ficaria muito desiludida...uma coisa tão pequena, quando com o dinheiro podia ter comprado tanta coisa fixe...
O nosso plano era ainda vermos a National Gallery e o Tate, mas tinhamos subestimado o tamanho da galeria nacional, que fica em Trafalgar Square, e sobreestimado a qualidade dos nossos pés, que a meio caminho entre Botticelli e Picasso se desfizeram em joanetes sangrentos, com nenhuma carne entre os metatarsos e o chão, e quando encolhiamos os dedos dos pés, doía...Deixámos o Tate para uma próxima visita, e fizemos antes o cruzeiro pelo rio, que estava incluido no preço do bilhete de autocarro, entre o London Eye, que é uma roda gigante e Tower Bridge, durante o qual pelo menos podiamos descansar as canetas e admirar a vista lindíssima de Londres ao anoitecer, com as luzes todas, e as pontes iluminadas, muito romantico, muito kitsch.
Também passámos pelo Globe Theatre de Shakespeare, que é uma réplica do original que foi destruido por um incêndio em 1613, mas obviamte estava fechado, deu só para tirar uma foto.
O nosso comboio era às 21:00horas, o que nos deu tempo para jantarmos em Chinatown, não sabiamos muito bem o que estavamos a pedir, eu recebi um prato enorme de massas com bocadinhos de carne, e o Filipe bolinhos de camarão com molho agridoce e arroz...
E assim acabou o meu primeiro, mas com certeza não último passeio a Londres, a acabar “Rose Madder”, do Stephen King, um banco à frente de um sujeito que telefonava á namorada de cinco em cinco minutos, só para saber como estava o joge de futebol...
4 comments:
Tamem quero ir a Londres!!! Mandas-me um postal aí de Inglaterra ao menos? :D
mas a sério, eu mando-te um mail com a morada :P
Falta A tate Modern, mesmo junto ao Globe. Têm de sair na estação de St Paul's Cathedral e aravessarem a Millenium bridge. É mandatory! Também é obrigatório ir a Camden ao fim de semana. Sei que vão amar. E só se esteve em Londres depois de ir a Camden. Deixem o MacDonalds em paz e passem a almoçar nos pubs que é bom e não é excessivamente caro. Adorei todas as descrições!
Estarei em Londres de 28 de Abril a 1 de Maio, pode ser que nos encontremos (na Tate, obviously!)
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