Sexta-feira, dia 9
Estou a planear uma viagem para Cardiff, com a Heike, uma rapariga alemã que conheci no BISC, e duas francesas, amigas dela, a Heidi e a Clotilde, que está em advanced english comigo– não sabia que ainda havia pessoas abaixo dos sessenta anos chamadas Clotilde, mas enquanto se vive, aprende-se...
Mas também posso ir com a Claire e os alunos de japonse que ela tutoriza, um bocado mais tarde, às 11...
Também tive a minha primeira aula de Contemporary British Cinema, acho que vou gostar muito desta disciplina. É com uma professora francesa, e iremos analisar vários filmes ingleses, tais como “Brassed off”, “Elisabeth”, “Trainspotting”, “Caravaggio” and “The wind that shook the barley”, e muitos outros dos quais nunca ouvi falar, de acordo com o contexto cultural, politico, e histórico, os simbolismos, a imagem da mulher e do homem ao longo do tempo, o English versus British, o fenómeno James Bond...pano para mangas.
Sábado, dia 10
Hoje o despertador tocou às 7:30 da manhã, pela primeira vez em muitos dias, e a minha mente começou de imediato a inventar desculpas que justificariam o facto de eu não me levantar. É absolutamente inacreditável, mas se dormi pouco até me conseguiria convencer de que não preciso de me levantar para ir buscar um prémio da lotaria, de um milhão de euros, porque saberá melhor eu própria ganhar o meu dinheiro, quando acabar de dormir...
Os homenzinhos dentro da minha cabeça afirmavam convictamente que Cardiff não era nada de especial, que seria perfeitamente suficiente se eu fosse só às 11horas, com a Claire, e que de resto, deveria era ficar a dormir a manhã inteira...
Gostaria de saber como é que eles sabem, pois que eu saiba, também nunca lá foram...homenzinhos estúpidos!
Levantei-me e segui o conselho estúpido de alguem que me disse que era preciso uma hora para chegar à estação de Bristol Temple Meads...Treta! Demorou 12 minutos, e tive que ficar uma hora sentada ao frio à espera das outras meninas. E havia de se pensar que haveria uma sala de espera quentinha, com revistas e uma máquina de água, mas nada! Nem sequer um banquinho de aço dentro da estação, fiquei sentada na rua!!! Aparentemente há salas de espera do lado de lá das cancelas, mas só se entra com bilhete, e eu estava à espera delas para comprar um bilhete de grupo...
Lá chegaram, e partimos para Cardiff, capital de Wales, capital dos dragões. A viagem demora cerca de 45 minutos, e ao longo dos carris via-se alguma neve, um bom bocado mais do que em Bristol, pelo menos. Não tinhamos um plano fixo, mas começamos pelo famoso Millennium Stadium, que a mim pessoalmente não me disse nada, talvez seja preciso gostar-se de rugby e ser-se Welsh...é uma coisa de betão, enorme...pouco mais há que dizer. Um bocado no estilo dos edifícios na zona do parque atlântico em Lisboa, não é o meu estilo.
Mais ao meu gosto foi o que visitamos a seguir, o bonito Cardiff Castle, rodeado de um parque lindo, e recheado de história.
As origens remotam à época em que os romanos dominavam esta zona, sendo que então era uma fortaleza estratégicamente situada, que foi depois desenvolvida para castelo por volta de 1091, pelos Normandos umas décadas após a batalha de Hastings, que, como sabemos, deixou a Inglaterra nas mãos deste povo descendente dos Vikings, e com William o Conquistador como rei.
Já a redecoração e expansão do castelo, danso-lhe o toque requintado que conserva até hoje, remonta ao princípio do século XIX, e ficam-se a dever a John Crichton-Stuart, segundo Marquês de Bute, um nobre escocês ruiquíssimo, ligado à exportação de carvão.
A decoração é muito variada, internacional, misturando elementos hebráicos, muçulmanos, cristãos e clássicos, alternando as opulentas salas arábicas, inspiradas em mesquitas, e carregadas de ouro, com austeras salas de jantar victoriano-góticas decoradas com poucos elementos de madeira esculpida e alguns anjos e jardins de inspiração greco-romana, sobre o céu aberto, no telhado.
No exterior, e à parte do resto do castelo, passamos um carvalho secular, que parecia saído directamente das florestas dos elfos, no senhor dos anéis, e visitámos ainda o pequeno “Norman keep”, uma mini-fortaleza que contrasat com o castelo pela sua simplicidade e nudez.
Na base desta, situa-se a Falconaria, que era algo que nunca faltaria a um castelo medieval. Primeiro não achei graça nenhuma, pois não sou a favor de ter animais selvagens em cativeiro, sem uma boa razão, mas as lindíssimas aves de rapina que pertenciam ao falcoeiro eram todas criadas em cativeiro, e treinadas para servirem de enxota-pombos ou gaivotas, um serviço necessário, e que talvez será conseguido da melhor maneira pelos inimigos naturais. Elas voam absolutamente livres, fazem o seu serviço, atacando gaivotas três vezes do seu tamanho, e voltam para o braço do dono, quando este lhes mostra um bocadinho de pinto, que conseguem ver de uma distância incrível.
A parte negativa é que, como em tudo, não há legilação suficiênte e qualquer bacoco irresponsável pode comprar uma destas aves.
Das que lá estavam, a mais impressionante era um Bufo enorme, só com dez meses, e um falcão peregrino que era da minha idade, e cujos netos estão agora a ser treinados!
Infelizmente por essa altura começou a chover, ainda comprámos uns souveniers , e depois pusemo-nos a salvo num pubzinho que servia baguettes variadas, e que era mais barato ainda do que fast food internacional tipo McDonalds ou Pizza Hut.
Mas porque é que eu não escolhi a baguette??? O demónio deve ter tomado conta de mim, pois cheguei à conclusão que deveria esperimentar comida regional, fish and chips, ou algo de renome... uma Pastie! Foi horrível. Maçuda, não sei se era suposto ser assim, mas parecia mal-cozida, acopanhada por umas ervilhas e batatas fritas. Dizia “deliciosos e tenros pedaços de vaca, num molho cremoso”, e era muito molho gosmento, com muito poucos pedaços de carne cheios de gordura e nervinhos horrorosos, que faziam “gnitch” e me davam ânsias. Nunca mais.
Seguimos para o City Hall, com o seu fantástico dragão em cima de uma cúpula, passámos a universidade, e procurámos abrigo na galeria nacional, onde a Heidi tentou, sem sucesso, secar as peúgas no secador de mãos na casa de banho...ela vinha com SABRINAS, e um chapéuzinho francês, muito Audrey hepburn, mas muito pouco prática considerando as poças Cardiffianas...A água chapinhava, dento dos sapatinhos.
A entrada no museu é gratuita, e aproveitamos para ver algums artefactos históricos de Wales, e também alguma arte europeia, tinham bastantes pinturas do impressionismo francês, e uma versão de bronze de “O beijo”, de Rodin.
O tempo passou num instante, e em menos de nada eram cinco horas, estava a escurecer e apanhámos o comboio para casinha, cansadas, húmidas, de cabelos encrespados, mas contentes e com uma impressão muito boa de Cardiff, a cidadezinha das placas bilingues...
De volta a Bristol, fiz umas compras rápidas, acartei-as para casa, pentei-me e engoli o último bocado de empadão quase em simultâneo e anda fiu ao cinema com a Catherine e o Imran. Íamos ver o Blood Diamond, mas acabámos por preferir o novo do Hugh Grant e da Drew Barrymore, chamado Music and Lyrics. Pensei que ia ser uma típica comédia romântica, mas acabei por gostar muito, tinha um humor bastante irónico em relação à indústria musical, e é sem dúvida um filme que nos faz sentir bem. As vezes não apetece drama, nem lágrimas, nem realismo...Nem todos os dias são dias de Braveheart ou Titanic...
Saímos de lá os três com um sorriso nos lábios e uma vontade breve (cerca de dois minutos) de casar com o Hugh Grant, (embora o Imran negasse tal inclinação veementemente), ou de sermos como a Drew Barrymore até caírmos em nós.
Adormeci a ler uma revista que comprei, mas que é muito digna, escolhi uma que não tem as palavras “boobs”, “yucki” ou “sex” na capa.
Domingo, dia 10
É bom dormir até tarde no meu quartinho quentinho...e ter uma caixa de bolo mármore ao lado da cama para pequeno-almoçar in loco.
Cozinhei qualquer coisa em ar de comida chinesa, com bocadinhos de perú, rebentos de soja e de bambu e massas, para mim e para a Claire, que não anda muito bem, já ontem lhe doía a cabeça, e hoje está pior. Tadinha.
De resto não tenho muitos planos para hoje.
3 comments:
Bem isto é que é começar a dominar a tecnologia: Um choque!!! New Look no blog, fotos... Por este andar qualquer dia ainda nos encontramos no moodle. Cheia de inveja uma vez mais, de não poder dar aulas sobre o Trainspotting ou qualquer livro do Irvine Welsh...
Luísa
Nos blogs não há títulos e pode-se tutear à vontade (a minha costela espanhola aprecia.) Be my guest, ok?
"Na base desta, situa-se a Falconaria..."
Não se escreve Falcoaria? É que Falconaria sôa-me a algo um bocado nasty (se calhar até tens bem escrito, a minha mente perversa é que está a distorcer a palavra..) xD
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